03 junho 2013

Professora brasileira considera-se uma rainha na profissão

Luciana Pölönen dá aulas de português em Espoo, na Finlândia (Foto: Arquivo pessoal)

Luciana Pölönen, baiana de Salvador, 26 anos, formada em letras pela Universidade Federal da Bahia - UFBA, diz que se sente uma verdadeira rainha no exercício de sua profissão, que é extremamente valorizada porque onde ela leciona "o professor é o pilar da sociedade".

Você deve estar se perguntando onde é que Luciana dá aulas. Deve estar curioso para saber como ela consegue sentir-se "uma rainha" como professora, e claro, em quantas escolas ela trabalha para ganhar R$ 6.500 por mês. Será que os professores já fazem parte daquele Brasil maravilhoso da propaganda veiculada pelo governo federal, o chamado "país de todos"? Não se iluda, caro leitor! Continue lendo a matéria e você vai entender direitinho a história da professora baiana.

Luciana mudou-se para a Finlândia, país com a melhor educação do mundo, em 2008, com o objetivo de fazer mestrado e desde 2010 faz parte do corpo docente finlandês. E foi naquele país, situado no Norte da Europa, que ela encontrou mais do que um simples emprego e meio de sobrevivência, mas sua valorização como professora.

- Eu me sinto como uma rainha ensinando aqui. Ser professor na Finlândia é ser respeitado diariamente, tanto quanto qualquer outro profissional! - afirma a brasileira, hoje casada com um finlandês, com quem teve uma filha, Eeva Cecília, de três anos. Ela está grávida à espera de um menino.

Como não poderia deixar de ser, a comparação com sua experiência escolar no Brasil é inevitável.

- No Brasil só dei aulas em cursos, mas estudei em escola pública, sei como é. Sofria bullying, apanhava porque falava o que via de errado e os professores não tinham o respeito dos pais - diz Luciana.

A Finlândia, durante quatro anos consecutivos, ficou entre os primeiros lugares no Programa Internacional de Avaliação de Alunos - PISA, que mede a qualidade de ensino. E a receita para isso, ao contrário do que pensam os burocratas do ensino brasileiro, é bem simples. Numa passagem por São Paulo na semana passada, a diretora do Ministério da Educação e Cultura finlandês, Jaana Palojärvi, disse que o sucesso do sistema de ensino de seu país não tem nada a ver com métodos pedagógicos revolucionários, uso da tecnologia em sala de aula ou avaliações nacionais: o segredo é treinar o professor e dar liberdade para ele trabalhar.

O método é aprovado por Luciana, que há dois anos dá aulas na Escola Europeia de Helsinque, capital da Finlândia, de nível fundamental e médio, e há cerca de um ano leciona português em uma escola de ensino fundamental em Espoo, cidade próxima à capital. A brasileira passou por avaliação do histórico escolar da universidade, teve que enviar uma carta pessoal expondo suas intenções e enfrentou uma entrevista, uma espécie de prova oral feita em inglês.

- Dou aula de português porque toda criança falante de duas línguas tem o direito ao ensino de uma língua estrangeira na escola. Ou seja, todos os filhos de brasileiros têm direito ao ensino de português como língua mãe - explica a jovem professora.

Pelo trabalho nas duas escolas, Luciana ganha 2.500 euros, o equivalente a R$ 6.500. Seu contrato ainda é temporário porque ela não finalizou o mestrado e só termina a dissertação no fim do ano. Por isso, há uma redução de 15% em seu salário e nas tarefas extras.

- Tenho total liberdade para avaliar meu aluno, tenho a lista de coisas de que ele tem de aprender até o fim do ano, mas como vou fazer fica a meu critério. Não preciso aplicar prova a toda hora, nem justificar nada para o coordenador - explica Luciana, acrescentando: "Temos cursos de aperfeiçoamento sem custo, descontos em vários lugares com o cartão de professor, seguro viagem, entre outros."

Na opinião da professora de Salvador, os alunos aprendem porque há um comprometimento eles, seus pais e toda a comunidade.

- Eles aprendem o respeito desde pequenos, a honestidade vem em primeiro lugar. As pessoas acreditam umas nas outras e não é necessário mentir. Um professor quando adoece pode se ausentar até três dias. Funciona muito bem - revela Luciana.

Como se pode ver, não há tecnologia ou métodos pedagógicos revolucionários que funcionem onde o professor é tratado como coadjuvante. Treinado, responsável, motivado, o que se consegue com respeito profissional e salários condizentes com a importância de seu trabalho, o professor é o início, é a base da sociedade. Por isso, o que é muito triste, Luciana deixou a Bahia para ser coroada "rainha" na Finlândia...






Sobre o Autor:
Carlos Roberto Carlos Roberto de Oliveira é advogado estabelecido em Nova Iguaçu - RJ. A criação do Dando Pitacos foi a forma encontrada para entreter e discutir assuntos de interesse geral.

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