15 fevereiro 2011

Você já ouviu falar de Pina Bausch?

Win Wenders e Pina Bausch
Não sou um crítico de arte, mas alguém ligado em todas as suas manifestações. A dança, por exemplo, sempre me atraiu. Pouca gente sabe ou concorda, mas muito se pode dizer através dela. Não raro, o movimento corporal é mais elucidativo que simples palavras, até porque a expressão verbal pode ser usada de forma hipócrita, demagógica, mentirosa, o que o corpo nem sempre consegue fazer, com algumas exceções, é claro. Numa delas, o sexo, homens e mulheres podem exercer a linguagem corporal de forma leviana, o que é comum nos dias de hoje, mas ela não engana ninguém, a não ser a quem se predisponha ao engano.

E por falar em dança, em expressão corporal, você conhece Pina Bausch?



O compositor e regente Ricardo Prado, do Clube do Maestro, também fez essa pergunta:

Pina Bausch não revolucionou a dança. Pina Bausch não repensou o corpo. Pina Bausch não ensinou o gesto. Pina Bausch não esculpiu a inteligência. Pina Bausch não inaugurou o olhar. Tudo mentira. Tudo pouco. Pina Bausch inventou uma nova linguagem do belo para demonstrar o nosso impossível.

Você não conhecia Pina Bausch? Não se preocupe. Sempre é tempo de nascer para os que nos compreendem.

Você não reconhece Pina Bausch? Não se preocupe. Seu fantasma de menina morta aos 64 anos (a precocidade não é uma categoria sem biografia) surpreenderá você (e espero que a mim sempre outra vez) no acesso de riso, no choro convulso, na fúria incontida, no medo do ridículo, na vontade de viver, na saudade de casa, no calafrio, no suor, no arrepio. Na humanidade mais recusada, ela irrompe. Será que isso é permitido?"


Pina Bausch talvez tenha sido a mais importante coreógrafa e dançarina alemã, conhecida pelo destaque que sempre deu à relação do masculino e do feminino em suas peças, bem como à solidão e ao amor. As idéias para o seu trabalho era colhidas em suas viagens pelo mundo e experiências pessoais entre ela própria e os integrantes de sua companhia, com os quais sempre manteve uma relação de profunda amizade e compartilhamento de idéias e sentimentos.

No último domingo (13/02), no 61º Festival Internacional de Berlim, numa sessão especial fora da competição, o lendário diretor alemão Win Wenders (Asas do Desejo) fez exibir o documentário Pina, baseado na obra da coreógrafa.


Wenders fala sobre uma idéia muito antiga:

- Pina e eu tínhamos esta vontade há mais de 20 anos. Em meados dos anos 80, sugeri a ela que fizéssemos algo juntos e isso nos uniu desde então. Mas o balé de Pina tinha toda esta alegria e liberdade, era tudo tão vivo, que eu não sabia como transportar isso adequadamente para o cinema. Foi quando eu assisti pela primeira vez um filme em 3D. Ainda de dentro do cinema, liguei para ela e disse: “Agora eu sei, Pina, como isso será!”

- Ela seria o centro do filme. Estaria perto de mim em todos os momentos. Seria um road movie, nós iríamos percorrer a Ásia e a América do Sul. Seria um filme completamente diferente. Pina era mais que o personagem principal. Ela era a própria razão para se fazer este filme. Nós estávamos nas preparações para as filmagens quando, imediatamente antes do primeiro teste em 3D ser feito, recebemos a notícia da morte repentina de Pina. Naturalmente, tudo parou. Parecia sem sentido querer fazer o filme - relata o diretor, visivelmente emocionado.


Bausch morreu na manhã do dia 30 de junho de 2009, de um câncer que tinha sido diagnosticado dias antes.

"Hoje (nesta terça-feira) de manhã morreu Pina Bausch, bailarina e coreógrafa do Tanztheater de Wuppertal. Uma morte rápida e inesperada vitimou-a cinco dias após um diagnóstico de câncer. Ainda no penúltimo domingo, ela estava de pé com sua companhia no palco da Ópera de Wuppertal", informou à época um comunicado da companhia artística alemã.

Quando se decidiu a filmar sobre Pina, Wenders mudou todo o projeto original e filmou os dançarinos da companhia dela, reproduzindo vários números que ela criou. Os depoimentos captados, originários de diversos países, falando suas línguas-mães, ressaltam a universalidade do trabalho dela. O idioma nunca foi importante, porque sua linguagem era a do corpo.

Infelizmente, ela não viveu para ver o documentário, todo baseado em seu apaixonado trabalho, no seu amor pela dança. Wenders não quis intervir em nenhuma das peças, com a humildade que só os grandes mestres têm.

É essa linguagem que quero passar a vocês, amigos leitores do Dando Pitacos, homens ou mulheres, não importa. Por isso, além das fotos acima postadas, fui buscar no You Tube o vídeo de uma das obras mais festejadas de Pina Bausch, que mostra a releitura coreográfica de A Sagração da Primavera, com música de Stravinsk.



Sobre o Autor:
Carlos Roberto Carlos Roberto de Oliveira é advogado estabelecido em Nova Iguaçu - RJ. A criação do Dando Pitacos foi a forma encontrada para entreter e discutir assuntos de interesse geral.

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6 comentários:

  1. Saudações!
    Amigo ROBERTO:
    Infelizmente eu perdi de conhecer o trabalho desse tesouro. E lendo agora um pouco da trajetória coroado de tanto sucesso artístico desse fenômeno cultural, eu não me perdôo. Favoritei o seu Post e deixei o vídeo carregando, pois, vou ao menos assistir uma minúscula parte do trabalho dessa grande estrela.
    O seu texto nos presenteia com qualidade e conteúdo.
    Parabéns por mais um magnífico Post!
    Abraços fraternos,
    LISON COSTA.

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  2. Amigo, Lison!

    Conhecer um pouco da obra de alguém como Pina Bausch é dar um passeio pela cultura. Nem é preciso muito conhecer sobre arte, e no caso dela, sobre a dança. Basta olhar, ver, apreciar qualquer de suas obras que já se terá uma idéia da beleza e valor de seu trabalho. Basta ver os corpos em movimento pra se sentir a poesia de sua arte.

    Obrigado pela sua participação, mais uma vez!

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  3. Roberto, pude assistir a 3 espetáculos e confirmo uma das afirmações do texto. Ela sabia ser surpreendente e emocionar. Deixou sua contribuição para a dança do séc.XX e será sempre lembrada.

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  4. Obrigado por me fazer conhecer Pina Bausch um trabalho belíssimo.

    Um Abraço!

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  5. Obrigado, Ediléia!

    Você anda sumida. Estou com saudades de você!

    Um beijão...

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  6. Ela realmente foi uma revolução na dança, Eduardo!

    Por isso seu nome está marcado na história da arte, para sempre!

    Um abração...

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