04 fevereiro 2012

Neymar, Yoani Sánchez e o capitão Jack Sparrow

Duas notícias chamaram a minha atenção hoje pela manhã. A primeira envolve o craque Neymar, que segundo a coluna "Panorama Esportivo" do jornal O Globo, acaba de comprar um iate nos Estados Unidos. O "barquinho", fabricado pela Sea Ray, teria custado ao craque moicano a bagatela de US$ 6 milhões. A outra notícia tem a ver com Yoani Sánchez, jornalista, blogueira e ativista política prisioneira dos irmãos Castro em Cuba, onde o Brasil, através do BNDES, vai investir cerca de US$ 900 milhões na construção do porto de Mariel, obra que está sendo tocada pela Odebrecht.

Fiquei na dúvida sobre que personagem escolher para o meu post de sábado. Se optasse pela cubana, o Dando Pitacos certamente perderia algumas dezenas de acessos, o que não é bom para a "saúde" do blog.

Assim penso, porque se o brasileiro não dá a menor bola para a política doméstica, como esperar que ele se interesse pelo que aconteceu, acontece ou vai acontecer na ilha de Cuba, há décadas submetida ao regime ditatorial instituído por Fidel Castro, que agora divide o poder com o irmão Raúl. Se escolhesse falar sobre o Neymar e o seu novo brinquedo, tenho certeza, a audiência do blog iria subir, mas eu não estaria satisfeito comigo mesmo pela opção feita. Não vejo nada de errado na atitude de um jovem atleta, caso específico de Neymar, que quer curtir a vida e o dinheiro ganho honestamente do Santos e de seus patrocinadores, principalmente numa carreira curta como a do futebol. Mas entre um e outro, eu fico com a cubana, a quem o governo dos Castro negou a permissão para se ausentar do país, mesmo depois do Brasil lhe conceder o visto de entrada. É difícil entender, mas ela é uma prisioneira em seu próprio quintal.

Foi a 19ª vez que a dissidente cubana pediu autorização para sair do país. Em sua página no Twitter, além de exibir o documento que nega o pedido de viagem, ela disse que não se surpreendeu com a decisão, e que governo de Cuba, mais uma vez, viola o seu direito de entrar e sair do país. Ela ainda acrescenta que se sente como um refém sequestrado por alguém que não ouve seus lamentos e sequer explica as razões de suas atitudes. Yoani queria vir ao Brasil simplesmente para participar do lançamento do documentário "Conexão Cuba-Honduras", do cineasta brasileiro Dado Galvão, onde ela fala sobre a falta de liberdade de expressão em Cuba.

Muito decepcionada, ela agradeceu às centenas de mensagens de indignação que recebeu por celular e em seu blog:

- Agradeço a todos os que tiveram a esperança de que desta vez eu conseguiria. Obrigada pelo otimismo, mas sou uma prisioneira - escreveu.

No blog que mantém, o Generación Y, a jovem Yoani estampou uma foto e uma frase dita por Dilma Rousseff durante a campanha eleitoral que a levou ao Palácio do Planalto: 

"Prefiero un millón de voces críticas antes que el silencio de las dictaduras”.

O discurso em questão foi feito no 8º Congresso Brasileiro de Jornais, promovido pela Associação Nacional dos Jornais - ANJ, no Rio de Janeiro - RJ, que discutia a liberdade de expressão, exatamente o tema hoje defendido hoje por Yoani Sánchez. Confira tudo dando uma passadinha no portal do Raul Pont e assistindo o vídeo abaixo, editado especialmente para esta postagem.






Como acima frisado, esta não é a primeira vez que Yoani tenta vir ao Brasil. Uma verdadeira campanha se estendeu pela internet, com direito a exibição do visto brasileiro, de comprovação da ausência de antecedentes criminais e de uma enquete em que os usuários de redes sociais podiam apostar se o governo permitiria ou não a viagem. A cubana chegou a dizer que se sentia como Dilma, presa pela ditadura militar no início da década de 70. Mas todos os esforços foram inúteis. Nossa Dilma sequer mencionou as violações de direitos humanos em Cuba, preferindo atacar os Estados Unidos por causa de Guantánamo, e Yoani, mais uma vez, não teve permissão para viajar ao Brasil.

Mas se colocarmos uma pitada de humor nesta triste história, talvez possamos melhorar o clima do fim de semana e até chegar à conclusão de que nem tudo está perdido. Vamos aguardar a construção do porto de Mariel e tentar convencer o nosso Neymar a "emprestar" o seu iate ao capitão Jack Sparrow, o terceiro personagem do nosso post, que conhecendo o Caribe como conhece, com certeza vai achar um "jeitinho" de resgatar a prisioneira cubana. O barco do garoto moicano não é nenhum "Pérola Negra", mas...



Sobre o Autor:
Carlos Roberto Carlos Roberto de Oliveira é advogado estabelecido em Nova Iguaçu - RJ. A criação do Dando Pitacos foi a forma encontrada para entreter e discutir assuntos de interesse geral.

Cadastre seu e-mail e receba nossas postagens

Blog Widget by LinkWithin