14 junho 2013

As duas faces da violência

Polícia e manifestantes em São Paulo (foto: reprodução)

A região central do Rio de Janeiro - RJ amanheceu nesta sexta-feira (14/06) com a aparência de uma verdadeira praça de guerra depois do protesto contra o aumento das passagens de ônibus, que na noite de ontem reuniu mais de duas mil pessoas. Diversos pontos de ônibus e vidraças de edifícios, inclusive o da Embratel, foram depredados na Avenida Presidente Vargas, e na Assembleia Legislativa do Rio - ALERJ, as paredes foram pichadas. Pedras portuguesas usadas para os atos de vandalismo ainda estão espalhadas pelas calçadas da Presidente Vargas e funcionários dos edifícios atingidos trabalham na limpeza. As entradas das agências bancárias do Itaú, Santander e Bradesco foram destruídas por pedradas.

Em São Paulo - SP, no quarto, maior e mais violento dos protestos até aqui realizados, manifestantes e policiais entraram mais uma vez em confronto, o que resultou em vários feridos, entre os quais figuram alguns jornalistas, 235 pessoas detidas, a maioria para averiguação, e 4 presos por formação de quadrilha, sem direito a pagamento de fiança.

No Rio Grande do Sul - RS, a Brigada Militar prendeu 18 manifestantes durante outro protesto realizado ontem (13/06), também contra o aumento das passagens de ônibus. Segundo a polícia militar gaúcha, as prisões ocorreram porque os manifestantes depredaram vidraças de bancos e incendiaram contêineres de coleta de lixo, formando barricadas na avenida João Pessoa, uma das principais do centro de Porto Alegre, além de picharem vidros de ônibus e muros de prédios. No total, sete capitais brasileiras registraram protestos sobre o mesmo tema: a majoração do preço das passagens de ônibus.

É lamentável que em pleno século XXI, autoridades e manifestantes, independentemente da causa, não consigam solucionar suas pendências através da negociação, do diálogo. E o pior de tudo: quando a baderna se instaura, o maior prejudicado é o povo, que na tentativa de voltar para casa depois de um dia de trabalho, acaba virando alvo da violência dos dois grupos.

Nessa brincadeira, ninguém duvide, há cretinos e excessos dos dois lados: policiais, não raro, por má formação ou índole, abusam da força e do poder que o Estado lhes concede, mas os manifestantes, convenhamos, não podem, não deveriam, não têm o direito de agredir e impedir o direito de ir e vir das pessoas, e muito menos, de destruir o patrimônio público ou particular. Além das pedras atiradas, alguns "estudantes" foram presos carregando até mesmo coquetéis molotov em suas mochilas. Há informação, inclusive, que um deles teria sido surpreendido tentando colocar um explosivo numa estação do Metrô paulista. Por causa do aumento de uma passagem de ônibus!?

A grande verdade, e este sim, é o maior e mais grave problema do país já há alguns anos, é que a impunidade começa a dar seus frutos. Há um mal estar geral na sociedade a partir da omissão da lei em punir corruptos e corruptores hoje encastelados no poder. Os desmandos cometidos são tantos que já não podem ser enumerados. Mas escândalos como o mensalão, a Construtora Delta, verdadeira arapuca armada para beneficiar os atos de corrupção praticados por Carlinhos Cachoeira e raposas felpudas da política fluminense e de todo o restante do país, as obras superfaturadas e feitas a toque de caixa Brasil afora para atender às necessidades da Copa das Confederações, da Copa do Mundo de 2014 e Olimpíadas de 2016, pode ser que eu esteja errado, funcionam como estímulo à violência e criminalidade que hoje faz vítimas nos quatro cantos dessa terra maravilhosa, infelizmente contaminada pelo câncer da política rasteira e fisiológica. Há poucos dias, por exemplo, um ministro de Estado, Gilberto Carvalho, deixou escapar que a presidente Dilma Rousseff ordenou que não se cumprisse uma determinação da Justiça, o que os bombeiros de plantão e a própria Dilma correram a desmentir.

A liberdade de expressão é garantia prevista na Constituição Federal, que também protege a propriedade e o direito de ir e vir do cidadão. A partir daí, chega-se à conclusão de que os dois lados, polícia e manifestantes, em todas as manifestações até aqui ocorridas, têm pecado pelo excesso, desrespeitando o direito de uma população surpreendida no meio de uma batalha insana travada entre seres humanos incapazes de se sentar em torno de uma mesa de negociações, o que é lamentável.




Sobre o Autor:
Carlos Roberto Carlos Roberto de Oliveira é advogado estabelecido em Nova Iguaçu - RJ. A criação do Dando Pitacos foi a forma encontrada para entreter e discutir assuntos de interesse geral.

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