Em Yokohama, no Japão, um caminhão de placa não anotada, só se sabe que era espanhol, atropelou o time do Santos e esmagou o sonho de Neymar e sua turma.
A vitória do Barcelona, por acachapantes 4 a 0, poderia ter sido maior, não fosse o natural relaxamento da equipe catalã depois dos três gols marcados ainda no primeiro tempo. Jogando sério, sempre para a frente, sem pedaladas ou menosprezo por seu adversário, o time comandado por Pep Guardiola simplesmente não tomou conhecimento da equipe brasileira, chegando, num determinado momento do jogo, a ter absurdos 74% de posse da bola contra 26% do time da Vila Belmiro.
Ao contrário do que esperava a ufanista mídia esportiva brasileira, Neymar foi um expectador privilegiado do show de Messi e seus companheiros.
Aliás, eu gostaria de estar na cabeça de cada treinador brasileiro que assistiu o jogo, principalmente dos botinudos e adeptos da porrada, do futebol força, daqueles que acham o jogo pode ser ganho na intimidação, na agressão ao craque, no enclausuramento da arte de jogar bola. Não sei se a lição vai surtir efeito, até porque o que primeiro precisa mudar no futebol brasileiro é a mentalidade dos cartolas, que ainda não aprenderam que um grande time leva tempo para ser formado, coisa que o técnico mais preparado não consegue fazer, já que leva um pontapé no traseiro a partir de meia dúzia de resultados negativos.
O time espanhol, depois de derrotado em 1992, pelo São Paulo, e em 2006, pelo Internacional, não mudou sua filosofia de trabalho e acabou se transformando numa equipe quase invencível, base da seleção espanhola, campeã do mundo em 2010. Pelé disse em uma entrevista que Neymar é melhor do que Messi, esquecendo-se, logo ele, o Rei do Futebol, que esse esporte é coletivo, e que o Barça está vários degraus acima do Santos e de todos os seus adversários mundo afora, o que vem sendo mostrado há anos na Europa e agora se repete no Japão, diante de um time campeão da Taça Libertadores que tem em seu elenco os dois jogadores brasileiros mais badalados nos últimos tempos - Neymar e Ganso.
Toda a expectativa, criada pela imprensa brasileira, é claro, sobre o duelo entre Neymar e Messi simplesmente não aconteceu. O argentino desfilou em carro aberto, enquanto o brasileiro não conseguia receber um passe. No primeiro tempo, por exemplo, ele só foi notado por uma arrancada do meio do campo, mas acabou parado por Puyol e Piqué, o sortudo namorado da cantora Shakira. No segundo, teve uma única chance clara de gol, mas chutou em cima de goleiro Valdés.
Com um toque de bola envolvente e marcação adiantada, os catalães isolaram o craque brasileiro no ataque, enquanto os armadores santistas, desorientados, apenas buscavam uma forma de ajudar na marcação, deixando a criação das jogadas ofensivas para os chutões dos homens de defesa, numa ligação direta que nunca teve sucesso, o que confirma a lição mais básica do futebol: não se joga sem a bola.
O bloqueio santista durou apenas 16 minutos. Foi quando Durval tentou cortar passe de Xavi e furou à frente de Messi. Se marcado, o cara já é mortal, imagine quando o defensor vacila! Ele recebeu livre e, com um leve toque de esquerda, encobriu Rafael, sob o olhar desesperado da defesa santista. Grande gol. Gol de melhor do mundo, título que ele mais uma vez deve receber.
A essa altura, o Barça dominava a posse de bola e encurralava o Peixe, como costuma fazer com todos os seus adversários. Os zagueiros Danilo, pela direita, e Léo, pela esquerda, que na aposta de Muricy Ramalho tinham a missão de tentar explorar os contra-ataques pelos lados do campo, foram empurrados para trás implacavelmente.
O Peixe corria atrás da bola e nos raros momentos que a tinha esticava para Neymar ou para Borges, que só a viam passar por cima de suas cabeças. Aos 24, Daniel Alves passou a bola para para Xavi. Durval e Bruno Rodrigo não conseguiram cortar. O meia recebeu na entrada da área e chutou rasteiro. Rafael não alcançou e o Barcelona marcou seu segundo gol. Muricy Ramalho, resignado, sentou-se no banco.
Um massacre se desenhava. Enquanto o Barça apresentava 76% de posse de bola, o Santos tinha dado apenas dois chutes a gol, ambos sem ameaçar muito Valdés. Ainda houve bola na trave de Fàbregas. Os santistas nas cadeiras do Estádio Internacional de Yokohama eram torturados, pois os ponteiros do relógio pareciam se arrastar. Aos 30 minutos, Danilo teve de deixar o campo, machucado. Elano, que havia sido preterido antes da partida para a escalação de Léo, entrou. Nada mudou. E o Barça ainda ampliou!
Aos 44, Messi recebeu a bola no meio da zaga e, de calcanhar, deu para Daniel Alves, que cruzou para trás. Rafael espalmou. Thiago tentou de peixinho, o goleiro santista defendeu novamente, mas a bola caiu no pé direito de Fàbregas. Estava encerrado primeiro tempo de uma verdadeira aula de futebol.
Que o Barcelona é muito melhor que o Santos, não é novidade. Era até esperado que a equipe catalã encurralasse o Peixe. O problema é que a defesa santista ia cometendo falhas infantis. Foi assim nos dois primeiros gols e também logo no primeiro minuto do segundo tempo, quando Edu Dracena perdeu a bola para Messi na entrada da área. O argentino rolou para Fàbregas, que chutou rasteiro e errou por muito pouco.
Com oito minutos do segundo tempo, o Barcelona já havia perdido três chances claras de gol. Além de Fàbregas, no primeiro minuto, Messi e Daniel Alves tiveram o gol à sua disposição e não conseguiram marcar.
O primeiro lampejo santista na partida saiu apenas aos 11 minutos do segundo tempo, quando Ganso ganhou a bola no meio e lançou Neymar, que avançou e chutou em cima de Valdés.
A festa do Barcelona |
O Barcelona parou de forçar o jogo e o Santos até conseguiu, em alguns momentos, ter a bola na intermediária adversária. No entanto, não conseguiu ameaçar Valdés. O contra-ataque tão esperado pelos santistas jamais aconteceu. Os torcedores alvinegros no estádio tentaram dar uma força. Cantaram o nome do time, mas em vão. O time espanhol, mesmo tirando o pé, ainda acertou a trave de Rafael, num chute de Daniel Alves. E marcou o quarto gol aos 36, com o próprio Daniel Alves aparecendo na esquerda para servir Messi. Com um toque de gênio, o argentino cortou Rafael e tocou para o gol vazio. Parecia videogame. A fatura estava liquidada e o Santos abaixou a cabeça. Barcelona: campeão deste e de outros mundos.
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Não há quem duvide de que o Barcelona é o melhor time do mundo no momento, mas mostrar isso dentro de campo pode ser fatal. Foi o que fez o Santos. Respeitou demais o Barcelona e perdeu por 4 a 0, sem ver a cor da bola, e volta ao Brasil sem a terceira estrela.
Fonte: G1
Carlos Roberto de Oliveira é advogado estabelecido em Nova Iguaçu - RJ. A criação do Dando Pitacos foi a forma encontrada para entreter e discutir assuntos de interesse geral. |