Eu costumo dizer que algumas pessoas nascem predestinadas a uma profissão, a um ramo artístico, à política, e dou exemplos: Pelé nasceu para o futebol: o nosso querido Ayrton Senna veio ao mundo para ser um dos maiores pilotos da história da fórmula 1; Elis Regina nasceu para cantar; Paulo Moura, que nos deixou há poucos dias, pintou aqui na terra para ser músico, isso apenas para citar alguns exemplos.
No campo da política, que é onde se localiza o tema que quero abordar, eu sempre disse que se alguém deixasse Leonel Brizola falar, acabaria se convencendo de que branco é preto e preto é branco; de que focinho de porco é tomada e de que bife ali na mesa é o mesmo que bife à milanesa.
Lula é a mesma coisa. Se bobear, melhor que Brizola!
Mas a empolgação é seu calcanhar de Aquiles. Quando ele se vê diante de uma platéia e sente a possibilidade de fazer uma afirmação que mostre o quanto ele é destemido e possa lhe trazer algum dividendo político, principalmente em época de eleições, ele viaja, e quase sempre escorrega.
Na última terça-feira (13/07), por exemplo, na solenidade de lançamento do famoso trem-bala, ele usou uma frase que mostra o pouco caso com que hoje é tratado o dinheiro público “nesse país”.
A matéria está no Estadão, e é assinada pelo jornalista Rafael Moraes Moura:
“O presidente Luiz Inácio Lula da Silva decidiu não deixar sem resposta as críticas da Fifa e da Confederação Brasileira de Futebol (CBF) aos problemas envolvendo o atraso nas obras de infraestrutura da Copa de 2014.
Ontem mesmo, Lula deu o troco após as declarações do secretário-geral da Fifa, Jérome Valcke, que, na segunda-feira, havia declarado que na organização da Copa de 2014 no Brasil "falta tudo" e as "providências estão impressionantemente atrasadas".
Lula disse que os brasileiros estão sendo tratados "como se fossem idiotas, (como) se não soubéssemos fazer as coisas e não soubéssemos definir as nossas prioridades". A resposta foi dada durante a solenidade de lançamento do edital do trem-bala, que vai ligar São Paulo a Campinas e Rio de Janeiro.
"Vocês viram que terminou uma Copa do Mundo na África do Sul agora e já começam aqueles a dizer "cadê os aeroportos brasileiros?" "Cadê os estádios brasileiros?" "Cadê os corredores de trem brasileiros?" "Cadê os metrôs brasileiros?"", disse Lula para, ao final, reclamar do tratamento "idiota". Se for preciso, prometeu, as obras vão ser tocadas em "três turnos".
Anteontem, em Johannesburgo, Valcke afirmou que havia problemas nos preparativos para a próxima Copa. "Precisamos construir estádios, estradas, o sistema de telecomunicações, aeroportos e ver se há mesmo capacidade suficiente em hotéis", disse o cartola da Fifa.
Em maio, ele já havia comentado que os trabalhos estavam atrasados. Na semana passada, ao ser questionado se o País estaria pronto para a Copa, Lula, irritado, já havia dito que as reclamações eram "descabidas" e que se o Brasil não tivesse condições de construir o prometido, voltaria "da África a nado".
Auditoria do Tribunal de Contas da União (TCU), encerrada em abril e aprovada duas semanas atrás, constatou que "até abril, nenhuma obra (de mobilidade urbana) havia sido contratada, apenas um edital de licitação estava concluído. O Ministério das Cidades havia recebido o projeto básico de 8 das 47 obras previstas". Os atrasos, alerta o relatório do ministro Valmir Campelo, "potencializam o risco de que a União assuma custos não-previstos, a exemplo do que ocorreu no Pan de 2007".
Na avaliação do presidente, o trem-bala deve ser inaugurado até 2016, antes das Olimpíadas no Rio de Janeiro, mas depois da Copa do Mundo.
"Aqui faz muito sol; aqui, de vez em quando, a gente pode trabalhar em dois turnos; aqui, de vez em quando, se quiser, a gente pode trabalhar em três turnos; aqui, de vez em quando, a gente pode trabalhar aos sábados e domingos, ou seja, aqui a gente pode acertar qualquer coisa, desde que o objetivo seja a gente entregar a obra da melhor qualidade possível, no menor prazo possível, para que a gente possa atender as necessidades do Brasil", disse Lula”.
A entrevista segue com Lula fazendo críticas à atuação da seleção brasileira na Copa do Mundo da África do Sul, mas isso não nos interessa no momento. O que realmente chamou a atenção foi a frase contida no último parágrafo, onde ele dá a entender que no Brasil uma obra pode ser tocada em dois ou três turnos e até aos sábados e domingos, o que é a pura verdade.
O problema, e nisso ele não pensou (mas deveria, como chefe da Nação), é que quando a licitação de uma obra é concluída, qualquer alteração no cronograma estabelecido pode gerar despesas desnecessárias para o Tesouro Nacional (leia-se o meu, o seu, o nosso bolso), possibilidade admitida pelo ministro Valmir Campelo, relator de auditoria feita pelo Tribunal de Contas da União – TCU, que inclusive chamou a atenção para o fato de que isso já ocorreu no Pan de 2007.
Nada disso aconteceria se o governo federal e seus milhares de burocratas fossem mais rápidos e menos políticos em suas decisões, e pensassem um pouco mais em evitar o desperdício do dinheiro público. Não sei se a minha matemática é a mesma do presidente. Na minha, se uma obra licitada para um turno de trabalho for orçada em R$ 10 milhões, vai acabar saindo por R$ 30 milhões se mais dois turnos de trabalho forem utilizados. Recupera-se o prazo perdido com a incompetência, mas abre-se a torneira que joga fora, desnecessariamente, o dinheiro do cidadão brasileiro. Estou certo, presidente?
Sobre o Autor:
Carlos Roberto de Oliveira é advogado estabelecido em Nova Iguaçu - RJ. A criação do Dando Pitacos foi a forma encontrada para entreter e discutir assuntos de interesse geral. |
Excelente!
ResponderExcluirDiga-me amigo Roberto,
E nos milhões que escorrerão de nossos bolsos, o mal-estar é saber que tantos outros percorrerão seus caminhos nebulosos.
Abraços
É isso, Sentimentos!
ResponderExcluirDsses outros milhões ou bilhões não teremos sequer notícia, com certeza!
Um abração...
QUE POST FANTÁSTICO!
ResponderExcluirAMIGO ROBERTO:
Mais um excelente artigo que você nos presenteia!
A frase em tela é um recado esclarecedor, o atraso é proposital, objetivo: viciar o certame licitatório e fazer tudo a toque de caixa enquanto isso os nossos $$$$$$$$ Pléques tomam destinos tantos.
Parabéns por mais uma excelente matéria!
Abraços,
LSION.
Olá amigo Carlos,
ResponderExcluirAcredito que a foto que ilustra o texto já diz muito, sabeo ditado, prá bom entendedor um pingo é uma letra, então, comtantos impostos a que somos submetidos o dinheiro público sai por uma torneira como agua, ninguem consegue segurar.
Meu carinho
Enquanto a população for alienada e pensar apenas em festa, novela e futebol, a situação não vai melhorar.
ResponderExcluirO ralo é grande e quase sem fundo.
Um grande abraço
Giba
Com certeza, Gibanet!
ResponderExcluirE tem mais! Quem decide o voto hoje no Brasil é a propaganda enganosa do Duda Mendonça, que também é pago com alguns milhões de reais sacados do bolso do contribuinte.
E vem aí a Dilma!
Um abração...
Amiga Silvana:
ResponderExcluirA corrupção e o desperdício vão existir sempre, não tem jeito. Mas no Brasil a coisa é descarada, sem vergonha, imoral. A única forma de se tentar diminuir, veja bem, eu disse "tentar diminuir" a corrupção e o desperdício é o voto, coisa que o brasileiro, infelizmente, ainda não aprendeu a fazer, e toda a Nação paga por isso!
Um beijão...
Isso também acontece, Lison, com certeza!
ResponderExcluirAlém dos atrasos gerados pela incompetência, existem os determinados pela conveniência, que faz com que tudo seja feito a toque de caixa, sem muitos detalhes ou exposição pública. É o sistema, infelizmente.
E como eu disse ao Gilberto, é só esperar mais um pouco porque "vem aí a Dilma"!
Um grande abraço...
Pois é... realmente moramos num país democrático, pelo menos, aqui temos técnicos de futebol nos quatro cantos da nação, economistas é o que não falta, críticos então estão empilhados uns sobre os outros, somos privilegiados realmente, temos uma imprensa que contrata todos os ex disponíveis para comentaristas, FHC e Cia., estão no Estadão,se um governante não faz nada é criticado, se o faz está tudo errado, então deve-se fazer uma pesquisa nacional de opinião pública para todas as obras a serem feitas. Será que a África tinha condições de sediar a Copa de 2010? Será que os governantes anteriores a Lula fizeram tudo certo? Não houve corrupção, desperdícios? Ninguém diz nada sobre isso.
ResponderExcluirMeu querido Braz:
ResponderExcluirConcordo com tudo o que você disse, com exceção da ligação de Fernando Henrique Cardoso com o Estadão, o que eu desconheço, até porque nunca li qualquer artigo assinado por ele, em nenhum jornal do país.
As críticas que faço são as de um cidadão revoltado com tudo o que vem acontecendo no Brasil, que você há de convir, está moralmente podre. Mas isso não é de hoje. O desperdício sempre existiu. A corrupção também. Erros todos cometeram. Você está certo!
Só acho que jogar fora o dinheiro do contribuinte (como você, por exemplo) por incompetência, por má gestão, por desorganização, é inconcebível.
O meu texto, ao menos em relação à questão abordada, não fala de corrupção, mas de um fato constatado, inclusive, pelo Tribunal de Contas da União - TCU, e confessado pelo próprio presidente.
Com efeito, quando diz que aqui no Brasil se pode tocar uma obra em dois e até três turnos, ele está falando em alterar projetos já licitados, o que significa aumento de custos, com prejuízos, não acredito que você não concorde, para os cofres públicos, o que seria evitado se o tempo fosse melhor aproveitado, se houvesse mais seriedade e menos política. Esse, o motivo da minha crítica.
Não tenho compromissos com ninguém, acredite, e só estou tentando exercer minha função cidadã, apontando um erro e lhe dirigindo a crítica que entendo cabível.
Espero que você tenha compreendido e continue a nos prestigiar. O seu espaço aqui sempre estará reservado, mesmo que você tenha pontos de vista diferentes. Aqui vigora a democracia e a liberdade de expressão!
Um grande abraço...