14 agosto 2013

Onde estão os 92 mil Amarildos desparecidos no Rio?

Foto: Dando Pitacos

Hoje (14/08) fazem trinta dias que Amarildo de Souza, ajudante de pedreiro para a comunidade da Rocinha, traficante de drogas para a polícia, desapareceu, o que levou a Anistia Internacional a lançar uma campanha na página oficial da instituição no Facebook com o objetivo de mobilizar a sociedade a exigir das autoridades a rigorosa apuração do caso. Na página da rede social a instituição convoca a população a enviar fotos com a pergunta: "Onde está Amarildo?"

Amarildo desapareceu depois de ter sido levado por policiais militares que participavam de uma operação militar, a Paz Armada, para a Unidade de Polícia Pacificadora - UPP da Rocinha, para "dar informações" sobre possíveis envolvidos no tráfico de drogas da favela. Seu sumiço é parte de uma triste rotina no Rio de Janeiro, o que se afirma com base em dados do Instituto de Segurança Pública - ISP, reveladores de que no Estado ocorrem, em média, 15 casos diários de desaparecimento motivados por desavenças familiares, doenças mentais e assassinatos.

Ontem (13/08), atores e integrantes da ONG Rio de Paz fizeram um ato na escadaria da Assembléia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro - ALERJ para protestar contra o grande número de pessoas desaparecidas. Pintados de vermelho, numa forma de simbolizar o sangue de pessoas mortas, eles se deitaram no chão enrolados em lençóis brancos. Os pneus que também fizeram parte da encenação representavam o “forno micro-ondas” usado por traficantes para queimar suas vítimas. A intenção, segundo Antonio Carlos Costa, coordenador da Rio de Paz, foi lembrar o assassinato e desaparecimento das vítimas:

- A estatística oficial de homicídios dolosos está aquém da realidade. O Rio está coberto de cemitérios clandestinos. A Baía de Guanabara está repleta de corpos ocultados. Há um número incontável de desaparecidos.

No mesmo instante, dentro da ALERJ, uma audiência pública era realizada, e nela Fábio Araújo, sociólogo e professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro - UFRJ, mostrou os dados de uma pesquisa sobre desaparecimentos, também com base nas estatísticas do ISP, segundo a qual, entre 1991 e maio deste ano, o Estado do Rio registrou 92 mil casos de desaparecidos.

O deputado Marcelo Freixo (PSOL), presidente da Comissão de Direitos Humanos da ALERJ, propôs a criação de um grupo de trabalho, unindo parlamentares, Ministério Público, ISP, Polícia Civil e Secretaria de Segurança, para orientar parentes de pessoas desaparecidas.

- Nós temos que organizar melhor as propostas. Uma CPI pode ser necessária se outros instrumentos forem esgotados. O mais importante, de imediato, é dar assistência a essas famílias e ter os dados mais trabalhados. Precisamos de um setor específico da Secretaria de Segurança para cuidar desses casos - afirmou o parlamentar.

Lá estavam também parentes de Amarildo e de Patrícia Amieiro, engenheira desaparecida em julho de 2008 na Barra. Emocionados, eles cobraram providências que ajudem a encontrar os corpos de seus familiares. Marionice de Souza, irmã de Amarildo, disse que a família permanece na Rocinha e teme ser ameaçada pelos policiais que continuam no local:

- A injustiça continua lá na Rocinha. Os policiais continuam na favela ameaçando todo mundo. Todos têm medo de que a história de Amarildo se repita. Queremos policiais para nos ajudar, nos proteger e não para nos hostilizar. Não vou me calar, porque criei meu irmão para ser um homem de bem. Será que todo mundo que mora na favela é traficante?

Adriano Amieiro, irmão de Patrícia Amieiro, revelou que sua família vive à espera da chegada de sua irmã, apesar de acharem que isso que não vai acontecer. Ele espera que os policiais acusados de matar e sumir com o corpo de Patrícia sejam punidos:

- Minha irmã sumiu há cinco anos e sabemos que o corpo jamais será encontrado. Sabemos que os policiais a mataram e ocultaram o corpo.

O bom policial não pode pagar pelos crimes do mau policial, mas todos sabemos que a maçã podre faz apodrecer todas as maçãs do cesto. Para que isso não aconteça, para o bem da própria Polícia Militar do Estado do Rio de Janeiro, é preciso que as autoridades sejam duras, rápidas e enérgicas na apuração das responsabilidades, regra que não tem sido obedecida na Cidade Maravilhosa, onde reinam, intocáveis, a baderna e a corrupção política. A mesma dor hoje sentida por parentes de desaparecidos não escolhe endereços, e se nada for feito, como vem acontecendo nos últimos anos, ela continuará batendo à porta do cidadão. Hoje foi o seu vizinho, amanhã poderá ser você. Não fique parado! Lute! Proteste nas redes sociais! Participe dos movimentos de rua, pacificamente, é claro! 





Sobre o Autor:
Carlos Roberto Carlos Roberto de Oliveira é advogado estabelecido em Nova Iguaçu - RJ. A criação do Dando Pitacos foi a forma encontrada para entreter e discutir assuntos de interesse geral.

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