28 janeiro 2011

Pérola Negra

Há 10 anos atrás, a internet tinha 250 milhões de seguidores. Hoje são dois bilhões! Por isso, nem é preciso dizer que nela a gente encontra de tudo, desde as maiores bobagens até obras e pessoas muito interessantes.

Milhares de mensagens cruzam esse espaço virtual sem identificação. Muita gente tenta dar o seu recado. A maioria passa batida, mas alguns conseguem despertar a atenção de muitos que viajam pela grande rede. Foi o que aconteceu comigo. Há quase um ano publiquei um texto que encontrei na internet sob o título Meu Nome é Mulher, e anotei ao final da postagem que o autor, apesar de "desconhecido", era um "verdadeiro sábio".

Esta semana, pra minha surpresa, fiquei sabendo que ele, o autor do texto, não é um "sábio", mas uma "sábia"! Isso mesmo! Descobri que o poema foi escrito por Fátima Aparecida Santos de Souza, ou simplesmente Pérola Negra, como ela também se identifica, não sem razão, já que é uma linda mulher.

Ela deixou um comentário na postagem que publiquei, e esclareceu que é uma policial militar em Mauá - SP. Disse, ainda, que luta pelo reconhecimento do seu trabalho desde 2004. Como sempre gostei de confusão, principalmente do lado mais fraco, resolvi republicar o poema escrito por ela, além de disponibilizar sua foto, numa tentativa de ajudar no reconhecimento e divulgação do seu trabalho. Leia o poema com atenção:


No princípio eu era Eva
Nascida para a felicidade de Adão
E meu paraíso tornou-se trevas
Porque ousei libertação!

Mais tarde fui Maria
Meu pecado remiria
Dando à luz Aquele
Que traria a salvação!
Mas isso não bastaria
Para eu encontrar perdão!

Passei a ser Amélia
“A mulher de verdade”
Para a sociedade!
Não tinha a menor vaidade
Mas sonhava com igualdade!

Muito tempo depois decidi:
“Não dá mais!
Quero minha dignidade,
Tenho meus ideais!”
Mas o preconceito atroz
Meus 129 nomes queimou
Então o mundo acordou
Diante da chama lilás!

Hoje não sou só esposa ou filha;
Sou pai, mãe, arrimo de família;
Sou ourives, taxista, piloto de avião,
Policial feminina, operária em construção!
Ao mundo peço licença
Para atuar onde quiser!
Meu sobrenome é Competência
O meu nome é Mulher!


Pérola Negra veste farda e escreve poemas. Ela é uma mulher como milhares de outras, que todos os dias deixam seus lares para buscar o sustento e sobrevivência de seus filhos, de suas famílias, numa luta sem tréguas e rigorosamente igual à de qualquer homem. Por isso, sempre me bati contra a idéia de que a mulher é um ser inferior, submetido à vontade do homem. Como tantas outras "pérolas" negras ou brancas, Fátima é alguém que luta pelo seu espaço, pela sua cidadania, pela sua integridade, só que com uma grande diferença em relação aos homens: ela escreve poemas!  

Pra quem quiser conferir, Pérola Negra publicou o poema Meu Nome é Mulher nos nos portais Plena Mulher e Multiply. Confira!

Sobre o Autor:
Carlos Roberto Carlos Roberto de Oliveira é advogado estabelecido em Nova Iguaçu - RJ. A criação do Dando Pitacos foi a forma encontrada para entreter e discutir assuntos de interesse geral.

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8 comentários:

  1. Maravilhosa poesia - parabéns pelo post e também à autora desses belíssimos versos. Forte Abraço,Carlos.

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  2. Valeu, Ródrio!

    O poema é realmente lindo. A Fátima vai ficar satisfeita com o seu comentário.

    Um abração...

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  3. Muito legal !! sempre acho que pequenas iniciativas podem gerar grandes frutos.. sucesso pra vcs todos ai ;D
    abrçs e bom final de semana.

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  4. Parabéns pelo seu post Pérola Negra. "Policial feminina, operária em construção", gostei portantanto comentei...

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  5. Obrigado pelo comentário, Charles!

    Gosto de gente simples, gente que luta pra sobreviver com dignidade, gente limpa. Por isso fiz questão de postar esse texto sobre essa moça que nunca vi e talvez nunca veja na minha vida. Mas ela, como você disse, é uma "operária em construção" e isso é tudo de bom, principalmente nessa terra onde a corrupção distorce corações e mentes.

    É pena que nem todos valorizem esse tipo de ser humano!

    Um grande abraço...

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  6. Infelizmente, existem pessoas que tem o costume de se denominar donas de poemas e textos de outros autores. Este poema, fi feito por mim, em 1994, na época em que eu cursava o antigo 4º ano, em homenagem ao dia das mulheres, e foi publicado no mesmo ano, em um jornal local, onde somente a poucos anos, ao receber um email, vi que ele estava na internet, e com nome de outro autor. Fico ao mesmo tempo triste, por existir pessoas assim, porém feliz, por vê-lo fazendo com que outras pessoas reflitam sobre o tema.

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  7. Infelizmente, existem pessoas que tem o costume de se denominar donas de poemas e textos de outros autores. Este poema, fi feito por mim, em 1994, na época em que eu cursava o antigo 4º ano, em homenagem ao dia das mulheres, e foi publicado no mesmo ano, em um jornal local, onde somente a poucos anos, ao receber um email, vi que ele estava na internet, e com nome de outro autor. Fico ao mesmo tempo triste, por existir pessoas assim, porém feliz, por vê-lo fazendo com que outras pessoas reflitam sobre o tema.

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