Já tive uma ligação maior com o futebol. Por que “já tive”? A resposta é simples: vi jogar a seleção de 70, dirigida por Zagalo, que ganhou o tricampeonato. Veja a escalação: Félix, Carlos Alberto, Brito, Piaza e Everaldo; Clodoaldo, Gérson e Rivelino; Jair, Pelé e Tostão. Também assisti à triste derrota em 82. Lá estavam Valdir Peres, Leandro, Oscar, Luisinho e Júnior; Cerezo, Falcão, Sócrates e Zico; Serginho e Éder, sob o comando de Telê Santana. Foram tempos diferentes!
Vi o Santos, de Mengálvio, Coutinho, Pelé e Pepe, dominar as Américas e o mundo; assisti aos triunfos do Flamengo, de Andrade, Adiílio e Zico, na Libertadores e Mundial Interclubes, mesmo feito realizado pelo São Paulo, de Raí, e pelo Grêmio de Renato Gaúcho; vi o Botafogo, de Manga, Gérgon, e Jairzinho; o Vasco da Gama, do grande Roberto Dinamite (meu xará, Carlos Roberto de Oliveira); o Fluminense, de Rivelino, Flávio, Samarone e Lula; o Cruzeiro, de Tostão, Evaldo e Dirceu Lopes; o Atlético Mineiro, de João Leite, Reinaldo e Éder, e por aí vai...
Naquela época os atletas que vestiam a camisa da seleção brasileira de futebol pensavam primeiro na vitória, na história esportiva do país, na glória de ser um campeão. Alguns ganharam muito dinheiro depois daquelas competições. Outros nem tanto. Mas jamais foram esquecidos, mesmo na derrota. Não vivo do passado. Muito ao contrário! Procuro me atualizar sempre, mas não dá pra não ter saudades daqueles tempos.
Há quatro anos no comando da seleção brasileira de futebol, Dunga caracterizou-se pelo radicalismo, pelo machismo, pela má educação, grosseria, mas, sobretudo, pela prepotência. Sempre foi o dono da verdade, aquele que nunca admitiu uma opinião, um palpite, uma sugestão, mesmo num país de 190 milhões de habitantes. Absurdo, simplesmente absurdo! E absurdo alimentado por alguns resultados alcançados por puro acaso, por boa dose de sorte, tanto que ele esteve para ser dispensado em diversas ocasiões (principalmente em 2008, quando foi salvo por uma goleada aplicada em Portugal, num amistoso realizado em Brasília).
Entre um tropeço e outro, mas um bom resultado aqui e acolá, ele foi se mantendo, e claro, ficando mais forte. Quando veio a classificação nas eliminatórias para a Copa do Mundo, competição de nível infinitamente mais baixo que o do Mundial que se aproximava, ele foi declarado “o cara” pelos homens da CBF, que são tão ou mais responsáveis que ele pelo naufrágio brasileiro. Esses mesmos homens (leia-se Ricardo Teixeira, um outro ditador) o escolheram, mesmo sabendo que ele nunca tinha sido técnico de nenhum clube, de nenhuma base, em lugar algum do país, e deveriam, agora, vir a público assumir o equívoco da escolha, e não tomar a covarde atitude de buscar um novo técnico para substituir Dunga, mesmo antes dele sair da África com a seleção brasileira. Um ato, repito, covarde, próprio de quem quer criar uma cortina de fumaça e escapar da crítica pública. Coisa de políticos! Atitude de gente pequena e imunda, mas que comanda a maior paixão do país e manobra uma fábula de dinheiro!
Não acho necessário discutir essa ou aquela convocação, até porque os resultados falam por si: uma vitória magra contra a inexpressiva e ridícula Coréia do Norte (última colocada no certame); um empate contra uma seleção portuguesa que não disse ao que veio (Cristiano Ronaldo não desembarcou na África); e duas vitórias, uma sobre a Costa do Marfim (com Drogba, seu principal jogador ferido) e outra sobre o Chile (um freguês de caderno), salvo melhor juízo, já são suficientes para demonstrar a incompetência de um time que quando se deparou com um adversário de qualidade um pouco melhor, a Holanda, caiu de forma vergonhosa e inexpressiva, até porque seu comandante, na margem do gramado, esmurrava tudo que encontrava ao seu alcance e vociferava palavrões, em total desequilíbrio, o que deve ter contagiado o tresloucado Felipe Melo, que agrediu um adversário caído no chão e foi expulso com justiça, inviabilizando qualquer possibilidade de reação. Aliás, em termos de dignidade, fico com Diego Maradona, que tentou de todas as formas reverter a tragédia do resultado contra a Alemanha, e mesmo sem sucesso, a tudo assistiu de forma íntegra, e ao final do jogo, foi a campo abraçar seus jogadores.
No Brasil vigora a máxima de que “não se mexe em time que está ganhando”, e o time de Dunga não nasceu para ganhar, não teve competência, criatividade, improvisação e equilíbrio para chegar ao ponto mais alto do pódio. A vitória da seleção brasileira daria continuidade ao que já começou errado. Por isso, repito, deixando de lado a tristeza e a condição de torcedor, foi uma derrota dolorida, mas necessária!
Sobre o Autor:
Carlos Roberto de Oliveira é advogado estabelecido em Nova Iguaçu - RJ. A criação do Dando Pitacos foi a forma encontrada para entreter e discutir assuntos de interesse geral. |
Roberto ,
ResponderExcluirseu texto diz tudo .
Um grande texto que merece ser lido por muita gente .
Um texto magnífico que expressa o sentimento de todos nós .
Parabéns !
abs
Francisco
Valeu, Francisco!
ResponderExcluirFico feliz por me ter conseguido me fazer entender. E pode estar certo, o que escrevi é uma realidade no Brasil. Você não pode alimentar o erro. É preciso cortar o mal pela raiz, e pelo menos no futebol, isso só é possível com uma repaginada geral. A vassoura devia passar, inclusive, pela CBF. O mal maior está lá dentro.
Mais uma vez, obrigado pela sua participação!
Um grande abraço...
Muito bom texto Bob, tristeza necessária e no fundo era o inconsciente coletivo que queria. Arrogancia nunca levou ninguém a lugar algum.
ResponderExcluirAbs
Certamente, Eduardo!
ResponderExcluirNinguém quer perder, principalmente numa competição como a Copa do Mundo, que não envolve apenas o clube do coração de cada um, mas a nação inteira, já que quem está em campo é a seleção brasileira. Mas há ocasiões em que a derrota se faz necessária. Ela precisa acontecer para que aprendamos a trilhar o caminho correto.
Foi o caso da nossa seleção. Como você disse, e muito bem, "arrogância nunca levou ninguém a lugar algum".
Um abração...
Roberto,não entendo nada de futebol,mas de garra,gana e humildade,para lutar pelos objetivos e triunfar,eu entendo, e acredito que o Brasil errou justamente por não ter garra e por não ter humildade,subestimando as demais seleções.A vida é uma roda, e tudo muda o tempo todo,acreditar que se iria chegar na final por simplesmente era aclamado como "o país do futebol",foi pura ingenuidade ou falta de humildade.E eu creio que seja a segunda opção.
ResponderExcluirBjos
Amigo ROBERTO:
ResponderExcluirO seu artigo fotografou uma realidade que vivenciamos de perto e a distância. Eu como não conheço a matéria e realmente pouco acompanho o dia a dia dos esportes, com sinceridade o que sei é através da imprensa que também, hoje para mim, não é uma referência sobre o assunto, salvo raras exceções. Acho que o Dunga, ao assim proceder, recebeu previamente o aval de seus dirigentes, até porque estava exercendo um cargo de confiança, lendo por essa variante os imperadores de tal fracasso encontram-se na cúpula da CBF, esses sim, são os verdadeiros responsáveis por tais fracassos e depois, todos eles conheciam e conhecem como ninguém o senhor Dunga.
Quanto ao mr. Maradona, foi um grande atleta, mas, hoje, para mim, não passa de uma figura folclórica.
Outrossim, faço questão de deixar registrado que a sua explanação representa o anseio, ou melhor, o que a maioria dos torcedores gostariam de dizer.
Parabéns por mais um excelente matéria!
Abraços,
LISON.
No caráter, na conduta, no estilo, em todas as coisas, a simplicidade é a suprema virtude.
ResponderExcluirHenry Wadsworth Longfellow
Abraços forte
Seu tiro foi na mosca, Lison!
ResponderExcluirOs dirigentes da CBF são tão responsáveis pelo fracasso da seleção brasileira como o Dunga. Eles não deram ao assunto a importância necessária. Não consideraram, por exemplo, que o Brasil é o único país que participou de todas as Copas do Mundo. Isso deveria ser respeitado, primeiramente por nós, brasileiros, mas não foi o que aconteceu.
Futebol no Brasil é coisa tão séria que acho que o técnico deveria ser escolhido pelo povo, até porque "a voz do povo é a voz de Deus".
Um grande abraço...
Essa foi uma parte do problema, minha querida Cecília!
ResponderExcluirAlgumas pessoas ligadas ao futebol e boa parte da mídia brasileira valoriza demais o nosso jogador, esquecendo-se, como você disse, que "tudo muda o tempo todo". Quem não tem o futebol no sangue como brasileiros e argentinos, por exemplo, tenta suprir essa deficiência com muita marcação, velocidade, força física e esquemas táticos. Achar que vamos triunfar sempre porque somos "o país do futebol", tenho que concordar com você mais uma vez, é "pura ingenuidade".
Você pode não entender muito de futebol, mas entende de vida!
Um abração...
Foi o que faltou à seleção, amigo Príncipe: simplicidade!
ResponderExcluirA humildade é que torna perigoso o adversário. Nunca tive medo do falastrão, mas o calado sempre me preocupou.
Os homens que dirigem o futebol brasileiro e boa parte da imprensa precisam entender que ninguém ganha jogo de véspera, e lá, na hora da onça beber água, são onze de cada lado buscando um objetivo único: a vitória!
Um abração...