A igualdade entre os seres humanos é perseguida há séculos e jamais foi alcançada. Dizem alguns que ela é pura utopia, o que parece ser verdade. No Brasil, por exemplo, a Constituição Federal garante que todos são iguais perante a lei, o que sabemos, está longe de virar realidade.
Mas existem algumas coisas onde a sonhada igualdade poderia existir até com uma certa facilidade, se as autoridades e a própria sociedade agissem com bom senso. Querem um pequeno exemplo?
Tudo indica que a TV a cabo brasileira vai dublar todas as suas atrações. Séries, filmes, programas de entretenimento, tudo vai ser falado na lingua pátria, o português. E qual seria o motivo da mudança? Segundo os responsáveis pelas emissoras, a exigência surgiu com o crescimento da classe "C" ou nova “classe média”, que agora tem acesso ao serviço por assinatura e prefere o conteúdo dublado.
Alguns canais da TV paga já aboliram as legendas em boa parte de sua programação. O canal FX, por exemplo, passa apenas Dexter e Spartacus com som original, o resto é dublado, o que também está acontecendo nos canais Sony, cuja administração já anunciou que sua programação passará a ser exibida exclusivamente em português em um futuro próximo. Tudo, repito, em nome da audiência, que as emissoras garantem aumentar quando a programação passa a ser dublada.
A iniciativa, além de beneficiar a nova "classe média", com certeza será muito bem recebida também pelos deficientes visuais e analfabetos, que por razões óbvias, preferem a dublagem às legendas. Mas como ficam os que gostam de curtir o som original, a voz do ator ou atriz? E quem assiste aquele filmezinho madrugada afora (porque trabalha em horário diferenciado) e não quer incomodar o(a) parceiro(a) que se levanta mais cedo? E os deficientes auditivos? Como ficará o acesso deles à programação das televisões a cabo e salas de cinema?
Todos os canais pagos e operadoras de TV, acredito, já devem estar equipados para transmitir um idioma em múltiplas legendas e faixas de áudio. Com a chegada da televisão digital, todos os canais modificaram sua estrutura para a transmissão em HD e certamente possuem tecnologia para a transmissão de legendas. Hoje, a maioria dos aparelhos é dotada das funções Closed Caption e SAP, sistemas que podem ser ativados e desativados a critério dos assinantes. Logo, por que lhes negar esse direito?
Ao invés de repetir indefinidamente filmes, entrevistas e programações esportivas (o que ninguém aguenta mais!), por que as emissoras não exibem os mesmos programas dublados e legendados em horários diferentes? Seria uma forma de agradar e atender às necessidades dos dois públicos, não é verdade?
Se assim não for, que fator vai determinar a posição a ser tomada pelas operadoras de TV a cabo? A audiência? Se ela for maior entre os deficientes visuais, os deficientes auditivos perdem, e vice-versa? É assim que vai funcionar? Mas o preço que todos pagam não é o mesmo? Onde é que vão enfiar a tão badalada igualdade de direitos? Será que ela será atropelada pela dona audiência e pela grana dos grandes patrocinadores? E o "país de todos", como é que fica? O que você acha dessa encardida discussão?
Carlos Roberto de Oliveira é advogado estabelecido em Nova Iguaçu - RJ. A criação do Dando Pitacos foi a forma encontrada para entreter e discutir assuntos de interesse geral. |