Walcyr Carrasco: "O beijo gay diz que o mundo é para todos"

Félix (Mateus Solano) e Niko (Thiago Fragoso) (foto: reprodução)

A cena, é claro, foi gravada antes, mas ninguém tinha certeza de que ela iria ao ar. Mas aconteceu, e o beijo mais esperado da televisão brasileira, ao menos em termos de polêmica, acabou sendo estampado nos milhares de aparelhos de TV espalhados por esse Brasil afora. Protagonizado pelo ex-vilão Félix (Mateus Solano) e seu “carneirinho” Niko (Thiago Fragoso), a cena fez parte do último capítulo de "Amor à vida", novela escrita por Walcyr Carrasco.

Foi a primeira vez de um beijo gay numa novela, mas gente que é do ramo afirma que outro já acontecera entre as atrizes Alda Alves e Geórgia Gomide, no teleteatro "A Calúnia" (1963), na extinta TV Tupi, mas não há registros da cena. O primeiro casal gay, vivido por Lui Mendes (Jefferson) e André Gonçalves (Sandrinho), surgiu na Globo em 1995, na novela "A próxima vítima", de Silvio de Abreu, mas o beijo sequer chegou a ser cogitado.

Aliás, o beijo entre Félix e Niko foi tão importante, que mereceu até uma nota da Globo:

"Toda cena de novela é consequência da história, responde a uma necessidade dramatúrgica e reflete o momento da sociedade. O beijo entre Felix e Niko selou uma relação que foi construída com muito carinho pelos dois personagens. Foi, portanto, o desdobramento dramatúrgico natural dessa trama. A pertinência desse desfecho foi construída com muita sensibilidade pelo autor, diretor e atores e assim foi percebida pelo público. É importante lembrar que o relacionamento homossexual sempre esteve presente nas nossas novelas e séries de maneira constante, responsável e natural. A cena esteve de acordo com essa premissa e com a relevância para a história".

A cena foi comentada por atores do elenco, reunidos para assistir ao último capítulo da novela. Todos queriam saber a opinião de Mateus Solano:

- Fiz história? Não sei se fiz história. É tudo tão efêmero. É uma cena que, se Deus quiser, vai reverberar na sociedade e em outros trabalhos. É um pequeno passo na dramaturgia, mas um grande passo na sociedade.

O autor Walcyr Carrasco diz estar "superfeliz":

- A novela foi um marco na quebra de paradigmas. Demonstrou para a sociedade a convivência entre diferentes. O beijo gay diz que o mundo é para todos.

Na eterna luta pelas liberdades, o que ainda não é compreendido por muitos, a cena realmente fez história, mas muito significativo foi também foi o momento em que César (Antonio Fagundes) declara seu amor por Félix, o filho gay que ele sempre rejeitou e humilhou. E você, o que acha disso tudo? Deixe um comentário.

O Globo

Sobre o Autor:

Carlos Roberto de Oliveira é advogado estabelecido em Nova Iguaçu - RJ. A criação do Dando Pitacos foi a forma encontrada para entreter e discutir assuntos de interesse geral.

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