Bordel Obra de Nadir Afonso |
Você deve ter vindo até aqui atraído pelo título do post, que parece anunciar uma boa piada, que até aconteceu, mas foi de extremo mau gosto. Desta vez os protagonistas foram os senhores deputados que integram a Comissão de Constituição e Justiça da Câmara dos Deputados, que na última quinta-feira (22/09) deram mais um exemplo de desrespeito ao país, ao realizar uma sessão-fantasma com a presença de apenas dois parlamentares, sendo que um deles presidia a sessão.
Agora, tentando esconder a farsa, as imagens oficiais divulgadas no site da Câmara não mostram o plenário completamente vazio, como foi revelado pelo jornal O Globo na semana passada. O vídeo mostra apenas o presidente da sessão, deputado Cesar Colnago (PSDB-ES), e o deputado Luiz Couto (PT-PB), o único parlamentar no plenário. No único momento em que o recinto da Comissão é mostrado, o vídeo oficial da Câmara foca somente as fileiras do fundo, onde quatro assessores assistiam à votação que aprovou 118 projetos em apenas três minutos, esforço inútil, já que o repórter Evandro Éboli, do O Globo, usando um celular, filmou o plenário deserto.
O regimento da Câmara exige a presença de pelo menos 31 deputados para a realização de votações na Comissão de Constituição e Justiça - CCJ, que é formada por 61 membros titulares, além dos suplentes. O órgão é encarregado de analisar a constitucionalidade dos projetos de lei em tramitação na Casa. A votação da última quinta-feira só foi possível porque 35 deputados assinaram a lista de presença, dando condições para o início dos trabalhos, mas se retiraram antes que eles começassem.
O vídeo mostra ainda o momento em que Colnago, com base nas 35 assinaturas, declara haver número regimental de parlamentares para o início da sessão. Em seguida, da forma mais descarada possível, ele anuncia que Couto pediu para que as matérias não sejam lidas a fim de agilizar o processo. E começa o rito de votação, como se houvesse mais de um deputado em plenário:
- Não havendo quem queira discutir, em votação. Os deputados que forem pela aprovação, permaneçam como se encontram. Aprovado!
Um dos farsantes, o deputado Hugo Leal (PSC-RJ), que é vice-líder do governo e foi um dos 35 deputados que assinaram o livro de presença da CCJ, disse que vai pedir a anulação da sessão.
- Vou formular uma questão de ordem, sugerindo a anulação da reunião da CCJ, tendo em vista o ocorrido. O que aconteceu deve ser revisto. Não referendo essa prática de aprovar projetos sem debate - disse Leal, tentando tapar o sol com a peneira.
Em um e-mail enviado ao O Globo, ele explicou que estava na Casa desde as 9h e foi o quarto a assinar presença, mas, como não haveria reunião, em virtude do início da Ordem do Dia, seguiu para a audiência da Comissão de Segurança Pública e Combate ao Crime Organizado, que só terminou por volta das 12h50m. Além de omisso, hipócrita!
Assim que a sessão é encerrada, com o som já cortado, Colnago e a assessora sorriem, enquanto outros assessores passam por trás deles. O áudio, que não consta no vídeo disponibilizado pela Câmara, foi captado pelo celular da reportagem do repórter Evandro Éboli. Nele dá para ouvir quando Colnago, que já foi coroinha da igreja católica, em tom de deboche, brinca com Couto, que é padre:
- Um coroinha com um padre, podia dar o quê?
A assessora a seu lado emendou:
- Votamos 118 projetos.
E o tucano Colnago concluiu:
- Depois dizem que a oposição não ajuda.
É verdade, deputado! A oposição ajuda muito, principalmente quando representada por parlamentares do seu quilate ético. Só espero que o eleitor não esqueça do coroinha Colnago e do padre Couto nas próximas eleições. Vocês são o exemplo típico do político brasileiro: omissos, sem nenhuma ética ou vergonha na cara!
Fonte: O Globo
Carlos Roberto de Oliveira é advogado estabelecido em Nova Iguaçu - RJ. A criação do Dando Pitacos foi a forma encontrada para entreter e discutir assuntos de interesse geral. |