Em apenas oito meses, ou seja, de janeiro a agosto deste ano, os nossos deputados federais gastaram R$ 13.902.425,16 com ligações telefônicas. Essa foi a quantia gasta pela Câmara com todos os reembolsos aos 513 atuais deputados, mais os outros 68 parlamentares que passaram por lá e pediram para usar o serviço por diferentes motivos. Se todas as ligações fossem feitas em um único aparelho à tarifa de R$ 0,09 o minuto (preço estimado para ligação local de fixo para fixo), daria para falar por 298 anos ininterruptamente, quase três séculos.
O campeão da sacanagem é Odair Cunha, do Partido dos Trabalhadores (PT-MG). Os reembolsos por ele pedidos, somados, chegam perto dos R$ 100 mil. Sua conta mensal média é de R$ 12 mil. Mas na análise por partido, quem diria, os socialistas do PSOL lideram o bloco do arrastão ao dinheiro público. Seus três deputados gastaram, em média, R$ 4.349,27 por mês. É claro, como sempre acontece, que eles vão alegar que o telefone faz parte do exaustivo trabalho parlamentar, e que o alto custo das ligações demonstra o quanto eles labutam em favor do povo imbecil que paga a conta.
Os dados estão no site da Câmara, que publica, muito a contragosto, é claro, informações detalhadas das verbas indenizatórias. Além das despesas com telefone, os senhores deputados ainda são reembolsados com o que gastam com combustível, passagem, locação de carro, publicidade, correio e hospedagem. Já imaginaram o tamanho do rombo?
O limite varia conforme o Estado, e é maior quanto mais longe ele estiver do Distrito Federal. Vai de R$ 23.033 a R$ 32.711 por mês. Se você quiser conferir tudo, tim-tim por tim-tim, clique aqui.
Enquanto isso, e apenas para citar dois exemplos da imoral, criminosa e cachorra desigualdade que impera no país, chamo sua atenção para dois fatos: o primeiro tem a ver com Daniele Hypólito, atleta brasileira que ficou conhecida no mundo da ginástica em 2001 quando, aos 17 anos, conquistou a medalha de prata na prova de solo do Mundial de Ginástica Artística, a primeira do Brasil na modalidade. Hoje ela chora pela falta de apoio político e financeiro. Pouca gente sabe, mas quem bancou sua ida à competição foi o ex-atacante Ronaldo Fenômeno. A Confederação Brasileira de Ginástica só pagou as passagens. De lá pra cá, nada mudou. Mas na hora da medalha no peito, todo mundo quer aparecer na foto, não é verdade? Confira a entrevista da atleta.
A outra história é a de Bianca Carvalho, que aos 16 anos de idade, usando a sala da própria casa, começou a prestar assistência a crianças carentes do seu bairro, Mesquita, na Baixada Fluminense do Rio de Janeiro. O sonho cresceu e ela teve que buscar um espaço maior. Alugou um imóvel, e no dia 08 de janeiro de 2003 fundou a ONG Mundo Novo da Cultura Viva. Seu trabalho foi reconhecido, e em 2007 ela recebeu o prêmio Faz Diferença, do jornal O Globo e chegou a ser matéria no Domingão do Faustão, da Rede Globo.
Bianca e um grupo de crianças atendidas em seu "Mundo Novo" |
Desde janeiro deste ano, a creche, que atende 30 crianças do bairro, deixou de operar em horário integral. Ao invés de serem liberadas às 17h, como sempre ocorreu, elas chegam às 8h e saem ao meio-dia. Falta dinheiro para bancar o sonho de Bianca. O projeto Educar para Transformar, que oferecia atividades culturais e aulas de reforço escolar foi suspenso.
- Eram nove estagiários que recebiam bolsas de R$ 100 cada. Ficava um gasto alto e a gente não podia manter - lamenta-se a jovem Bianca.
Mas ela não desanima. As aulas de balé e outras atividades culturais continuam.
- Estamos tentando recursos para o retorno integral da creche e a volta do Educar para Transformar. Meu sonho é terminar a construção - diz a moça, referindo-se à obra que vem sendo feita no espaço que ela criou.
São 311 as crianças beneficiadas pelo trabalho da ONG, mas para Bianca o trabalho está longe de terminar.
- Transformei pouquinho, mas ainda tem muito a fazer. É a minha missão.
É isso aí, minha gente! Enquanto Bianca luta para manter vivo o sonho de melhorar a vida de crianças carentes, a corja de Brasília gasta quase R$ 14 milhões em ligações telefônicas. Esse é o Brasil, "um país de todos" os políticos, é claro!
Fonte: Revista Época
Sobre o Autor:
Carlos Roberto de Oliveira é advogado estabelecido em Nova Iguaçu - RJ. A criação do Dando Pitacos foi a forma encontrada para entreter e discutir assuntos de interesse geral. |