Retrato falado que induziu linchamento (foto: reprodução) |
A divulgação, em alguns casos até bem intencionada, de fatos e fotos pela internet, principalmente através das redes sociais, só deveria ser feita após uma pesquisa acerca da veracidade daquilo que retratam, o que nem sempre acontece. É muito comum, por exemplo, a circulação de fotos de crianças "desaparecidas" já entregues às suas famílias e de notícias infundadas, criadas não se sabe por quem ou com que objetivo. Um desses casos, com grave, absurda e lamentável consequência acaba de ocorrer e deveria servir de reflexão para todos quantos transitam pela grande rede. O retrato falado que seria de Fabiane Maria de Jesus, brutalmente linchada por moradores do Guarujá - SP, depois de uma postagem feita no perfil Guarujá Alerta, do Facebook, foi confeccionado por policiais da 21ª Delegacia de Polícia de Bonsucesso - RJ, em agosto do ano passado, quando uma mulher foi acusada de tentar roubar um bebê do colo da mãe em uma rua de Ramos, na Zona Norte do Rio.
Na ocasião, imagens de câmeras de segurança mostraram Daniela Mendes, que levava sua bebê de apenas 15 dias para fazer o teste do pezinho sendo sendo seguida pela suspeita, que a surpreendeu quando ela saiu da unidade hospitalar. O sequestro não aconteceu pela intervenção de um morador que passava pelo local. A partir de informações repassadas pela mãe, a Polícia Civil fez o retrato falado, que sugere uma mulher negra, gorda e com cerca de 25 anos, que nunca foi presa ou sequer identificada.
A partir daí, a imagem passou a ser divulgada nas redes sociais. Em algumas postagens feitas no Facebook, por exemplo, moradores de Senador Camará, na Zona Oeste do Rio, e de Três Rios, no sul do Estado, chegaram a afirmar que a mulher teria feito vítimas naquelas regiões. Fabiane, ao que tudo indica, nada tinha a ver com tais episódios e possivelmente jamais tenha passado pelos locais onde eles aconteceram. Daí porque aqui se repetem algumas das perguntas feitas na postagem anterior: "E agora, bando de animais? E se a pobre mulher era inocente, que é para onde apontam todas as evidências? E as comissões de defesa de direitos humanos, onde estão, para onde foram? Será que alguém tem algum tipo de comentário para esse tipo de barbárie?"
Extra
Carlos Roberto de Oliveira é advogado estabelecido em Nova Iguaçu - RJ. A criação do Dando Pitacos foi a forma encontrada para entreter e discutir assuntos de interesse geral. |