19 dezembro 2010

A primeira vez que chorei por uma mulher...

Eu tinha apenas 17 anos de idade quando conheci Dagmar. Ela era linda! O tipo da mulher que os padrões de hoje classificariam como “sexy”, ou na linguagem mais popular, “gostosa”. Trabalhava em um escritório de advocacia que ficava nos fundos da organização contábil onde ela era técnica em contabilidade. Olhava-a de longe, com medo que ela percebesse. Ela era mais velha que eu cerca de 4 ou 5 anos. Ouvi dizer que tinha um filho. Eu me apaixonei por ela e me contentava em vê-la passar e sorrir pra mim. Ela me despertava os mais loucos desejos, mas na verdade, o que eu tinha muita vontade de fazer era deitar minha cabeça no colo dela e não pensar em mais nada, esquecer do mundo.

Tinha raiva de todos os homens que a olhavam, como se ela fosse uma "coisa" que eles poderiam usar a qualquer momento e depois jogar fora. Alguns iam ao escritório do meu antigo patrão só pra admirá-la, mas ela se mostrava indiferente a todos os gracejos e insinuações. Cumprimentava a todos com educação, mas nunca a vi com ninguém.

O tempo passava e a minha paixão por ela aumentava a cada dia. Odiava o fim de semana, porque teria que esperar a segunda-feira pra de novo ver o seu sorriso, o seu andar gracioso, o balanço de seu corpo maravilhoso. Mas tudo em segredo, que eu trancava a sete chaves na minha imaginação. Ela me dava atenção? Claro! Sempre que nos víamos, me acenava e me jogava beijos, o que eu interpretava como uma forma carinhosa de me tratar. Nada mais que isso, infelizmente!

Um dia, numa sexta-feira, quando eu me preparava pra fechar o escritório e curtir mais um fim de semana longe dela, Dagmar apareceu, e sem mais nem menos, perguntou:

- O que é que você vai fazer amanhã, meu amor?

Minhas pernas bambearam, a garganta secou, meu coração disparou, mas consegui responder:

- Nada! Não vou fazer nada!

Aí ela emendou:

Vamos ao cinema?

Ainda hoje, depois de mais de 40 anos, não consigo explicar o que senti. Fiquei surpreso, assustado, desesperado mesmo, mas respondi que sim, claro! Aquilo era tudo que eu queria, que eu sonhava. Aliás, era muito mais do que eu podia imaginar!

Marcamos, e no dia seguinte nos encontramos no local e hora combinados. Entramos no cinema e nos sentamos. O filme? Não tenho a menor idéia, sequer lembro seu nome, porque ela me beijou de uma forma como eu nunca tinha sido beijado antes por uma mulher, e o mundo simplesmente desapareceu à minha volta.

Naquele mesmo dia, ao sair do cinema, fui até a casa dela. Ela realmente tinha um filho, um menino de 4 anos de idade, que se chamava Paulinho. Morava com a mãe, uma mulher muito doente, mas de sorriso largo, que me recebeu como se eu fosse um amigo de longa data. Eram pessoas muito pobres!

Dois meses se passaram e nós, além da troca de olhares diários no local de trabalho, nos encontrávamos todo final de semana, no cinema ou na casa dela. Eu estava apaixonado!

Numa segunda-feira ela não apareceu pra trabalhar. Fiquei preocupado, mas tinha provas na escola, e não pude ir até à casa dela. No dia seguinte, terça-feira, ela também não apareceu no escritório. Comecei a ficar assustado. No fim do dia, quando eu me preparava pra sair e ir até à casa dela, Neusa, uma menina que trabalhava no escritório de contabilidade, se aproximou de mim, e disse:

- Meu amor! Dagmar me pediu pra lhe entregar esse bilhete. Eu já devia ter feito isso ontem, mas não tive coragem. Não fique triste! A vida é assim!...

Quando ela saiu, eu abri o papel e li:

“Você foi a coisa mais limpa e bonita que encontrei em minha vida. O tipo de sentimento e carinho que toda mulher sonha encontrar num homem um dia. Mas você é muito jovem e eu preciso sobreviver. Tenho um filho pra criar. Minha mãe, você sabe, está muito doente, e eu preciso cuidar dela, mas não tenho recursos aqui no Rio. Por isso, estou indo embora pra Minas, de onde viemos. Lá, tenho certeza, a família vai nos ajudar. Não posso envolver você numa aventura de final incerto. Não seria justo. Você deve obediência aos seus pais. Precisa terminar seus estudos, e eu não quero atrapalhar. Por que não te encontrei antes? Te amo, da forma mais pura que jamais amei alguém!”

Nunca mais vi Dagmar! Foi a primeira vez que chorei por uma mulher na minha vida!...

Os personagens dessa história podem ou não ser fictícios.
Isso fica ao critério de cada um...

Sobre o Autor:
Carlos Roberto Carlos Roberto de Oliveira é advogado estabelecido em Nova Iguaçu - RJ. A criação do Dando Pitacos foi a forma encontrada para entreter e discutir assuntos de interesse geral.

Cadastre seu e-mail e receba nossas postagens

Blog Widget by LinkWithin

8 comentários:

  1. Amigo Carlos querido.
    Acredito que quando um sentimento por mais curto que seja se tem sinceridade,acredito que sempre as pessoas querem o bem das outras.
    Bem eu agiria de outro modo,não sei deixar para trás os que eu amo,mas cada um tem sua forma de pensar,mas eu com certeza viraria o mundo de cabeça para baixo,sou uma romântica assumida e nunca perdi uma batalha até hoje.
    Para mim essa história é rela.
    Parabéns por essa linda história.
    Bjos em seu coração com cheirinho de Jasmin.

    ResponderExcluir
  2. Obrigado pelo comentário, Claudia!

    Eu também acho que quando se quer algo, deve-se lutar até o fim. Mas como você mesma disse, "cada um tem a sua forma de pensar".

    Um grande abraço...

    ResponderExcluir
  3. Infelizmente nessa vida ganhamos e perdermos. Mais acredito que valeu o sentimento de ambos, e a experiência.

    Um Grande Abraço!

    ResponderExcluir
  4. Com certeza, Ediléia!

    O nosso personagem deve ter aprendido a lição: cresça e apareça!

    Um beijão...

    ResponderExcluir
  5. Olá meu querido Roberto!
    Meu amigo, sendo os personagens fictícios ou não, o que sei te dizer é que a "história" em si passa a verdadeira beleza do amor e da dor de ver os castelos destruídos. Entretanto há muita beleza pela forma como foi contada...com o respeito, simplicidade, elegância e amor que a história merece!
    Gostei muito!
    Grande beijo,
    Jackie

    ResponderExcluir
  6. Verdade, Jackie!

    Fictícios ou não, personagens como esses a vida testa a todo momento, e é preciso sobreviver, seguir em frente, mesmo com o coração aos pedaços, como deve ter ficado o do nosso amigo, que tinha apenas 17 anos na época. Acredito que pra ele tenha sido muito difícil superar a perda, mas, vida que segue...

    Um grande abraço e obrigado pelo seu comentário, como sempre, carregado de carinho...

    ResponderExcluir
  7. Carlos,

    Que linda história de amor meu amigo!

    É muito triste ver que um amor tão puro e tão lindo tenha se perdido no tempo, mas tudo que nos acontece nesta vida serve para que nós possamos evoluir e amadurecer, e as lembranças são eternas, a saudade permanece, e o amor verdadeiro nunca termina.

    Adorei a postagem.

    Feliz Natal com Jesus!

    Bjs.

    Rosana.

    ResponderExcluir
  8. Rosana:

    É tudo parte de um grande aprendizado. É como você diz: "tudo que nos acontece nesta vida serve para que nós possamos evoluir e amadurecer".

    As lembranças são muito boas e a saudade, como costumo dizer, é "saudade boa", só faz bem, até porque, dizem os filósofos de plantão, "recordar é viver"!

    Foi muito bom receber um comentário seu num tema como esse. Você fala com o coração!

    Um grande abraço...

    ResponderExcluir

A existência de qualquer blog depende da qualidade do seu conteúdo, e mais do que nunca, do estímulo de seus leitores. Por isso, não saia sem deixar seu comentário!