09 setembro 2012

Imagens e sons da civilização humana serão lançados ao espaço

A sonda Voyager 1 foi lançada ao espaço há exatos 35 anos e atualmente é o artefato fabricado por mãos humanas mais afastado do Sol, de quem está a uma distância de 18,2 bilhões de quilômetros, uma viagem de aproximadamente 17 horas à velocidade da luz (cerca de 9,5 trilhões de quilômetros por ano). 

Como se fosse uma cápsula do tempo, ela carrega a bordo um disco de cobre folheado a ouro que contém mensagens da Terra em cinquenta e cinco idiomas, sons de trovões, pássaros, músicas, além de instruções de como tocar o disco, numa tentativa de explicar como era o nosso mundo para qualquer civilização extraterrestre que cruze o seu caminho daqui há alguns bilhões de anos.

Mas, e se os extraterrestres que encontrarem a Voyager 1 chegarem à Terra e não encontrarem ninguém?

Se isso acontecer, as antigas marcas da nossa presença vão estar em órbita, na forma de diversas naves que estão presas à gravidade do planeta. Essa região do espaço, que é conhecida como “órbita cemitério”, é o destino final de satélites de comunicação que depois da vida útil ficam pairando sempre sobre o mesmo ponto na superfície terrestre.


O disco de cobre folheado a ouro carregado pela Voyager 1

Inspirado nesta “eternidade”, o artista americano Trevor Paglen decidiu deixar uma mensagem especial para os nossos eventuais visitantes. Com previsão de lançamento para novembro, o satélite EchoStar XVI vai levar a bordo um outro disco, agora de silício, alumínio e ouro, criado especialmente pelo Instituto de Tecnologia de Massachusetts - MIT para durar bilhões de anos, contendo gravações em miniatura, mas com alta definição, de uma coleção de cem imagens reunidas por Paglen, que também fazem parte do livro “The last pictures”, recém-publicado nos EUA pela editora Creative Time e ainda sem previsão de lançamento no Brasil.

- Há muito tempo tenho estudado satélites e dinâmicas orbitais, já que muitos dos meus trabalhos anteriores têm como foco programas e outras iniciativas dos militares e da inteligência dos EUA, como os satélites espiões que dizem não estar lá, mas que podemos ver cruzando o céu - conta o artista.

Paglen, que é um apaixonado pela Astronomia, ainda acrescenta:

- Nesse processo, percebi que alguns satélites de comunicação acabam em órbitas que podemos chamar de eternas, tornando-se objetos que existem fora do tempo. Isso me fez reconhecer que em algum ponto do futuro não haverá mais evidências da passagem da Humanidade pela Terra, mas elas continuarão no espaço, e decidi então contar uma história para este futuro.


Carlos Burle nas ondas da Cidade do Cabo - África do Sul
(foto: Globo Esporte)

Embora tenha consultado cientistas e diversos outros profissionais sobre quais imagens poderiam representar o que ele chama de "momento contraditório" enfrentado pela Gumanidade, Paglen não abriu mão de suas tendências pessoais acerca do conteúdo, tanto que entre as imagens escolhidas está a do big rider brasileiro Carlos Burle, que aparece surfando uma onda gigante na praia de Mavericks, na Califórnia, uma das muitas da seleção que têm como pano de fundo a temática dos oceanos.

- O projeto não tem a intenção de ser uma cápsula do tempo propriamente dita, não é um arquivo ou uma base de dados que represente o que é a Humanidade hoje - explica Paglen, acrescentando que "o resultado é mais um poema, ou um filme mudo, com um significado estético e filosófico próprio, mas também ligado às questões sociológicas e ambientais atuais. As fotos com os oceanos, por exemplo, têm uma relação profunda com nossa habilidade de viver, já que viemos da água, o que estamos fazendo com eles e como, com isso, podemos ser os próximos a desaparecer. Se os ETs chegarem e não nos encontrarem, eles poderão perguntar “por que esta nave está aqui e as pessoas que a fizeram, não?”, encarando o conjunto de imagens como a história de como os humanos cometeram um suicídio coletivo.

Apesar disso, ele garante que sua visão acerca do futuro da Humanidade não é pessimista, já que o caráter melancólico da coleção é um reflexo da condição humana e da própria efemeridade da vida frente às mudanças da natureza:

- A vida complexa na Terra tem 500 milhões de anos e o planeta tem ainda 5 bilhões de anos de existência pela frente, dez vezes mais, então não é controverso dizer que os humanos não estarão aqui daqui a bilhões de anos. É apenas como a vida é, sempre mudando e evoluindo. Mas também creio que vivemos um momento que traz muitas preocupações. O impacto que a Humanidade teve no planeta nos últimos séculos, e ainda tem, é muito maior do que o de qualquer outra forma de vida que já o habitou. E isso se deu não só em terra como também no espaço. Estamos criando nosso futuro todo dia e o que fazemos hoje não some amanhã. Tudo isso terá consequências - concluiu Paglen.

Será que Paglen tem razão? Você também acredita que o planeta pode continuar a existir, mesmo com a extinção da raça humana? E se isso realmente acontecer, você concorda que será importante mostrar detalhes da nossa civilização a hipotéticos visitantes extraterrestres? Deixe o seu comentário.





Sobre o Autor:
Carlos Roberto Carlos Roberto de Oliveira é advogado estabelecido em Nova Iguaçu - RJ. A criação do Dando Pitacos foi a forma encontrada para entreter e discutir assuntos de interesse geral.

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