20 abril 2013

Brincadeira anula juramento e atrasa formatura de alunos da PUC-Rio


Inteligência, bom-senso e respeito por determinadas regras parecem não ser o forte de alguns jovens que chegam ou saem das universidades brasileiras. Além da questão dos trotes, quase sempre violentos, racistas ou machistas, a garotada (maioria nestas ocasiões) não mede a consequência de seus atos, e de vez em quando atrapalha a própria vida e a dos colegas. Um exemplo disso aconteceu em janeiro deste ano na formatura de uma turma da faculdade de Cinema na Pontifícia Universidade Católica - PUC do Rio de Janeiro.

Na hora do juramento, a aluna responsável pela leitura do texto resolveu fazer um pequeno "adendo" e acabou atrasando a própria formatura e de toda a turma. Ela acrescentou a expressão "ou não" ao final de cada tópico lido, invertendo completamente o sentido da frase e descaracterizando a cerimônia.

"Prometo exercer minha profissão/ com espírito de quem se entrega / a uma verdadeira missão de serviço / tendo sempre em vista o bem comum; ou não; 
Dedicar-me a conhecer e avaliar / a realidade social / e aprofundar meus conhecimentos / a fim de satisfazer as necessidades da sociedade; ou não; 
Aplicar-me à busca da verdade / à realização da justiça / e à defesa dos direitos fundamentais do homem, ou não".

Como sempre acontece, todos os formandos acharam muita graça e acabaram repetindo as palavras da "espirituosa" colega, o que fez com que o juramento fosse anulado, atrasando em alguns meses a colação de grau de 30 docentes do período 2012.2, já que cerimônias alternativas tiveram que ser marcadas para março e abril deste ano.

A partir da anulação, os formandos de Cinema só puderam assinar a ata de colação de grau meses depois dos outros alunos que se formaram em Comunicação Social, o que acabou gerando problemas.

Maria Eduarda Barreiro, por exemplo, aprovada em um processo seletivo, deveria ter comprovado a sua colação de grau até a última terça-feira (16/04), o que não foi possível, já que a assinatura do documento só aconteceu na quinta-feira (18/04) e ele só lhe foi entregue ontem, sexta-feira (19/04). Para não perder a vaga na empresa, Maria Eduarda comprometeu-se a entregar o certificado de conclusão do curso em Curicica, sede do Projac, no mesmo dia da liberação pela PUC.

- Numa universidade particular, com quase 2 mil reais de mensalidade, esse tipo de serviço é um absurdo. Poderia haver uma intervenção na hora da brincadeira ou pelo menos que o juramento não fosse anulado - criticou Maria Eduarda.

A cerimônia foi presidida pelo diretor do Departamento de Comunicação Social, professor César Romero, que poderia ter interrompido a solenidade no momento em que a aluna alterou o texto (que é padrão para todas as formaturas na PUC-Rio) pela primeira vez, o que ele preferiu não fazer, optando por enviar o vídeo do juramento à reitoria da universidade.

- Os pais estavam felizes, não quis estragar aquele momento. Ela começou a fazer a "brincadeira" e eu percebi que alguns alunos não estavam entendendo e, por isso, não repetiam o juramento, como deveriam fazer. Achei que a paralisação poderia gerar um bate-boca no momento. Peguei o vídeo e levei para a administração geral da universidade, para que eles decidissem o que fazer. Eles resolveram pela anulação da cerimônia e a marcação de uma nova data. O juramento é um ato sério, não pode ser levado na brincadeira - explicou Romero, acrescentando que o fato pode e deve servir de exemplo para os novos formandos.

Ainda de acordo com Romero, a aluna responsável pela brincadeira fez-se presente na primeira remarcação do juramento e pediu desculpas aos colegas.

- Eu sei que eu fui imatura, mas não quis causar problema e polêmica com ninguém. Essa história está virando uma bola de neve. Eu escrevi uma carta com um pedido de desculpas para a universidade, os alunos e os familiares logo depois do ocorrido. Eu sinto muito - disse a moça, que pediu para não ter o nome divulgado.

Confira alguns trechos da carta que ela endereçou à reitoria da PUC:

"Quando, no dia 25/01, última sexta-feira, recebi seu telefonema, informando-me sobre a gravidade da minha negligência ao "brincar" no momento em que, representando a turma de Cinema, prestava o juramento da carreira que ali se iniciava e que assumíamos seguir, fiquei tão surpresa e assustada que mal consegui externar ao senhor a minha angústia, a minha preocupação e o meu sincero desconhecimento sobre a seriedade e as consequências desse meu ato imprudente.

Confesso, senhor Vice-Reitor, que não havia entendido realmente a formalidade e a importância daquela Cerimônia.

É com muito constrangimento e humildade que venho por meio desta apresentar minhas mais sinceras desculpas pelo constrangimento e mal-estar que causei à nossa Instituição, à comunidade acadêmica e, em especial, aos dirigentes da PUC-Rio e aos meus colegas e suas famílias.

Gostaria de ressaltar que, de fato, não era essa a minha intenção. Reconheço, hoje, que agi imprudentemente, não tendo medido as sérias consequências de minha ação.

(...)

Foi o que me aconteceu e peço as mais sinceras desculpas. Este "pontapé" na vida adulta foi muito importante para mim, com esse erro aprendi que certas liturgias devem ser respeitadas, pois são sagradas e indeléveis."

Dando cá o meu pitaco, não tenho dúvidas de que a PUC agiu corretamente, já que as regras são criadas para serem respeitadas, o que a própria aluna que deu causa ao problema reconhece. Acho, também, que antes de criticar a universidade, a jovem Maria Eduarda deveria, isto sim, lamentar e insurgir-se contra a atitude da coleguinha que alterou o texto do juramento. Ou não!?






Sobre o Autor:
Carlos Roberto Carlos Roberto de Oliveira é advogado estabelecido em Nova Iguaçu - RJ. A criação do Dando Pitacos foi a forma encontrada para entreter e discutir assuntos de interesse geral.

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