24 outubro 2010

A esperança morreu?

Martha Medeiros é gaúcha e colunista dos jornais Zero Hora, de Porto Alegre – RS, e do O Globo, do Rio de Janeiro – RJ. Não sei quantos admiradores ela tem, só sei que sou um deles, e não perco nenhuma das crônicas que ela escreve aos domingos na Revista O Globo, que vem encartada no O Globo.

Hoje (24/10), ela escreveu:

“Uma coisa é confiar em bons prognósticos, e outra é ficar esperando milagres. Sem querer ofender: a esperança se tornou obsoleta”.

Eu estaria sendo pretensioso se aqui viesse discutir um trabalho assinado por uma profissional como Martha Medeiros, e você vão ver ao final, não é essa a minha intenção. Não discordo do conteúdo do texto, mas de algumas afirmações nele contidas, com todo o respeito. Leia o texto original:


"Atualmente recebemos tanta informação para digerir que não sobra espaço na cabeça para questionarmos ditados já consagrados.

Então seguimos repetindo, dia após dia, frases que nos parecem definitivas, como “a esperança é a última que morre”, sem se dar conta de que elas não são definitivas coisa nenhuma. Por que manter um estado de ilusão eterno? Em certas circunstâncias, é muito bom perder a esperança.

Esperança não transforma o mundo. Não muda a sua vida. Apenas oferece um breve conforto, faz de conta que as coisas se arranjarão sozinhas através do pensamento positivo.

Mas uma coisa é confiar em bons prognósticos, mentalizar situações agradáveis, e outra bem diferente é ficar esperando milagres. Sem querer ofender ninguém: a esperança se tornou obsoleta.

Você tem esperança de quê? De um mundo melhor, de um país mais justo? Ainda? O.k., gostaríamos que as coisas fossem diferentes, mas a diferença só se efetiva por meio de ações e reações. Quando você tem esperança, tudo o que precisa fazer é ficar sentado aguardando. Já quando ela morre, acaba a morosidade. Você vira a página, troca de capítulo, vai batalhar por outra coisa. Alguém que cansou de esperar é sempre mais produtivo.

Ninguém nunca analisa as desistências por um foco salutar. Elas podem ser o combustível para o início de outro projeto, de um desejo novo. Nem tudo nasceu para dar certo. Certas coisas são tortas por natureza, são boas uns 25%, e os outros 75% não têm pai-nosso que dê jeito. Ficar paralisado diante de algo que nunca vai mudar é estratégia de preguiçoso.

Diante do que não muda, só há uma coisa a fazer: mudar a si mesmo, sacrificando as suas antigas intenções.

Ter esperança de um mundo melhor é um sentimento megalômano. Desista de pensar no mundo, não seja tão ambicioso. Ele nunca vai ser muito melhor do que é, mas seu prédio pode ser, o seu local de trabalho pode ser, já que microcosmos não funcionam à base de esperança, e sim de realizações.

Não que eu proponha radicalizar. A gente pode ter um pouquinho de esperança, claro, desde que ela tenha um prazo de validade, não se transforme numa acomodação vitalícia. Tenha esperança até a página 15. Se a história não avança, não é preciso morrer decrépito segurando o mesmo livro na mão. Ele vai continuar chato, vai continuar paralisando você.

O desejo é que deve ser o último a morrer.

Ele, sim, merece o prestígio que a esperança, essa velha senhora, ainda pensa que tem".


Martha tem toda a razão do mundo quando afirma que "uma coisa é confiar em bons prognósticos, e outra é ficar esperando milagres". Isso acontece muito aqui no Brasil, até pela forte religiosidade de sua gente, que sempre espera que tudo se arrume, primeiro porque as coisas só acontecem na hora certa, e depois porque a esperança é a última que morre.

Eu não acho que se deva ficar esperando por milagres, mas não vejo nenhum mal em ter esperanças, por exemplo, num mundo melhor, num país mais justo. É claro que não podemos nos sentar e esperar que isso aconteça naturalmente, como um presente dos céus, mas ter esperanças, acreditar que o amanhã será melhor que o hoje, não tenho dúvidas, ajuda a caminhar, influencia e dá forças aos que lutam e sonham com mudanças. É certo que há uma diferença abissal entre esperar e agir, mas não menos certo é, também, que agir acreditando no sonho é muito melhor.

Uma das máximas do futebol é a de que "o jogo só acaba quando termina". Apesar do paradoxo, ela é extremamente verdadeira. Todos sabem que uma partida, como não poderia deixar de ser, tem um tempo limite. Você já deve ter observado que em algumas ocasiões a torcida do time que está perdendo sai do estádio entre 5 ou 10 minutos antes do juiz apitar. Muitos já deixaram de assistir empates espetaculares e até vitórias inesquecíveis. Por quê? Simplesmente porque não acreditaram na reação do seu clube e perderam a esperança! 

Martha Medeiros tem absoluta razão quando diz que "a gente pode ter um pouquinho de esperança, claro, desde que ela tenha um prazo de validade, não se transforme numa acomodação vitalícia" e que acreditemos e tenhamos "esperança até a página 15". Eu acho que dá pra esperar até a página 25, e aí sim, "se a história não avança, não é preciso morrer decrépito segurando o mesmo livro na mão". É hora de refazer os planos e recomeçar, ainda que do zero. Lutar é parte da vida. Perder ou ganhar, uma consequência, mas sempre acreditando que a esperança é a última que morre!

Sobre o Autor:
Carlos Roberto Carlos Roberto de Oliveira é advogado estabelecido em Nova Iguaçu - RJ. A criação do Dando Pitacos foi a forma encontrada para entreter e discutir assuntos de interesse geral.

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8 comentários:

  1. Carlos Roberto, eu acho que aqui está havendo uma confusão de conceitos. Marta Medeiros está misturando esperança com acomodação.

    Esperança alimenta as ações. Não se trata de ficar sentado apenas "esperando". Até porque, se você não tem esperança, pra quê então levantar e partir para outra?

    As pessoas que dizem ter esperança de dias melhores sem moverem uma palha para isso, apenas usam a esperança para disfarçar a preguiça.

    Eu tenho esperança num mundo melhor. Se não for o mundo todo, que seja pelo menos o meu mundo. Se cada um levar paz para o seu mundo individual, o "grande mundo" melhorará sem dúvida.

    "Existem apenas duas maneiras de ver a vida. Uma é pensar que não existem milagres e a outra é que tudo é um milagre."- Albert Einstein.

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  2. É isso que eu penso, AnaKris!

    Viver acomodado é uma coisa, e ter esperança é outra bem diferente. Como digo no post, "não acho que se deva ficar esperando por milagres, mas não vejo nenhum mal em ter esperanças, por exemplo, num mundo melhor, num país mais justo. É claro que não podemos nos sentar e esperar que isso aconteça naturalmente, como um presente dos céus, mas ter esperanças, acreditar que o amanhã será melhor que o hoje, não tenho dúvidas, ajuda a caminhar, influencia e dá forças aos que lutam e sonham com mudanças".

    Como você, eu também tenho esperanças em um mundo melhor, e se não for o mundo todo, "que seja pelo menos o meu mundo".

    Estamos pensando da mesma forma!

    Um grande beijo...

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  3. Roberto, meu querido amigo!
    Eu também sou fã ardorosa da Martha e devoro os textos dela. Acho até que tenho em alguns de meus textos uma grande influência dela. Também preciso concordar com a sua análise. Esperança na medida certa não implica em preguiça ou acomodamento. Acho que faz parte da vida as quedas... todos sabem a minha linha de pensamento sobre isso. Então, se não tivermos esperanças que após a queda nos reergueremos e continuaremos a caminhar, estaríamos andando em um campo de batalhas por entre corpos caídos. Desejamos, sim, que as coisas se realizem, mas é a esperança que potencializa os desejos. Acho, inclusive, que contrariando esse pensamento, vivemos no mundo em que vivemos, cercados pelas pessoas e situações que lamentamos tanto, justamente pela falta da esperança e conseqüentemente fé! Quem sabe muitos ainda se dêem a oportunidade sequer de chegarem à página 15, pois a crença e a esperança andam tão em baixa, que nem leitura mais querem fazer... E aí, se conseguirem chegar até a 25 e perceberem que ainda não funciona, como você maravilhosamente escreveu, que começamos do zero e escrevamos nós essa história e nela coloquemos muitas doses de fé, otimismo e esperança!
    Grande beijo e parabéns pelo maravilhoso artigo!
    Jackie

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  4. Jackie:

    Antes de comentar a crônica da Martha, acredite, pensei muito. Não queria, como não quero, que alguém sequer imagine que me acho em condições de fazer críticas ou reparos a trabalhos de profissionais como ela. Absolutamente!

    Apenas expressei um ponto de vista, e fico feliz que pessoas inteligentes como você e a AnaKris (do comentário que antecede o seu) tenham compreendido isso, e melhor ainda, concordado com o meu ponto de vista.

    Confesso que fiquei receoso quando escrevi o texto, mas o fiz na esperança de que as pessoas me compreendessem. Viu como funciona?

    Um grande abraço...

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  5. Sem duvidas, Roberto! Martha Medeiros é uma grande escritora,e com certeza ela tem um grande público, o que não significa que tenhamos que concordar com tudo o que ela escreve.

    Se não posso ter esperança alguma, eu pergunto: lutar pra que?

    O que me faz lutar, e partir para vencer é a esperança de mudanças, a começar por mim. Não posso me acomodar e esperar que as coisas caiam do céu, Deus ajuda a quem quer realizar!

    É isso aí vamos lá! A luta continua.

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  6. resumo em duas palavras para mim a esperança e JESUS,a paz

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  7. É isso aí, Ediléia!

    Sua interpretação está correta. Foi exatamente isso que eu quis dizer: Como lutar sem esperanças? Não devemos nos acomodar, e como você disse, "esperar que as coisas caiam do céu", mas não creio que acreditar num sonho impeça ninguém de alcançar o seu objetivo. Pelo contrário, ajuda e muito!

    Um abração...

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