03 agosto 2011

Músico é processado por criticar aumento de salário de deputados gaúchos

Definitivamente, a sombra da censura não se apaga no Brasil. Dessa vez ela se materializou no Rio Grande do Sul - RS e atingiu o músico Tonho Crocco, que no próximo dia 22/08 terá que comparecer uma audiência no juizado especial criminal. Tudo por causa do rap que ele compôs criticando um reajuste de 73% que deputados estaduais aprovaram para seus próprios salários em dezembro, no final da legislatura.

Gangue da Matriz, a música de Crocco tem frases como “o crime aconteceu em plena luz do dia” e “subiram seu salário; me senti um otário” e faz rimas com os nomes de 36 deputados que teriam votado a favor do aumento junto com o refrão “gangue da matriz, gangue da matriz”. O nome da música faz referências à localização da Assembleia Legislativa, que fica na Praça da Matriz, e a crimes ocorridos na década de 80 no local.


- Nos anos 80, tinha um grupo de filhos de pessoas ricas que faziam artes marciais e covardemente batiam em uma pessoa e teve até um assassinato. Como a Assembleia Legislativa é na Praça da Matriz, essa foi a metáfora que eu quis usar porque me senti agredido, meu direito foi assassinado ali naquela hora. Então essa é a referência dessa frase - diz Crocco.

O processo foi motivado por uma representação enviada ao Ministério Público pela  Assembleia Legislativa gaúcha pedindo a “instauração de procedimento investigatório para apuração de possível cometimento de infrações penais”. O texto diz que o “protesto” de Crocco se insere nos crimes contra a honra, do Código Penal. A letra e a gravação da música foram encaminhadas aos promotores. Na audiência preliminar já designada é possível que ocorra uma “conciliação", o que não é exatamente o pensamento de Tonho Crocco:

- Essa conciliação, para mim, não existe. Vou ter que pagar cesta básica pelo que fiz? Vou ter que retirar a música? Vou ter que me retratar? Não existe. Pretendo levar esse processo adiante. Se o Ministério Público não arquivar no dia 22, vou levar até o fim porque não me considero culpado e acho que tenho direito de exercer minha cidadania, minha crítica. Sou músico, não sou político, e minha manifestação foi desse jeito. Não quero que se abra esse precedente para as pessoa terem medo de se manifestar - contesta o músico.

O detalhe interessante da história é que enquanto o caso não se resolve, o vídeo de Tonho Crocco vem bombando no You Tube e ele vive seu maior período de fama. 

- Não esperava isso. Em toda a minha vida, a música que mais fez sucesso foi essa. Já está em 51 mil acessos (no You Tube). Não eram mais de 30 mil até a semana passada - contabiliza.

Interessante, não? Segundo a representação da Assembléia Legislativa, criticar a canalhice dos deputados pode caracterizar "crime contra a honra" dos senhores deputados. E o crime por eles praticado contra o bolso do cidadão?





Sobre o Autor:
Carlos Roberto Carlos Roberto de Oliveira é advogado estabelecido em Nova Iguaçu - RJ. A criação do Dando Pitacos foi a forma encontrada para entreter e discutir assuntos de interesse geral.

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