O mundo festeja hoje, 08 de março, O Dia Internacional da Mulher, uma comemoração que ainda não tem 40 anos, mas que nasceu de um fato trágico, quando 141 dos 500 trabalhadores que estavam na Triangle Waist Company, entre os quais mulheres, crianças e adolescentes italianos e judeus europeus, morreram em um incêndio. Ali se começou a enxergar as condições desumanas a que eram submetidos os operários das grandes indústrias, mas principalmente as mulheres.
De lá pra cá muita coisa mudou, é verdade, mas é preciso avançar nos direitos da mulher, mas não só da mulher branca, bonita, bem nascida e culta, mas também da mulher oriunda das camadas mais pobres da nossa sociedade. Refiro-me às mulheres, brancas ou negras, das comunidades carentes, e às indígenas de todo o país, que hoje nada têm a comemorar. Aliás, elas nem sabem que a data existe.
Dados do Censo de 2010, divulgados em dezembro de 2012, pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estátistica - IBGE, dão conta de que o número de mulheres ocupadas cresceu cerca de 24% em 10 anos.
Ainda de acordo com o IBGE, as mulheres também têm o maior percentual com nível superior entre a população ocupada, cerca de 19,2%, em comparação com os homens, que é de 11,5%. Mesmo assim, o percentual de mulheres no mercado de trabalho brasileiro ainda é menor que o de homens. De acordo com o último Censo, cerca de 63% da população ocupada no país ainda é de homens. Pior que isso, só os salários mais baixos adotados por boa parte do mercado de trabalho brasileiro, mesmo quando a mulher exerce função laboral idêntica à do homem.
Por outro lado, e tão importante quanto a desigualdade no campo profissional, é preciso combater, de forma mais dura e objetiva, no Brasil e em todo o mundo, a violência contra a mulher.
Para que você tenha uma ideia da gravidade da situação, aqui no Brasil, no ano passado, o Sistema Único de Saúde - SUS recebeu, em hospitais e clínicas particulares, a cada hora, uma média de duas mulheres com sinais de violência sexual, segundo dados do Ministério da Saúde.
O número de agressões contra mulheres relatadas ao governo federal por meio do serviço Ligue 180, por exemplo, cresceu 600%, na maioria das vezes (57%) envolvendo relatos de agressões físicas. O ano de 2012 fechou com 88.685 registros de de agressão. Em 2006, ano da promulgação da Lei Maria da Penha, foram 12.664 casos.
Na Rússia, milhares de mulheres morrem por ano, e as que sobrevivem são obrigadas a sofrer em silêncio, simplesmente porque lá a violência doméstica não é considerada crime.
Cerca de 60 mil estupros (especialistas acham que esse número pode chegar a 600 mil em razão do silêncio das vítimas) são denunciados anualmente na África do Sul, o que é mais que o dobro das denúncias registradas na Índia, país que uma população 24 vezes maior que a sul-africana.
Tudo isso vem acontecendo no momento em que a comunidade internacional discute na Organização das Nações Unidas - ONU a violência contra a mulher, debate que se desenvolve em um clima de comoção depois dos brutais estupros coletivos de jovens na Índia, o que desencadeou uma onda de revolta popular.
Por isso, a sociedade deve se unir e buscar o fim de conceitos e regras discriminatórias que ainda perseguem e estigmatizam a mulher. É preciso, urgentemente, dar um basta na violência contra ela praticada a cada instante em todos os cantos do planeta, mas principalmente em países mais pobres como os do Continente Africano (os números acima não deixam qualquer dúvida) onde a mulher, sem dignidade em razão das agressões sofridas, apenas luta para defender sua existência miserável.
Por isso, vamos festejar todas as nossas e todas as mulheres do mundo, mas sem esquecer daquelas que ainda são vítimas de brutalidades em todos os cantos do Brasil e do restante do planeta, especialmente as menos favorecidas pelas condições sociais, geográficas, raciais e religiosas.
Carlos Roberto de Oliveira é advogado estabelecido em Nova Iguaçu - RJ. A criação do Dando Pitacos foi a forma encontrada para entreter e discutir assuntos de interesse geral. |