09 março 2012

"Gallo" racista

Você deve estar estranhando a grafia utilizada na confecção do título desta postagem, e até achar que cometi um erro gramatical ou de digitação, o que não aconteceu. O "Gallo" do título não é o macho da galinha, de crista vermelha e rabo com longas penas. Ele faz referência, sim, ao "Azeite Gallo", e a questão do racismo você é quem vai dizer se aconteceu ou não lendo o restante da postagem.

Após denúncia de preconceito racial, o Conselho Nacional de Autorregulamentação Publicitária - Conar recomendou a alteração de um anúncio publicitário em mídia impressa do "Azeite Gallo" onde se lê: “Nosso azeite é rico. O vidro escuro é o segurança”.

Segundo informou o Conar, na interpretação do denunciante a frase associa, de modo preconceituoso, seguranças a negros. A reclamação foi feita em novembro de 2011 por um consumidor.

Segundo a nota emitida pelo Conar, "os conselheiros seguiram o voto do relator, que considerou não haver no anúncio intenção racista mas ponderou que ele permite tal interpretação e que a comunicação não deve dar margem a associações equivocadas, pela responsabilidade social que tem". O conselho, por maioria de votos, sugeriu que o anúncio seja alterado para afastar qualquer possibilidade de interpretação discriminatória. Não sei quem foi pior: se o denunciante ou o Conar!

Quem acompanha o Dando Pitacos sabe de sua posição em relação a qualquer ato de discriminação racial ou religiosa, mas algumas formas de protesto, ao menos na minha opinião, chegam muito perto do ridículo. Senão, vejamos:

Digamos que eu escreva ou diga que "o meu carro é lindo, e o vidro escuro é o segurança" ou que "a cortina da minha sala foi caríssima, mas não me agrada porque é preta": estarei sendo racista?

A propaganda, qualquer um percebe, destaca o "vidro escuro" simplesmente para demonstrar que essa qualidade, a cor escura, "protege o azeite dos efeitos oxidantes da luz", preservando sua qualidade e sabor até que ele chegue à mesa do consumidor. Onde está a associação preconceituosa entre "seguranças" e "negros"? Aliás, por que tanto preconceito contra os "seguranças"?


O denunciante, ao invés de se preocupar com o "vidro escuro" do "Azeite Gallo", deveria ajudar a combater, por exemplo, a violência a que são submetidos milhares de negros presos injustamente por esse Brasil afora. Por que ele não se juntou às "Mães de Acari" na luta pela punição dos assassinos de seus filhos, negros e pobres, cujo processo criminal prescreveu no ano de 2010, como mostramos aqui em "Retrato da impunidade"?

Tudo bem que a internet e a manifestação do pensamento são livres, mas acho que tem muito desocupado por aí à busca dos seus 15 segundos de glória. E você, o que pensa?


Fonte: G1



Sobre o Autor:
Carlos Roberto Carlos Roberto de Oliveira é advogado estabelecido em Nova Iguaçu - RJ. A criação do Dando Pitacos foi a forma encontrada para entreter e discutir assuntos de interesse geral.

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