13 março 2011

Castro Alves - o poeta dos escravos

Antônio Frederico de Castro Alves, o poeta Castro Alves, nasceu em Muritiba - BA, no dia 14 de março de 1847, e morreu em Salvador - BA, em 6 de julho de 1871, portanto, aos 24 anos de idade. Ele é o patrono da Cadeira nº 7, da Academia Brasileira de Letras - ABL, por escolha do fundador, Valentim Magalhães. Hoje fazem 140 anos que ele morreu!

Castro Alves era filho do médico Antônio José Alves, professor na Faculdade de Medicina de Salvador - BA, e de Clélia Brasília da Silva Castro, que morreu quando o poeta tinha apenas 12 anos de idade.


Em 1853, quando mudou com a família para a capital, Castro estudou no colégio de Abílio César Borges, futuro Barão de Macaúbas, onde foi colega de Rui Barbosa. Foi nessa ocasião que ele começou a demonstrar sua vocação apaixonada e precoce pela poesia. Em 1862 ele foi para Recife - PE, onde concluiu os preparatórios para o estudo superior. Depois de duas reprovações, já em 1864, ele matriculou-se na Faculdade de Direito.

Em 1863, tendo contraído tuberculose, Castro Alves revelou em seu poema Mocidade e Morte que sentia um enorme desalento por se ver tão jovem e estar acometido de doença tão grave.

Mesmo assim, logo que se integrou na vida literária e acadêmica, Castro Alves passou a ser admirado graças a seus versos. E cuidou cuidou mais deles e dos amores que dos próprios estudos. Perdeu o pai em 1866, pouco depois, iniciou a apaixonada ligação amorosa com Eugênia Câmara, que desempenhou importante papel em sua lírica e em sua vida.

O Navio Negreiro – Tragédia no Mar, um de seus mais conhecidos poemas e destaque da própria literatura brasileira, foi concluído por ele em São Paulo - SP, em 1868, quase vinte anos depois da promulgação da Lei Eusébio de Queirós, aprovada em 4 de setembro de 1850, que proibiu o tráfico de escravos. A proibição, no entanto, não vingou de todo, o que levou Castro Alves a se empenhar na denúncia da miséria a que eram submetidos os africanos na cruel travessia oceânica. É preciso lembrar que, em média, menos da metade dos escravos embarcados nos navios negreiros chegavam ao final da viagem vivos.

Composto em seis partes, o poema alterna métricas variadas para obter o efeito rítmico mais adequado a cada situação retratada. Assim, inicia-se com versos decassílabos que representam, de forma claramente condoreira, a imensidão do mar e seu reflexo na vastidão dos céus.

Destacamos aqui a quinta parte da obra, feita em heptassílabos, na qual o poeta faz um retrocesso temporal, descrevendo a vida livre dos africanos em sua terra, criando um contraponto dramático com a situação dos escravos nos navios negreiros. Na última estrofe Castro Alves retoma os decassílabos do início para protestar com veemência contra a crueldade do tráfico de escravos:


Existe um povo que a bandeira empresta 
P'ra cobrir tanta infâmia e cobardia!... 
E deixa-a transformar-se nessa festa 
Em manto impuro de bacante fria!... 
Meu Deus! meu Deus! mas que bandeira é esta, 
Que impudente na gávea tripudia?

Silêncio. Musa... chora, e chora tanto 
Que o pavilhão se lave no teu pranto!... 
Auriverde pendão de minha terra, 
Que a brisa do Brasil beija e balança, 
Estandarte que a luz do sol encerra 
E as promessas divinas da esperança...

Tu que, da liberdade após a guerra, 
Foste hasteado dos heróis na lança 
Antes te houvessem roto na batalha, 
Que servires a um povo de mortalha!...

Fatalidade atroz que a mente esmaga! 
Extingue nesta hora o brigue imundo 
O trilho que Colombo abriu nas vagas, 
Como um íris no pélago profundo!

Mas é infâmia demais! ... Da etérea plaga 
Levantai-vos, heróis do Novo Mundo! 
Andrada! arranca esse pendão dos ares! 
Colombo! fecha a porta dos teus mares!


O Dando Pitacos deixa aqui a sua homenagem a esse grande personagem da nossa história, que infelizmente nos deixou tão jovem...




Vídeo: avozdapoesia


Sobre o Autor:
Carlos Roberto Carlos Roberto de Oliveira é advogado estabelecido em Nova Iguaçu - RJ. A criação do Dando Pitacos foi a forma encontrada para entreter e discutir assuntos de interesse geral.

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