A história é das mais antigas. O sujeito sai de casa para ir a um estádio assistir a uma partida de futebol e é agredido, roubado ou morto por bandidos travestidos de torcedores. Fatos como este e as brigas entre torcidas organizadas tornaram-se rotina nas ruas do Rio de Janeiro e em todo o restante do país. Algumas batalhas são agendadas até mesmo pela internet, através das redes sociais. Tudo coisa de torcida, dizem as autoridades. Por isso, os marginais entram e saem das delegacias zombando da lei e das vítimas que vão deixando pelo caminho.
Em abril deste ano, por exemplo, Bruno Saturnino, torcedor do Flamengo, foi espancado até a morte por torcedores do Vasco, na rua Monsenhor Jerônimo, no bairro do Engenho de Dentro, depois de ser reconhecido como um dos integrantes de uma facção de torcida organizada do clube da Gávea.
Em maio de 2011, quando se dirigia ao estádio para assistir um jogo contra o Flamengo, um torcedor do Vasco foi morto a tiros na Praça Enéas Carneiro, no Barreto - Niterói, tradicional ponto de encontro de torcedores vascaínos. Um carro passou atirando. Cinco pessoas ficaram baleadas.
Para que você tenha uma ideia, a mãe de um dos presos, que por razões óbvias prefere o anonimato, disse, indignada:
- A Young Flu é uma facção criminosa. Eles saem de casa para matar os rivais. Desde que meu filho entrou para o grupo, mudou completamente seu comportamento.
Segundo Cristiane Carvalho, delegada lotada na 24ª Delegacia de Polícia, não foi possível libertar os baderneiros sob fiança em razão da soma das penas previstas nos crimes em que foram enquadrados, razão pela qual, como já registrei, todos foram mandados para o Complexo Penitenciário de Bangu.
As vítimas foram atendidas no Hospital Municipal Salgado Filho, no Méier, sendo liberadas em seguida, com escoriações no rosto, mãos e pernas. No momento da agressão, eles estavam na estação de trens do Engenho Novo, na Zona Norte, em horário que antecedeu o jogo entre Fluminense e Vasco, pelo Campeonato Brasileiro. Os dois não pertencem a nenhuma torcida organizada, mas vestiam camisas do Vasco da Gama, o que desagradou os bandidos da Young Flu.
Ainda de a acordo com a polícia, o alerta em relação ao grupo teria sido dado pela própria Supervia, e isto porque os arruaceiros já vinham depredando os trens desde a estação de Santíssimo. Alguns deles, conforme informações do tenente-coronel João Fiorentini, comandante do Grupamento Especial de Policiamento em Estádios - Gepe, utilizavam protetor bucal, equipamento utilizado em artes marciais, o que demonstra que eles saem de casa "com o objetivo de brigar".
- Seguimos o que está na legislação. Além da agressão, houve roubo. Não foi apenas uma briga de torcida. Por isso, terminou em prisão. Em um caso como esse, é o que deve ser feito. É um recado claro de que estamos fazendo tudo para responsabilizar quem faz o que não deve. Estamos fechando o cerco - disse o comandante.
É preciso que as autoridades responsáveis pela segurança pública do Estado, coisa que já devia ter sido feita há muito tempo, criem um órgão especializado na investigação e combate das verdadeiras quadrilhas que se agrupam sob a bandeira de determinados clubes para a prática de atos de vandalismo e violência. É necessário, também, que a violência dentro de campo seja combatida, e aí o problema é dos clubes e das arbitragens, passando pela mídia em geral, que à falta de melhor técnica jornalística, vive da divulgação de supostas "rivalidades" entre este ou aquele clube, sem pesar as consequências que essa conduta acaba gerando no íntimo do torcedor comum.
Um boa providência, acho eu, seria a suspensão da distribuição de ingressos gratuitos, já que bandido não merece esse tipo de agrado. Ao invés disso, por que a tal "cota de ingressos" não é dividida, por exemplo, entre os alunos das escolas públicas das áreas com maior índice de pobreza do Estado? Por que continuar premiando marginais quando milhares de crianças mais pobres nunca tiveram acesso ao um estádio de futebol? O que você acha? Deixe o seu comentário.
Carlos Roberto de Oliveira é advogado estabelecido em Nova Iguaçu - RJ. A criação do Dando Pitacos foi a forma encontrada para entreter e discutir assuntos de interesse geral. |