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O manuscrito, que se acredita ser proveniente do Egito Antigo por causa dos escritos na língua copta, extinta no século XVII, contém frases como "Jesus disse-lhes: 'Minha esposa...''' e "Ela poderá ser minha discípula", referências nunca feitas a Jesus por nenhum outro Evangelho.
Um comunicado da Harvard Divinity School, da Universidade Harvard, foi taxativo: "Nenhuma evidência de fabricação moderna foi encontrada".
De acordo com os resultados do estudo, publicados pela revista Harvard Theological Review, o fragmento remonta a uma data entre os séculos VI e IX, mas poderia perfeitamente ter sido escrito até mesmo no século II, conclusão a que chegaram os especialistas das universidades Columbia e Harvard e do Instituto de Tecnologia de Massachusetts - MIT, depois de datação feita por radiocarbono e uma análise da tinta por espectroscopia Micro-Raman.
"A equipe concluiu que a composição química do papiro e os padrões de oxidação são consistentes com papiros antigos, ao comparar o fragmento do Evangelho da Esposa de Jesus (Gospel of Jesus Wife – GJW, em inglês) com um fragmento do Evangelho de João", apontou o estudo de Harvard, acrescentando que "o teste atual suporta, assim, a conclusão de que o papiro e a tinta do GJW são antigos".
Mas a origem do papiro ainda é desconhecida. A historiadora Karen King, da Harvard Divinity School, o teria recebido há cerca de dois anos de um colecionador que pediu para permanecer anônimo. Especialista em cristianismo primitivo, Karen afirmou que o fato da ciência confirmar que o papiro é antigo não é suficiente para provar que Jesus foi casado.
- A questão principal do fragmento é afirmar que as mulheres que são mães e esposas podem ser discípulas de Jesus, tema que foi muito debatido no início do cristianismo, em um momento em que a virgindade celibatária se tornou cada vez mais valorizada - explicou a historiadora, destacando que "esse fragmento de evangelho fornece uma razão para reconsiderar o que pensávamos que sabíamos, ao nos perguntar o papel que as declarações sobre o estado civil de Jesus desempenharam historicamente nas controvérsias cristãs sobre casamento, celibato e família".
Ainda segundo Karen, a aparência bruta, os erros gramaticais e o fato do papiro ter sido escrito séculos depois da morte de Jesus, sugerem: 1) que o autor do escrito tinha uma educação primária, elementar; e, 2) que ele não conheceu pessoalmente o Profeta considerado pelos católicos como "o Filho de Deus".
A história do papiro me faz lembrar o Código Da Vinci, não menos polêmico romance policial do escritor norte-americano Dan Brown, publicado nos EUA em 2003 (Editora Random House), no Brasil (Editora Sextante) e em Portugal (Editora Bertrand), para quem Jesus teria sido casado com Maria Madalena, que seria o personagem que está ao seu lado na pintura A Última Ceia, de Leonardo Da Vinci (e não o apóstolo João, até pelas feições femininas), sem falar na simetria formada entre Jesus e Madalena, o que supostamente representaria o elemento feminino. Além disso, as roupas usadas por eles durante a ceia (Jesus de veste vermelha e manto azul, e Madalena de veste azul e manta vermelha) significaria, segundo os costumes da época, a união do casal pelo sagrado matrimônio. O fato do quadro ser obra de Da Vinci, porém, não transforma tais suposições em verdade absoluta, até porque o artista pode ter usado a liberdade poética de seus traços justamente para enviar mensagens subliminares, criando uma atmosfera polêmica em torno de sua obra.
De acordo com a versão de Brown, Maria Madalena estaria grávida quando Jesus foi crucificado, e depois de conceber uma menina, chamada Sarah, passou o resto de sua vida escondida e sob a proteção de membros do Priorado de Sião, que juraram proteger a descendência de Cristo pela eternidade. Na obra, décimo primeiro livro mais vendido no mundo, com mais de 80 milhões de cópias comercializadas, Madalena seria o verdadeiro Santo Graal, a mulher capaz de mudar toda a história contada pela Igreja Católica.
Mas a obra de Dan Brown não é a única a incursionar pelo tema. Em A Última Tentação de Cristo, drama dirigido por Martin Scorsese e baseado no romance homônimo de Níkos Kazantzákis publicado em 1951, Jesus trava uma luta sem tréguas com várias formas de tentação, inclusive o medo, a dúvida, a depressão, a relutância e a luxúria, o que resulta na história de um Cristo tentado e envolvido em relacionamentos amorosos, o que provocou a ira dos cristãos.
Na versão de Scorsese, um anjo se aproxima de Jesus quando ele estava pregado na cruz e lhe diz que Ele não é o Messias, mas que Deus está satisfeito e o quer feliz. Invisível para as pessoas, Ele é retirado da cruz e levado até Maria Madalena, com quem se casa e tem um filho. Mas ela morre abruptamente. Jesus, então, toma Maria e Marta, as irmãs de Lázaro, como suas esposas e com elas tem muitos filhos, vivendo em paz daí por diante.
Tempos depois, um Jesus idoso convida seus antigos discípulos para seu leito de morte, ocasião em que Pedro, Natanael e João o visitam. Jerusalém estava no auge da rebelião. É quando Judas aparece e diz a Cristo que o anjo que o retirou da cruz era, na verdade, Satanás. Rastejando de volta através de uma Jerusalém em chamas, Jesus chega ao local de sua crucificação e implora a Deus que lhe permita cumprir seu propósito e o deixe "ser o filho de Deus." Ele se vê outra vez na cruz, com a certeza de que superou a "última tentação" de escapar da morte, ser casado e criar uma família, o que teria sido um desastre para a humanidade. Nu e ensanguentado, Jesus grita antes de morrer: "Tudo está consumado!".
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Carlos Roberto de Oliveira é advogado estabelecido em Nova Iguaçu - RJ. A criação do Dando Pitacos foi a forma encontrada para entreter e discutir assuntos de interesse geral. |