O país viveu ontem (04/02) mais um apagão, com reflexos diretos sobre as regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste, além do Tocantins, no Norte. No total, foram 11 os Estados atingidos, o que afetou a vida de 6 milhões de pessoas em cerca de 1,5 milhão de unidades consumidoras, segundo estimativas de Hermes Chipp, diretor geral do Operador Nacional do Sistema Elétrico - ONS, que fez o cálculo baseando-se na média de densidade populacional de todos os Estados das regiões Sudeste, Centro-Oeste e Sul, considerando quatro moradores por residência atingida. Já são 181 apagões no país desde janeiro de 2011, número que inclui todas as falhas de energia, independentemente do tamanho da área afetada, do período ou da carga interrompida, segundo um levantamento feito pelo Centro Brasileiro de Infra Estrutura - CBIE.
Apesar disso, o secretário-executivo do Ministério de Minas e Energia, Márcio Zimmermann, que não soube informar as causas do acidente, nega, de pés juntos, que a falha ocorrida ontem nas regiões esteja relacionada com o aumento do consumo de energia nas últimas semanas, provocado pelo calor.
Segundo ele, não houve “desligamento descontrolado” e a interrupção no fornecimento de energia foi provocada por um sistema automático que atua na rede de transmissão de energia elétrica e impede que uma falha cause problemas maiores.
- Aparentemente, o sistema funcionou como deveria funcionar. Poderia ter acontecido como em outros eventos, como quando apagou o Nordeste todo - disse Zimmermann, referindo-se ao episódio ocorrido em agosto do ano passado, quando uma queimada em uma fazenda do Piauí atingiu a rede de distribuição de energia e levou à falta de luz todos os estados da Região Nordeste.
Zimmermann afirmou ainda que não existe risco de faltar energia no país devido à estiagem e queda no nível dos principais reservatórios de hidrelétricas, problema, segundo ele, que "um sistema como o nosso é planejado para lidar”.
O discurso é o mesmo do ministro de Minas e Energia, Edison Lobão, que um dia antes do apagão, fanfarrão como sempre, disse que é “zero” o risco de faltar energia no país por conta da queda no nível dos reservatórios de hidrelétricas.
A grande verdade, e é dela que o governo federal tenta fugir, é que falta estrutura ao nosso sistema elétrico, faltam linhas de transmissão, faltam informações ao cidadão que paga seus impostos e volta e meia é surpreendido com os apagões que infernizam e dificultam o seu cotidiano, o que poderia ser evitado se o país tivesse a gestão que seu povo merece.
Muitos não sabem, mas as condições de clima e relevo, somadas ao progresso tecnológico, fizeram com que o Global Wind Energy Council, instituição que agrupa organizações e empresas do setor eólico, elegesse o Brasil como um dos países de maior potencial na geração de energia pelo vento.
Sua participação na matriz energética brasileira deve registrar um dos maiores crescimentos entre as diversas fontes de energia, saltando dos atuais 2% para 8% em oito anos, segundo Maurício Tolmasquim, presidente Empresa de Pesquisa Energética - EPE. Além disso, o uso do vento para gerar energia no país cresceu 73% em 2012, beneficiando 5 milhões de brasileiros por mês.
A opção das fontes eólicas ganha ainda mais fôlego diante dos baixos níveis dos reservatórios das hidrelétricas, o que põe o país sob o risco de novos apagões ou racionamento, além de obrigá-lo a socorrer-se, em caráter emergencial, das termoelétricas, o que deixa um verdadeiro rombo no caixa do governo. O pior de tudo é que as usinas eólicas já construídas não podem distribuir sua energia por falta de linhas de transmissão. Querem um exemplo? O Nordeste tem três usinas prontas, mas sem gerar energia há cerca de um ano, por falta de linhas de transmissão. Esse descompasso na região, onde estão 60 das 92 usinas eólicas, acarreta um desperdício de energia cujo prejuízo para o governo federal já ultrapassa os R$ 260 milhões, segundo dados da Agência Nacional de Energia Elétrica - Aneel. Além disso, de acordo com a Associação Brasileira de Energia Eólica - ABEEólica, essa produção desperdiçada seria suficiente para abastecer, por mês, cerca de 3,3 milhões de consumidores.
Apesar de todos os argumentos ambientais e econômicos favoráveis, a energia éolica enfrenta uma série de entraves que limitam sua expansão, fazendo com que o seu aproveitamento fique muito aquém de todo o potencial brasileiro. E o pior de tudo: o governo federal pensa em construir mais usinas termoelétricas para complementar sua matriz e, segundo seus técnicos, garantir o abastecimento. É o lobby do carvão, que destrói as florestas e polui o Planeta.
Carlos Roberto de Oliveira é advogado estabelecido em Nova Iguaçu - RJ. A criação do Dando Pitacos foi a forma encontrada para entreter e discutir assuntos de interesse geral. |