21 maio 2010

FOME, SEDE E UTOPIA


Segundo pesquisa divulgada na Conferência do Ethos por BERNARD KLIKSBERG, assessor do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento - PNUD, 16% das crianças da America Latina estão desnutridas, o que mostra, segundo KLIKSBERG, o tremendo paradoxo enfrentado pelo mundo atual, que por conta da grande revolução tecnológica deveria melhorar em muito a vida dos seres humano, o que não ocorre, infelizmente.

Em sua palestra o argentino KLIKSBERG listou alguns escândalos éticos da atualidade, destacando o da falta de água para os mais pobres. Outra pesquisa, também publicada recentemente pelo PNUD, dá conta de que a água contaminada mata mais do que todas as guerras, e que um ser humano precisa por dia, para satisfazer todas as suas necessidades, de 20 litros de água, mas recebe apenas 5 litros, enquanto na Europa, cada habitante consome cerca 200 litros de água por dia, e nos Estados Unidos este número cresce para 400 mil litros.

Na semana passada, um outro dado assustador foi divulgado pelo PNUD: 1 milhão e 800 mil pessoas morrem por ano no mundo, por água contaminada.

KLIKSBERG revelou também a discriminação por gêneros, lembrando que embora haja melhoras neste setor, não se pode cantar vitória, pois na América Latina 30% das mulheres ainda são vítimas de violência doméstica, e apenas 8% delas ocupam cargos políticos em todo o mundo.

- Não há justificativa alguma para esses escândalos. Temos recursos tecnológicos para alimentar uma população muito maior do que a de hoje. Não é um problema de produção, mas de desigualdade e falta de acesso. Em pleno século XXI há milhares de crianças que não têm acesso a um ensino de qualidade, enquanto queremos criar gênios para atuarem em um novo mundo. Pode-se fazer as coisas de forma completamente diferente, porque a pobreza é um adversário facilmente derrotável, se houver aliança entre políticas públicas, o setor privado e a sociedade civil, disse o assessor do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento - PNUD.

Os números acima divulgados são realmente estarrecedores, mas um trecho do que disse KLIKSBERG também chamou a minha atenção: "a pobreza é um adversário facilmente derrotável, se houver aliança entre políticas públicas, o setor privado e a sociedade civil". 

Acho que ele tem toda a razão, e acrescento: a pobreza seria riscada do mapa se os grandes líderes mundiais, unidos aos gigantes do setor privado e à sociedade internacional assim o decidissem. Quanto deve ter custado e ainda custa aos Estados Unidos, por exemplo, em termos financeiros, as guerras travadas no Iraque e Afeganistão? Quanta tecnologia médica não poderia estar sendo repassada ao mundo e a tantos miseráveis que dela precisam, se Cuba e Estados deixassem de lado suas picuinhas político/ideológicas? Quanta água potável não estaria sendo distribuída pelo mundo com o dinheiro que se perde nos ralos da corrupção política brasileira e do restante do Planeta? Por que é que da verdadeira fábula de dólares e euros que circulam diariamente pelos mercados financeiros do mundo não se pode tirar uma pequena esmola para tantos miseráveis? Como explicar, por exemplo, que a África, onde se concentra parte da população mais pobre do globo terrestre invista 16 bilhões de rands, cerca de R$ 4,15 bilhões na construção de estádios para a Copa do Mundo de futebol a iniciar-se em menos de um mês? Que grandes clubes africanos vão jogar nos estádios construídos para o evento? Por que os mais ricos como americanos, russos, franceses, alemães, ingleses e países do mundo árabe, não necessariamente nessa ordem, não podem se sentar a uma mesa e falar de gente pobre, de seres humanos que morrem de fome e sede? Se aqui pudesse intervir, AURÉLIO BUARQUE DE HOLANDA diria que a minha ideia não passa de utopia, expressão que ele define como "projeto irrealizável; quimera; fantasia". Será? ...

Sobre o Autor:
Carlos Roberto Carlos Roberto de Oliveira é advogado estabelecido em Nova Iguaçu - RJ. A criação do Dando Pitacos foi a forma encontrada para entreter e discutir assuntos de interesse geral.

Cadastre seu e-mail e receba nossas postagens

Blog Widget by LinkWithin

10 comentários:

  1. Parabéns pelo post, mas penso que este mal onde esta mais divulgado neste século pelas mídias de todo o mundo, já é desde o pricípios dos tempos só não foi tão divulgado devido com tanta clareza devido em outras épocas os meios de comunicação que tinham disponével em tão eram desprovidos da tecnologia atual.

    ResponderExcluir
  2. Olá querido amigo Roberto,

    Parabéns pela excelente matéria postada.

    Os números são alarmantes. Penso da mesma forma que o amigo. O dinheiro gasto com guerras, em corrupções, poderiam ser canalizados
    para os projetos que ajudem na valorização do ser humano em estado de vulnerabilidade social extrema.

    Carinhoso e fraterno abraço,
    Lilian

    ResponderExcluir
  3. Olá Roberto,
    São dados tristes de se ver e inimagináveis de se viver. Pra mim é evidente que a corrupção e a falta de comprometimento dos governantes é o grande mote para fome, sede e outras desgraças sociais.
    Quanto à África, me lembra quando descobri que os próprios negros prendiam seus inimigos [negros] e os enviavam à América e Europa para serem escravos. O maior problema da África advêm de guerras civis que eles mesmos protagonizam. Tudo bem, as guerras podem ser frutos da fome. Mas será que não existe inteligência por lá para detectar que eles são seus próprios problemas? Seja pela guerra, seja pela corrupção. Culpar o mundo pela fome e sede na África é, ao meu ver, tapar um problema muito mais complexo.
    Excelente texto!!!

    Um forte abraço!

    ResponderExcluir
  4. Maravilhoso o texto. E mais: é assustadoramente fantástica a maneira com a qual você se expressa, formulando textos relativamente longos, porém, com uma essência sucinta. Com relação ao assunto abordado, concordo com você. Acho realmente um absurdo os Estados Unidos, seguidos por sua turma (Inglaterra, Alemanha...), destinarem quantias indecentes a ofensivas que deixam como herança, apenas, destruições, mortes e multilações, e por uma questão aparente de simples vaidade, onde o que pretendem é manter a posição de donos de mundo. Acham que todos devem sempre se curvar diante de si e de forma passiva. Claro, sempre vendendo a imagem de bonzinhos. Fiz um post no meu blog a esse respeito, já que vejo essa história querendo se repetir nessa pendenga atual com o Irã. Com relação aos africanos, também não me soa bem vir seus governantes investirem quantias astronômicas para realizar uma copa do mundo, enquanto seus cidadãos são masscrados por uma miséria crudelíssima. Do mesmo modo, questiono a olimpíada de 2016, a ser realizada no Rio de Janeiro, que consumirá bilhões e bilhões de reais (essa conta será, certamente, paga por nós), enquanto nossos governantes permitem, por exemplo, que monumentos e casarões históricos que sintetizam a trajetória da cidade, ou parte dela, estejam em um estado lastimável de conservação, onde muitos estão, literalmente, caindo sobre nossas cabeças. Também fiz um post a esse respeito no meu blog. Em suma: a miséria e a destruição humanas, além da história que está indo ralo abaixo não são importantes para essa gente. Olimpíadas, copas do mundo e guerras é que são suas prioridades.

    Forte abraço, campeão.

    ResponderExcluir
  5. Realmente uma barbaridade, num pais que se gasta tanto com outros coisas menos importante.
    Abraços forte

    ResponderExcluir
  6. Roberto,

    Isso nos iguala aos animais irracionais onde só os mais fortes sobrevivem. Levando em consideração que não somos animais irracionais, o choque de ler um texto como esse me deixa mais envergonhada ainda de fazer parte dessa sociedade, embora eu não colabore para essa diferença social, também não estou engajada em nenhuma organização que previna tal disparate.

    Eu me justifico, ou eu mato ou eu morro, pois tudo que abraço fazer, faço com total dedicação e sei que nesse caso, estaria morta. Há interesses obscuros por trás dessa situação vergonhosa e quando levantamos um dedo para mudar, logo somos excluídos do meio.

    Exemplos não faltam, luta-se por uma causa e acaba sendo assassinado. É uma sociedade cruel.

    Beijocas

    ResponderExcluir
  7. Vejo tanto desperdicios em compra de armas,guerras,investimentos públicitários em propagandas,emprestimos a paise que não precisam,necessario é que invista nesses países sub-desemvovidos,pois é muita tristeza de ver esse quadro onde empera fome,doenças,e mortes.

    ResponderExcluir
  8. Oi meu amigo!
    Realmente é assustador como ainda, nos dias de hoje, encontramos situações como essa! Lembro que quando eu tinha 16 anos (e faz tempo, hein) participava de uma campanha contra a fome na África, fazia na escola palestras de conscientização humana para um problema que, até então, achávamos pertencer apenas aquele mundo!
    Com a evolução (será?) achávamos que se criariam mecanismos para combater a fome mundial, mas o que vemos é que o problema ainda se agrava e está cada vez mais próximo de nós.
    Muito boa essa matéria, meu amigo, como sempre!
    Beijo grande,
    Jackie

    ResponderExcluir
  9. Que postagem linda!

    A foto utilizada para ilustrar o texto quase faz a gente chorar. O mundo não pode assistir a isso impassível. Sua idéia não tem nada de utópica, Carlos! Ela é humana, coisa rara nos dias de hoje!

    ResponderExcluir
  10. Carlos, se a gente ficar dizendo que a montanha é alta demais para ser escalada, jamais sairemos do chão.

    Os problemas da África são complexos sim. Eu tinha a mesma opinião do Sérgio quanto à desunião do povo africano, muito relacionada ainda com as guerras tribais. Os próprios negros vendiam os outros negros para os traficantes de escravos. Mas também os índios de todas as Américas fizeram o mesmo.

    Essa mesma opinião sobre nós tem o Americano. É senso comum entre eles que nós somos corruptos e que queimamos as nossas florestas. Assim sendo, não cabe nenhuma ajuda. A mesma retórica que na verdade é - vocês não sabem se cuidar - vem sendo usada no Iraque e no Afeganistão.

    MAs, atrasados ou não, temos que lembrar que os africanos também são raça humana e possuem as nossas mesmas fraquezas e nobrezas. Se falta esclarecimento, educação e desenvolvimento foi porque a Africa foi simplesmente abandonada.

    Se fosse descoberta significativa quantidade de petróleo lá, ou grandes reservas de urânio, garanto que essa condição se reverteria rapidamente.

    Tiraram o negro de sua casa para ser escravo nas Américas. Que tal mandarmos um monte de branco para Africa para alavancar maior desenvolvimento econômico e filosófico? Mas quem quer ir? Quantos Albert Schweitzer o mundo é capaz de produzir?

    ResponderExcluir

A existência de qualquer blog depende da qualidade do seu conteúdo, e mais do que nunca, do estímulo de seus leitores. Por isso, não saia sem deixar seu comentário!