O tema religião não é o meu preferido, principalmente porque grande parte da população se confunde na hora de discutir sobre ele, o que faz surgir atitudes pouco recomendáveis e até agressões. Mas o fato é notícia, e eu dele não vou fugir, até porque quem o trouxe a mim, a jovem Adiléa Bruno, conviveu com o problema e como todos de seu grupo, sentiu-se agredida e ultrajada pela atitude criminosa que vocês vão ver adiante.
No último domingo (19/09), católicos, judeus, muçulmanos, umbandistas, índios, ciganos, candomblecistas e evangélicos se reuniram, entre fiéis de outras religiões, na orla de Copacabana, na Zona Sul do Rio de Janeiro – RJ, para a III Caminhada em Defesa da Liberdade Religiosa, iniciativa que objetiva combater a intolerância entre as diversas crenças. Milhares de pessoas se concentraram no Posto 6 desde cedo, e por volta das 14:00 horas saíram em marcha na direção ao Leme.
Segundo os idealizadores da caminhada, um dos objetivos do movimento é por em prática o Plano Nacional de Combate à Intolerância Religiosa, que foi entregue à Presidência da República em 2008. Acreditam eles que é preciso investir na educação, pois o preconceito começa já na infância. Uma outra meta é a aplicação da Lei 10.639/2003, que alterou a Lei de Diretrizes e Bases da Educação, tornando obrigatório o ensino de história e cultura da África e das populações negras brasileiras nas escolas do país.
O evento é organizado pela Comissão de Combate à Intolerância Religiosa - CCIR, que desde 2008 promove a caminhada, após uma série de casos de preconceito contra a religião. De acordo com a organização do movimento, em setembro de 2008, 20 mil pessoas participaram da marcha. Em 2009, o público foi de 80 mil pessoas. Autoridades representantes de dezenas de religiões se reuniram para declarar o apoio à diversidade de credos.
A religião no Brasil é muito diversificada e inclina-se ao sincretismo. A Constituição prevê a liberdade de religião e a Igreja e o Estado estão oficialmente separados, sendo o Brasil um Estado oficialmente laico. A legislação proíbe qualquer tipo de intolerância religiosa, no entanto, a Igreja Católica goza de um estatuto privilegiado e, ocasionalmente, recebe tratamento preferencial.
O Brasil é um país religiosamente diverso, com a tendência de mobilidade entre as religiões. A população brasileira é majoritariamente cristã (89%), sendo sua maior parte católica (70%). Herança da colonização portuguesa, o catolicismo foi a religião oficial do Estado até a Constituição Republicana de 1891, que instituiu o Estado laico. No entanto, existem muitas outras denominações religiosas no Brasil. Algumas dessas igrejas são: protestantes, pentecostais, episcopais, metodistas, luteranas e batistas. Há mais de um milhão e meio de espíritas ou kardescistas que seguem a doutrina de Allan Kardec. Existem também seguidores da Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias, uma minoria de judeus, muçulmanos, budistas e seguidores do Candomblé, da Umbanda e os neopagãos da religião Wicca. Cerca de 7,4% da população (cerca de 12,5 milhões de pessoas) declarou-se sem religião no último censo, podendo ser agnósticos, ateus ou deístas.
Nas últimas décadas, tem havido um grande aumento de igrejas neopentecostais, o que diminuiu o número de membros tanto da Igreja Católica quanto das religiões afro-brasileiras. Cerca de noventa por cento dos brasileiros declararam algum tipo de afiliação religiosa no último censo realizado.
E foi exatamente no meio de uma manifestação com todo esse colorido religioso e onde o objetivo principal era o repúdio à intolerância às diversas modalidades de fé, que algumas pessoas se infiltraram para distribuir o panfleto que você vê abaixo.
Atitudes como essa ou até piores, não são novidades no Rio de Janeiro - RJ, como noticia o blog Fonte Estudo Religioso. Essa postagem data de 24 de agosto de 2008:
"A liberdade religiosa e o direito de seguir qualquer credo assegurados pela Constituição não saíram do papel para a professora de Sociologia e Geografia Márcia Alves Ramos, 55 anos. Ela vai deixar o prédio onde mora com o filho, no Humaitá, para se livrar das ameaças que a vizinhança lhe dirige. É a quarta vez que Márcia, filha-de-santo da Casa de Candomblé Yaô Oxum Femi do Idacilê Odé, se vê obrigada a fugir em nome de sua crença. Mas a mesma fé inabalável acredita na justiça dos homens para pôr um freio na intransigência e punir agressores.
Márcia é um exemplo do assustador crescimento da intolerância religiosa no Rio, que muitas vezes vira caso de polícia e choca a população, como o depredamento de um centro espírita no Catete por jovens evangélicos em fúria, no início de junho".
"A liberdade religiosa e o direito de seguir qualquer credo assegurados pela Constituição não saíram do papel para a professora de Sociologia e Geografia Márcia Alves Ramos, 55 anos. Ela vai deixar o prédio onde mora com o filho, no Humaitá, para se livrar das ameaças que a vizinhança lhe dirige. É a quarta vez que Márcia, filha-de-santo da Casa de Candomblé Yaô Oxum Femi do Idacilê Odé, se vê obrigada a fugir em nome de sua crença. Mas a mesma fé inabalável acredita na justiça dos homens para pôr um freio na intransigência e punir agressores.
Márcia é um exemplo do assustador crescimento da intolerância religiosa no Rio, que muitas vezes vira caso de polícia e choca a população, como o depredamento de um centro espírita no Catete por jovens evangélicos em fúria, no início de junho".
Como se pode ver, a luta pela liberdade religiosa vai ser árdua, e apesar das afirmações de que o Brasil é território laico, ainda há muita discriminação e um verdadeiro ódio por certas religiões ou crenças. E o mais grave: os fanáticos e covardes adeptos destes grupos agem sob o manto do anonimato, buscando inviabilizar o tão necessário diálogo que a sociedade, há séculos, busca estabelecer em torno do assunto.
Ninguém desconhece os casos de rituais de magia negra onde, segundo se tem notícia, podem ocorrer sacrifícios de pessoas. Seria um crime praticado por adeptos da Umbanda. Todos nós temos tomado conhecimento também das práticas de pedofilia envolvendo padres e fiéis da Igreja Católica, o que já foi objeto até mesmo de pedidos de desculpas públicas por parte do Papa Bento XVI, além de processos e mais processos judiciais em todas as partes do mundo. Estes crimes estariam sendo praticados pelos católicos. De igual forma, cansamos de assistir aos desmandos e desvios de conduta de pastores e bispos das diversas Igrejas Evangélicas, sobretudo no que se refere à apropriação de dinheiro dos fiéis. Esse tipo de crime vem sendo creditado aos evangélicos.
Em todos os segmentos da sociedade, sejam eles religiosos ou não, há pessoas bem e mal intencionadas, honestas e desonestas, decentes e indecentes, criminosas ou não criminosas. E por quê? Por que o contingente social é formado de seres humanos, falíveis, como bem sabemos.
Logo, o telefone 2253-1177, do Disque-Denúncia do Rio de Janeiro – RJ, e os telefones dos órgãos similares em todo o território nacional, devem ser guardados sim, e com muito carinho, por todos os cidadãos de bem, e utilizados para denunciar os crimes porventura praticados tanto pelos umbandistas ou candomblecistas, como por católicos, evangélicos, hindus, judeus, muçulmanos, budistas, agnósticos, ateus e deístas. Todo criminoso, independentemente da religião escolhida, é igual perante a lei! E diante da lei, o autor do panfleto mostrado acima é um criminoso como qualquer outro! O lugar deles é na cadeia!
“As religiões são caminhos diferentes convergindo para o mesmo ponto. Que importância faz se seguimos por caminhos diferentes, desde que alcancemos o mesmo objetivo?”
Mahatma Gandhi
Carlos Roberto de Oliveira é advogado estabelecido em Nova Iguaçu - RJ. A criação do Dando Pitacos foi a forma encontrada para entreter e discutir assuntos de interesse geral. |
Prepare-se para diversos tipo de reações aqui também.
ResponderExcluirQuando houver respeito ao próximo, independente de qualquer raça ou religião, as coisas irão melhorar.
A frase de Gandhi que deixastes ao fim do artigo é perfeita. Alias, como muitas outras ditas pelo próprio.
Com certeza, Helder!
ResponderExcluirReação é o que não vai faltar. Mas tudo isso seria desnecessário se como você diz houvesse "respeito ao próximo, independente de qualquer raça ou religião". Esse é o ponto!
Ghandhi foi um exemplo de paz para o mundo!
Um grande abraço, amigo...
Bob:
ResponderExcluirComo sempre, você sendo um paladino da justiça. Meus parabéns.
Claro que as boas cabeças pensantes têm que divulgar essas barbaridades que acontecem, mas sou bem pessimista quanto a uma solução do problema.Enquanto houverem religiões, haverá conflito. É duro, mas é fato.
O dia em que a grande maioria da humanidade tiver saído da ignorância em que vive, nesse dia muitas das religiões já terão sido extintas.
Acho que nunca ninguém fez um cálculo, mesmo que aproximado, das mortes em guerras por causas religiosas em comparação com as guerras por motivos econômicos. Seria interessante, não?
Agora, eu não responsabilizo os "rebanhos", mesmo que fanáticos.Os responsáveis são os líderes que ensinam aos seus fiéis serem preconceituosos, fanáticos e principalmente permanecerem ignorantes.
É uma pena, mas cada um escolhe o seu caminho ...
Eu faço a minha pequena parte compartilhando meus conhecimentos para expandir consciências. O resto é com cada um.
Oh, my God, fiat lux. rsrsrs
um abração
Atena
É verdade, Atena!
ResponderExcluirEssa luta existe desde que o mundo é mundo, e enquanto os "líderes" continuarem pregando o confronto, não chegaremos a nenhum lugar.
É o que acontece, por exemplo, entre Israel e a Palestina. Quando se resolve tentar a paz, alguém joga uma bomba em algum lugar, e tudo recomeça.
Mas eu acredito que o ser humano, um dia, vai entender como é estúpida essa competição de egos, de doutrinas, de idéias, até porque, digam o que disserem, o "Senhor" de todas as religiões é um só!
Por enquanto, faço minhas as suas palavras: "Oh, my God, fiat lux".
Um grande abraço...
Olá Carlos,
ResponderExcluirLouvo este teu artigo, já que fui várias vezes atacado no blog do cele com comentário da mais irracional intolerância...
Abraço e parabéns!!
Geraldo
O ser humano precisa aprender a respeitar as escolhas e fé alheia. Nenhuma religião é a verdadeira, todas são. Abraços.
ResponderExcluirValeu, Guilherme!
ResponderExcluirEsse seria o começo de tudo: aprender a respeitar as opções religiosas alheias!
Deus não é propriedade de ninguém!
Um abração...
Valeu, Geraldo!
ResponderExcluirMinha intenção ao publicar o post foi exatamente essa: discutir o absurdo da discriminação e agressões que as pessoas sofrem em razão de suas opções religiosas, atitude que não se justifica num país como o Brasil, que é um estado laico.
Um abração...
Meu amigo.... para mim existem apenas pessoas e o que me vale é sua conduta pessoal... religião pra mim vem so depois disto!
ResponderExcluirComo bem disse no texto, as religiões foram criadas pelos homens, que são falíveis e possuem vícios.... Religião não faz o caráter, mas sim o caráter faz a religião!
Beijo no coração
Eu, pessoalmente acho que só deveria existir duas religiões: a que acredita em Deus e a que não acredita. Não existe a religião do mal e a do bem(Quem somos nós para dizer qual é), eu sou católico mas sei dos pecados por alguns cometidos, estudo no colégio Adventista e muito dos meus pensametos mudaram, mas as vezes me vejo com vergonha de falar a algum deles que sou católico e não Adventista por muitos deles terem ódio dos católicos e acharem que são os santos(Sendo que muitos deles vivem blasfemando e pecando). Na Bíblia diz que todos nós somos pecadores, quem somos nós para dizer que não? Assim como eu sou católico, tenho amigos batistas, amigos adventistas e até alguns amigos candomblecistas e convivo com eles pacificamente embora alguns tenham um certo preconceito.
ResponderExcluirValéria:
ResponderExcluirMeu pensamento não é muito diferente do seu. Não acho que o homem tenha que ser guiado por uma religião, mas por atitudes corretas. Acredito em Deus, sem a necessidade de crer ou freqüentar nenhuma igreja construída e dirigida pelos homens.
O meu objetivo na postagem foi a defesa da liberdade que cada um deve ter no momento de escolher a sua religião, a sua crença. Na minha visão, o que aceito discutir, é claro, ninguém pode dizer a outrem qual o caminho a ser seguido. Essa opção cabe a cada um! É personalíssima!
Mas repito: concordo com você! Mais importante que ser adepto de uma religião é agir correto, ter caráter, respeitar o próximo, ser leal, fazer o bem. É isso, no meu entender, que me aproxima do Deus em que acredito, e que na minha opinião, não está dentro de nenhuma igreja dirigida pelo homem comum, mas no meu coração, no meu ser!
Um grande abraço e obrigado pela sua participação...
Mas o grande lance é esse, Victor: saber aceitar e conviver com as diferenças. Mesmo temendo ser discriminado por ser católico, você não discrimina o adventista. Parabéns!
ResponderExcluirÉ isso que me dispus a discutir aqui: a possibilidade de convivência pacífica entre as religiões. Você respeita a minha e eu respeito a sua, e fim de papo! Simples, não?
Um grande abraço...
Parabéns Roberto pelo texto muito esclarecedor na questão religiosa. Realmente somos livres para nos tornar-mos o que queremos,concordo com você, agir com lealdade dignidade e caráter respeito é fazer o bem ao próximo. Infelizmente o que tem prevalecido é a vontade de alguns, o resto que se dane! Mas não é assim, temos que respeitar o outro como eu gostaria de ser respeitado.
ResponderExcluirRepito pra você, Ediléia, o que disse ao Victor logo aí acima: o importante é saber conviver com as diferenças, respeitar o ponto de vista dos outros, tanto quanto queremos que respeitem o nosso. Se todos pensassem como você, não tenho dúvidas, a convivência entre os povos seria mais fácil.
ResponderExcluirUm abração...
Bom, a temática religiosa é um dos meus assuntos preferidos e certamente é um horror o que tem sido feito em nome do amor a Deus. Quando publiquei em meu blogue sobre intolerância religiosa me antendo à homossexualidade, mantive-me no patamar de que a livre vontade de escolher é dada e de direito a cada um. É difícil eu perder a calma, mas quando da publicação daquele texto, fui profundamente criticada por ter opinião diferente dos demais. Talvez, a única a pensar do meu jeito em meu meio de formação. No momento de perda de paciência, eu proferi que não havia diferença entre céu e inferno, pois viver num céu onde as pessoas não se toleram, ter inferno para quê?
ResponderExcluirNaquela época eu me dediqui muito a estudar a biografia de Mary Griffth, que era uma radical religiosa, e ao descobrir que o filho era homossexual tenta a todo custo, pela culpa, impedir que ele fosse para o "inferno". O filho dela se suicida e depois de perceber o tamanho de sua perda, descobre que uma fé cega é tão peniciosa quanto não acreditar em nada e ninguém.
Então, ela diz em defesa das minorias, em especial, aos homossexuais, como tinha sido seu filho. Ela diz: "Há crianças sentadas em vossas congregações. Desconhecidos de vós, elas estarão a escutar, enquanto vocês ecoam ‘Amém’. E isso depressa silenciará as suas orações. As suas orações a Deus por compreensão, e aceitação e pelo vosso amor. Mas o vosso ódio, e medo, e ignorância do desconhecido, irão silenciar essas orações. Por isso, antes de ecoarem ‘Amém’, na vossa casa, e local de adoração. Pensem! Pensem e lembrem-se: uma criança está a ouvir."
Isto foi chocante e me inspirou a escrever e me posicionar contra a violação das pessoas terem suas prórias escolhas, terem seu spróprios desígnios, própria maneira de pensar. Parabéns. Beijos, B.B.
Amiga Bridgit:
ResponderExcluirEu também acho que se os seres humanos que buscam o "céu" não conseguem se tolerar uns aos outros em suas diferenças, o "inferno" não precisava ter sido criado. Já o estamos vivendo!
A história de Mary Griffith, que fanatizada pelas regras religiosas, não conseguiu enxergar e entender a homossexualidade do filho, acabou se transformando em um filme, que recebeu o título de "Orações para Bobby". Ele chegou a ser indicado ao Emmy da televisão americana. O drama de Bobby Griffith é retratado na história, que mostra como a intolerância religiosa da própria mãe e de toda a comunidade onde ele vivia, o levaram ao suicídio. O filme é estrelado por Ryan Kelley, como Bobby Griffith, e Sigourney Weaver, como sua mãe, Mary.
O relato impressiona, principalmente quando ela, depois de perder o filho, acorda para a realidade, e transformada em uma defensora dos direitos dos homossexuais, tenta alertar as pessoas para os erros até então cometidos contra as minorias "diferentes".
A questão discutida na postagem, e por isso entendi perfeitamente o seu comentário, não é muito diferente da história de Mary e Bobby Griffith.
Em pleno século XXI, por incrível que isso possa parecer, ainda existem pessoas que se sentem senhoras do destino alheio, e por isso pensam ter o direito de criticar e tentar impor ao seu semelhante a religião, os dogmas e o caminho que escolheram, o que é absurdo.
Por essa razão, e por achar que cada um deve decidir seu destino, seu caminho, sua vida, é que me coloco ao seu lado e lhe peço licença pra usar aqui a frase do seu comentário, que endereço exatamente aos “senhores do destino alheio”:
"Há crianças sentadas em vossas congregações. Desconhecidos de vós, elas estarão a escutar, enquanto vocês ecoam "Amém". E isso depressa silenciará as suas orações. As suas orações a Deus por compreensão, e aceitação e pelo vosso amor. Mas o vosso ódio, e medo, e ignorância do desconhecido, irão silenciar essas orações. Por isso, antes de ecoarem "Amém", na vossa casa, e local de adoração. Pensem! Pensem e lembrem-se: uma criança está a ouvir".
Obrigado, Bridgit! Você só fez enriquecer a nossa postagem!
Um grande beijo...