Nas postagens intituladas "Violência contra a mulher", "Mulheres violentadas", "Intolerância religiosa" e "Família afegã é queimada com ácido por não consentir casamento da filha", o Dando Pitacos abordou a questão do fundamentalismo religioso, onde as maiores vítimas são as mulheres.
Mesmo depois da queda do Talibã (o que não afastou a ação de milícias), as afegãs continuam pagando a parte mais pesada da conta do atraso ditado pelas religiões. Nas ruas, a maioria ainda usa a burca, a roupa que cobre o corpo feminino dos pés à cabeça e que era uniforme compulsório durante o domínio Talibã. Embora as escolas para mulheres não sejam mais proibidas, as estudantes representam uma porcentagem ínfima da população feminina e mais da metade das afegãs ainda se casa antes dos 16 anos de idade – salvo raríssimas exceções, com homens escolhidos por suas famílias.
Na tarde da última terça-feira (09/10) militantes talibãs atacaram e feriram gravemente Malala Yousafzai, uma adolescente de apenas 14 anos, que defende a educação das meninas que vivem em Mingora, uma cidade no Vale de Swat, norte do Paquistão. Ela estava voltando da escola com um colega e um professor, que também ficaram feridos.
- Uma bala atingiu a sua cabeça, mas seu cérebro está a salvo - disse um médico ao jornal Express Tribune.
- Ela é pró-Ocidente, ela estava criticando os talibãs e estava chamando o presidente Obama de seu ídolo. Ela é jovem, mas estava promovendo a cultura ocidental em áreas pashtun - disse o fanático.
Mirza Waheed, ex-editor do site da BBC no Paquistão, conta que no início de 2009, quando ainda trabalhava no escritório da emissora em Londres, recebeu uma sugestão de pauta de um repórter que estava cobrindo a insurgência de militantes do Talibã no Vale do Swat, no Paquistão, liderada por um homem chamado Maulana Fazlullah, que proibiu a televisão, a música e a educação para meninas. O repórter, Abdul Hai Kakkar, aproximou-se de Ziauddin Yousafzai, diretor de uma escola local e tentou convencê-lo a persuadir um dos professores a escrever sobre a vida da população local sob o regime Talibã. Ninguém topou a ideia, à exceção da filha do diretor, Malala Yousafzai, de apenas 11 anos, que se dispôs a escrever diário.
- Nós estávamos cobrindo a violência e a política no Swat minuciosamente, mas nós não sabíamos muito sobre como as pessoas comuns viviam sob o Talibã - disse Mirza, que explicou:
- Nós, por unanimidade, decidimos publicar o diário, mas a segurança de Malala sempre foi uma grande preocupação e decidimos publicá-la sob um pseudônimo.
O "Diário Escolar de uma Menina do Paquistão”, escrito por Malala Yousafzai, passou então a ser publicado sob a assinatura Gul Makki.
- Malala passava páginas do diário escritas a mão ao nosso repórter e ele as escaneava e me enviava - contou Mirza, acrescentando:
- Eu editava o texto de forma a preservar sua franqueza, deixá-lo cru, e às vezes meus olhos se enchiam de lágrimas.
Num dos trechos de seu diário, Malala escreveu:
"Tive um sonho terrível ontem com helicópteros militares e o Talibã. Tenho tido sonhos horríveis desde o início das operações militares no Swat. Minha mãe preparou meu café da manhã e fui para a escola. Tive medo de ir porque o Talibã havia lançado um decreto proibindo meninas de frequentarem escolas. Somente 11 de 27 alunos foram à aula. O número foi diminuindo por causa do decreto talibã"
Os médicos que assistem Malala anunciaram ontem (10/10) que conseguiram remover a bala alojada em sua cabeça e que seu quadro de saúde, em razão disso, é estável.
Não sei o que o governo do Paquistão pode fazer para tentar modificar o atual estado de coisas. Torço, muito, para que Malala sobreviva, e que o seu sonho de liberdade não desapareça diante da violência dos fanáticos religiosos que a agrediram, e muito pelo contrário, se multiplique na mente do povo paquistanês. E você, que mensagem mandaria à menina Malala?
Carlos Roberto de Oliveira é advogado estabelecido em Nova Iguaçu - RJ. A criação do Dando Pitacos foi a forma encontrada para entreter e discutir assuntos de interesse geral. |