Banner postado no Facebook |
Durma-se com um barulhos destes! Em meio a um emaranhado de críticas em razão de sua escolha para presidir a Comissão de Direitos Humanos da Câmara dos Deputados, o deputado-pastor Marco Feliciano (PSC-SP) tenta transformar a polêmica em uma cruzada religiosa. Para tanto, ele veiculou um banner no Facebook, convocando líderes evangélicos e católicos de Ribeirão Preto e arredores para uma reunião amanhã, segunda-feira (11/03).
Feliciano garante que “estamos vivenciando a maior de todas as batalhas contra a família brasileira”, já que a igreja “está sendo bombardeada” por “mentiras insinuadas por grupo de bandeira LGTB (gays, lésbicas, bissexuais e travestis)”.
Mansão do deputado-pastor em Orlândia-SP (foto: O Globo/Mariana Martins) |
Processado no Supremo Tribunal Federal - STF por estelionato, e envolvido em acusações de racismo e homofobia, Feliciano vive no conforto de uma mansão e coleciona carrões importados, o que chama a atenção na bucólica paisagem de Orlândia, cidade de 39 mil habitantes no interior de São Paulo.
Na Assembléia de Deus do Tempo de Avivamento, igreja por ele fundada em 2008, sua história de vida é o objeto de livros e DVDs, onde o próprio deputado revela seu envolvimento com as drogas, vício experimentado aos 17 anos, num período em que esteve afastado da igreja.
- Fui viciado em cocaína, estava perdido na vida, mas me recuperei - revela.
Quando o assunto é dinheiro, Feliciano garante que não embolsa nem um centavo do dízimo arrecadado em sua igreja e nos outros 13 templos por ele controlados na região, apesar de entender que pedir dinheiro ao fiéis não é um problema.
- Não me envergonho da oferta. O dízimo está na Bíblia. O PT também cobra dízimo dos seus filiados - diz ele, misturando igreja e política no mesmo embrulho sujo.
O deputado admite que sua convivência com algumas figurinhas carimbadas da política brasileira o ajudaram a se decidir pela vida parlamentar. Ele diz ter colaborado até mesmo com as campanhas do governador do Rio, Sérgio Cabral (PMDB) e com o deputado federal Eduardo Cunha (PMDB-RJ).
- Sempre me convidaram e nunca aceitei. Mas vi que havia uma reação de certos setores da sociedade contra os evangélicos e que precisava ajudar naquela momento.
Se ele foi viciado em drogas, se é um estelionatário ou enriqueceu explorando a boa-fé das ovelhas que compõem o seu rebanho, pouco importa, até porque a política e a religião estão cheias de exemplos semelhantes. O que não se entende é que a ele se dê a missão de presidir justamente a Comissão de Direitos Humanos da Câmara dos Deputados.
Com efeito, escolher alguém com os pensamentos e ideias de Marco Feliciano para a presidência de um órgão dessa natureza, disse eu numa postagem anterior, "é o mesmo que entregar à raposa a chave do galinheiro, principalmente se considerarmos que um de seus "parceiros" é Jair Bolsonaro, um radical perdido entre conceitos medievais, incapaz de aceitar ou admitir as diferenças entre seres humanos, o que repito, tem a garantia da Constituição Federal, que prevê a igualdade entre todos os cidadãos brasileiros, "sem distinção de qualquer natureza". Por que não usar de um pouco mais de bom senso, pelo menos isso, na escolha do parlamentar que vai dirigir um órgão de tanta importância na luta pelos direitos humanos? Por que entregá-lo justamente nas mãos de quem, de maneira pública, já se mostrou incapaz de respeitar tais direitos? O Brasil é um país laico, que admite e respeita toda e qualquer manifestação religiosa. Por que enveredar pelo perigoso caminho do confronto? O que querem os nossos políticos? Uma guerra religiosa? Qual a sua opinião? Deixe um comentário.
Sobre o Autor:
Carlos Roberto de Oliveira é advogado estabelecido em Nova Iguaçu - RJ. A criação do Dando Pitacos foi a forma encontrada para entreter e discutir assuntos de interesse geral. |