23 fevereiro 2011

A farra da Assembléia Legislativa do Rio de Janeiro

O personagem da foto aí ao lado não é a estrela de nenhum espetáculo circense. Eu até gostaria de falar sobre o assunto, já que sou profundo admirador da brava gente do circo, que vive sem paradeiro, rindo e fazendo rir, apesar de todas as dificuldades da profissão. Mas o papo não é esse. Na verdade, o que a foto mostra é a minha, a sua, a nossa imagem na visão do político. E eles adoram ficar nos olhando, pode acreditar! Morrem de rir com a nossa cara de palhaço, porque realmente somos os palhaços que trabalham e pagam os impostos necessários à garantia do pasto onde eles chafurdam. É o suor do nosso rosto que garante a eles, os políticos, situações como a que você vai ver linhas abaixo, em reportagem assinada por Fábio Vasconcellos, publicada no jornal O Globo (21/02).

Segundo ele, a Assembléia Legislativa do Rio de Janeiro – Alerj gasta, por ano, cerca de R$ 2,6 milhões só para abastecer os 70 veículos que servem aos parlamentares. É o famoso “auxílio-combustível”, um dos benefícios dados aos deputados fluminenses, essa gente que tanto “batalha” pelo povo carioca.

O pior, é que não há controle sobre o uso do combustível. Não há como saber se a gasolina foi mesmo parar no tanque dos carros oficiais. O sistema, que foi criado 2003, utiliza um cartão com crédito mensal de 1.150 litros, cerca de R$ 3 mil, que é entregue aos parlamentares. Não há obrigação de comprovar o destino do produto, o que significa dizer que os senhores deputados, que este ano receberam 35 novos Boras, ao custo R$ 2 milhões, podem utilizar o benefício onde e como bem entenderem. Para se ter uma idéia, na média, o crédito permite que eles rodem por dia até 300 quilômetros, uma viagem do Rio de Janeiro - RJ a Taubaté - SP.

Mas a coisa não pára aí! O sistema é acumulativo, ou seja, os parlamentares podem guardar os créditos não utilizados para os meses seguintes, numa espécie de "poupança", o que transforma o tal “auxílio-combustível” numa interessante opção extra de recursos. Mesmo em 2010, quando a Alerj praticamente parou por causa das eleições, a despesa com o combustível conseguiu ser maior em cerca de R$ 30 mil que a de 2009. Num mês, o crédito permitiu que cada parlamentar rodasse até 9 mil quilômetros. Numa linha reta, daria pra ir e voltar do Estado do Amazonas - AM.

E você pensa que acabou? Não! Tem mais! Segundo dados disponíveis no site da Secretaria Estadual de Fazenda, 14 parlamentares cariocas, entre eles o atual presidente da Casa, deputado Paulo Melo (PMDB) receberam auxílio-moradia com valores de até R$ 2,2 mil por mês. O benefício é pago toda vez que o deputado comprova que não retornou para sua casa, no interior do Estado, e gastou com aluguel ou diária em hotéis na capital. Pelas regras da Alerj, apenas aqueles que moram a mais de 100 quilômetros do Rio de janeiro – RJ podem requerer o auxílio, mas tem deputado que mora logo ali e recebeu o agrado, caso de Marcos Abrahão (PTdoB), que tem casa em Rio Bonito, a cerca de 75 quilômetros da capital. Estranho, não?

Mas a cereja do bolo você ainda não provou! Paulo Melo explicou que o fato de um parlamentar receber o auxílio-moradia não significa que ele não tenha compromissos em outros municípios, e não precise usar o carro oficial, até porque eles (os deputados) representam as 92 cidades do Estado, e o trabalho, que eu imagino seja árduo, os obriga a estar diretamente em contato com moradores de municípios fora do seu domicílio eleitoral. Quem de nós já esbarrou com um deputado interessado em saber dos problemas de nossas cidades, fora do período eleitoral? Eu nunca assisti a uma cena dessas em mais de meio século de existência! Um Óleo de Peroba ia bem na cara-de-pau do deputado Paulo Melo, você não acha?

Atualmente, além da frota de Boras dos deputados, a nossa valorosa Alerj mantém outros 42 veículos, entre ônibus, carros de passeio e dois reboques, que no ano passado consumiram nada mais, nada menos, que R$ 550 mil em combustível. E como acontece quando da posse de todo novo presidente, Paulo Melo disse que está buscando formas de reduzir as despesas com combustível (ele não falou nada sobre o auxílio-moradia). Será que além de palhaços, ele acha que a gente ainda acredita em Papai Noel, Branca de Neve, Saci-Pererê, Bela Adormecida ou Mula sem cabeça?

Sobre o Autor:
Carlos Roberto Carlos Roberto de Oliveira é advogado estabelecido em Nova Iguaçu - RJ. A criação do Dando Pitacos foi a forma encontrada para entreter e discutir assuntos de interesse geral.

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8 comentários:

  1. Não só o povo carioca que se f***... o povo paulistano, o povo franco-rochense, e por aí vai.

    Morei em São Paulo até meus 23 anos e há 5, estou em Franco da Rocha, grande São Paulo. É uma cidade fudidinha, sendo bem franca! A minha sorte é que tenho fácil acesso a trens da CPTM, então, minha vida é muito em São Paulo, sabe? Te digo que é foda... ruas inteiras esburacadas ou mal reformadas... Enquanto que a casa do prefeito, vereadores e assessores são ótimas.

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  2. Minha querida Kiara!

    O seu comentário retrata a realidade brasileira. Não há exceções. Em todos os cantos do Brasil o que se vê é o povo vivendo na merda (foi a expressão mais suave que encontrei) e os políticos nadando em dinheiro.

    Até quando a sociedade brasileira vai aturar isso? Até quando vamos aceitar que esses bandos organizados nos tirem o que é nosso e de nossos filhos? Até quando aceitaremos, passivamente, a existência desses canalhas?

    Obrigado, mais uma vez, pelo seu comentário e participação!

    Um grande beijo...

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  3. Exatamente.

    Não vou ser ingrata e cuspir no prato que comi, mas tenho vontade de ir embora do Brasil, por algum tempo. Quero ter contato com outras culturas, viver num lugar com regras mais claras e fiscalização mais efetiva! Nós temos muito o que aprender com isso!

    Porque eu ainda não conheço um lugar no mundo que tenham elegido um "ex-palhaço-analfabeto-que-curte-bater-em-mulher-de-vez-em-quando" ou um "apresentador-de-5ª-categoria-que-falta-90%-dos-dias-úteis-de-seu-mandato".

    Apesar disso tudo, amo meu país e nunca vou renegá-lo. Só que eu quero mudar um pouco!

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  4. Compreendo sua maneira de pensar, Kiara!

    Eu também amo a minha terra, mas que dá vontade de sair fora, ao menos por uns tempos, lá isso dá! É muito difícil viver num lugar onde a regra é a corrupção e por isso mesmo todos os valores foram invertidos. Seu tivesse a sua idade, já estaria fora daqui há tempos!

    Um beijão...

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  5. Genial a foto e o post: super procedente. Isto ocorre com o Legislativo de todos os estados; na AL de MG tem a verba indenizatória,remunerada mediante comprovação. Em 2010, o então presidente da AL estava apresentando notas frias para fazer jus a ela....Outros, usaram esta verba para pagar tributos que todos nós, cidadãos, temos que pagar, tipo IPVA,Seguro obritatório e DPVAT, só que de carros de luxo.Claro que nada chegasse a cifra dos milhões(o divulgado foi perto dos 70 mil), ainda assim, um desaforo. Em relação ao ex presidente da casa, ele era um dos deputados da base do governo de Minas, um vexame...

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  6. É verdade, Milu!

    Em termos parlamentares, o Brasil está podre!

    Quer um exemplo? Essa é principal manchete do O Globo de hoje (02/03):

    "Comissão da nova lei eleitoral será presidida por aliado de Renan Calheiros.

    Destinada a cuidar de questões como financiamento público de campanha, fidelidade partidária e fichas-sujas, a comissão instalada ontem pela Câmara para elaborar proposta de reforma política tem entre seus integrantes nomes como Paulo Maluf (PP-SP), que está na lista de procurados no site da Interpol e foi enquadrado na Lei da Ficha Limpa ano passado. Também participam o mensaleiro Valdemar Costa neto (PR-SP), Eduardo Azeredo (PSDB-MG), réu no chamado mensalão mineiro, José Guimarães (PT-CE), que teve um assessor preso em flagrante com US$ 100 mil na cueca, e o ex-governador Newton Cardoso (PMDB-MG). O presidente da comissão é Almeida Lima (PMDB-SE), da tropa de choque do senador Renan Calheiros (PMDB-AL)".

    O que se pode esperar que esse bando vá decidir em termos de "financiamento público de campanha, fidelidade partidária e fichas-sujas". é o mesmo que entregar a chave do galinheiro à raposa, não é verdade?

    Um abração...

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  7. Destes políticos que você citou, não sei qual o pior.São todos renomados trambiqueiros e deve ser por isso mesmo que o Eduardo Azerdeo está tentando passar o projeto de lei que vem sendo chamado de AI-5 virtual:ele, realmente, necessita cercear a liberdade da internet, a fim de evitar que seus podres sejam amplamente divulgados. No que depender da imprensa mineira, amordaçada pelo nosso governo, jamais vai falar nada contra um aliado, cabendo, então, aos internautas esta denúncia.

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  8. Milu:

    A gente que cada Estado, cada pedacinho da Federação tem a sua banda podre, não é verdade. Imprensa comprometida então é o que não falta. Aliás, alguns profissionais vivem especificamente disso, da indústria das matérias pagas.

    Mas acredito na força dos que não têm compromisso com essa gente, com a lama de jorra dos órgãos legislativos do Brasil inteiro. Esses, como nós, nunca vão se calar!

    Um beijão...

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