Foto: reprodução/Facebook |
Os protestos novamente tomaram conta do país nas comemorações do Sete de Setembro. Em várias cidades, como Rio de Janeiro e São Paulo, grupos menores agiram com violência, causando prejuízos ao patrimônio público, e porque não dizer, medo aos próprios manifestantes que faziam suas reivindicações em clima de paz. Pelo menos 212 pessoas foram detidas e mais de 30 acabaram feridas.
Em Brasília, a ação de um capitão da tropa de choque da Polícia Militar causou revolta aos integrantes de um grupo que carregava uma bandeira e pretendia chegar ao Congresso Nacional após o desfile. O militar, identificado como Bruno, passa perto do grupo, que estava sentado no gramado próximo à rodoviária e dispara o spray de gás lacrimogênio contra alguns manifestantes, que não reagem. Um deles questiona o policial.
- Capitão Bruno, a gente não ultrapassou o limite que o senhor impôs e mesmo assim o senhor agrediu a gente com gás - diz o jovem.
- Sim - responde o capitão.
O manifestante insiste:
- Por quê?
- Porque eu quis. Pode ir lá denunciar - responde o capitão, sorrindo de forma debochada.
Antes disso acontecer, o que você pode conferir no vídeo abaixo, o militar disse aos manifestantes que eles não deveriam passar de um determinado ponto, o que parece ter sido confirmado por outro oficial, que de forma truculenta apressou-se em dizer que o uso do gás estaria liberado se alguém ultrapassasse o tal limite.
Os jovens, mostrando-se indignados, criaram uma página no Facebook com o objetivo de divulgar o caso e buscar a adesão do maior número de pessoas para denunciar a agressão à Corregedoria da Polícia Militar, o que não deve surtir nenhum resultado prático, já que para o comandante da corporação, coronel Jooziel de Melo Freire, a ação do policial foi “corretíssima”.
- Ele não fez nada demais. Ele foi perguntado e respondeu que fez porque quis. Que crime é esse? - indagou a autoridade, esclarecendo, porém, que a Polícia Militar vai “apurar todas as denúncias, inclusive a do Bruno.”
Freire continuou defendendo o policial.
- O rapaz que estava filmando ficou o tempo inteiro instigando o Bruno, que é um dos policiais mais cordatos da corporação, só falta asa para chamar aquele cara de anjo. O Bruno já estava de saco cheio. E ele só cumpriu a ordem do comandante, que disse que era para usar gás lacrimogêneo se o grupo ultrapassasse a linha - afirmou o coronel.
(Foto: André Coelho/Agência O Globo) |
Em outro momento, próximo ao Estádio Nacional de Braília, os fotógrafos Fábio Braga (da Folha) e Marcelo Marcelino, foram atacados por cães conduzidos por policiais.
O vídeo não mostra, e como adivinhar ainda é proibido, não dá para afirmar se os jovens ultrapassaram ou não a faixa delimitada pela polícia. Se isso não aconteceu, o que é uma probabilidade, por que o oficial fez uso do gás lacrimogênio? Ainda que os manifestantes tenham desobedecido o que ficou combinado, por que a resposta debochada? É esse o treinamento recebido pela Polícia Militar, ainda mais em se tratando de um oficial? Foi correta a posição adotada pelo comandante da corporação ao dizer que "o Bruno já estava de saco cheio" com as supostas provocações do "rapaz que estava filmando"? O policial que sai às ruas em situações tais deve agir de acordo com o seu "saco" ou em respeito às regras estabelecidas nos manuais de conduta da instituição? Por outro lado, que perigo o atuar de um simples fotógrafo pode representar para a integridade do policial ou o sucesso do desfile a ponto de justificar o uso de cães? Afinal, de que lado estão os vândalos?
Carlos Roberto de Oliveira é advogado estabelecido em Nova Iguaçu - RJ. A criação do Dando Pitacos foi a forma encontrada para entreter e discutir assuntos de interesse geral. |