28 outubro 2013

Jovens transexuais alegam constrangimento em prova do Enem

Ana Luiza e Beatriz (foto: reprodução)

Ana Luiza Cunha de Silva, de 17 anos, e Beatriz Marques Trindade Campos, de 19 anos, candidatas transexuais que prestaram o Exame Nacional do Ensino Médio - Enem, relataram ter sofrido constrangimento na hora em que apresentaram seus documentos de identidade aos fiscais das salas de prova no último sábado (26/10) porque usam um nome social diferente do nome indicado em suas cédulas de identidade. Elas só tiveram acesso ao caderno de provas do primeiro dia do exame depois de um longo processo de conferência de dados.

Ana Luiza, que adotou seu nome social aos 14 anos, explicou que no sábado já estava sentada na carteira quando foi retirada da sala, em Fortaleza, e teve que passar por duas outras salas até ser liberada para fazer as provas de ciências humanas e ciências da natureza. Segundo ela, todo o processo durou entre 15 e 30 minutos, o que não a prejudicou no exame, já que chegou ao local do certame antes mesmo da abertura dos portões. Ela conta que foi levada primeiramente à sala de uma subcoordenadora de provas do Enem.

Ela foi verificar a identidade, e perguntou por que não mudei meus documentos", tendo a adolescente esclarecido que já fez contato com advogado para solucionar o problema, o que ainda não foi possível porque, segundo o profissional, no Brasil o processo de troca do nome civil só pode ser iniciado aos 18 anos, idade que ela só vai alcançar em março de 2014.

Ainda de acordo com Ana Luiza, o problema não se repetiu no segundo dia de provas.

Hoje (domingo) eles inclusive me pediram desculpa por terem feito perder um pouco de tempo. As moças hoje todas foram super educadas comigo. O jeito que me trataram foi bem melhor. Acho que foi surpresa (para as fiscais) porque a foto estava muito diferente. Me trataram como se a identidade não fosse minha. Não vi nenhum tipo de defeito, mas acho que estavam de certa forma despreparados."

Beatriz, que mora em Sete Lagoas - MG, esclareceu que esta foi a segunda vez que fez as provas do Enem e que o comportamento dos fiscais foi o mesmo: no primeiro dia, surpreendidos com o fato de sua carteira de identidade estampar um nome masculino e uma foto com a qual ela não se parece mais, eles a trataram com desconfiança e demoraram para liberar sua entrada à sala de provas.

Perguntaram se era eu mesma, coisas assim, mas no final deixaram entrar", contou a jovem, o que já não aconteceu no segundo dia, porque os fiscais são os mesmos e a entrada é automática. Ela explicou que se sentiu constrangida porque o processo de conferência de sua identidade aconteceu na frente dos outros candidatos, principalmente porque a sala em que fez sua prova estava cheia de homens. Ela acha que o formulário de inscrição do Enem deveria permitir que candidatos e candidatas transexuais anotassem o nome social pelo qual querem ser tratados durante o processo de aplicação e correção, o que segundo ela, já acontece na faculdade de Direito que frequenta.

Na verdade, a inclusão e aceitação dos transexuais, que não se limitam a Ana Luiza e Beatriz, não é problema apenas do Enem, mas de toda a sociedade brasileira, que tem enormes dificuldades para evoluir, principalmente na questão do respeito às liberdades individuais. Você concorda? Discorda? Deixe o seu comentário.


G1



Sobre o Autor:
Carlos Roberto Carlos Roberto de Oliveira é advogado estabelecido em Nova Iguaçu - RJ. A criação do Dando Pitacos foi a forma encontrada para entreter e discutir assuntos de interesse geral.

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