Na edição de ontem (28/04), o Jornal Nacional mostrou a odisseia enfrentada todos os dias pelo técnico em eletricidade Paulo Roberto Santos Junior. Ele sai de Japeri, na Baixada Fluminense, às 5h30 da manhã e só chega ao seu local de trabalho cerca de duas horas e 30 minutos depois. Logo, para ir e voltar do trabalho, ele consome cerca de cinco horas, numa jornada que envolve caminhada a pé, passa pelos trens da Supervia e termina no Metrô.
- É estressante, cansativo. Perco mais tempo no trânsito do que produzindo - comenta Paulo Roberto.
O Censo 2010 do IBGE mostrou que Japeri, onde Paulo Roberto mora, é a cidade brasileira onde os moradores levam mais tempo para chegar ao trabalho.
Das 27.329 pessoas empregadas, 20,6% levam mais de duas horas no deslocamento. Em todo o país, sete milhões de brasileiros levam mais de uma hora de casa até o emprego, e o Rio de Janeiro, acredite, é o campeão de demora nessa jornada.
O problema, é preciso reconhecer, não é novo. Há 40 anos atrás, eu fui passageiro da Rede Ferroviária Federal, substituída pela Flumitrens, que deu lugar à CBTU, que há alguns anos transferiu o imbróglio para a Supervia.
O que mudou de lá pra cá? Absolutamente nada! E os governos, o que fizeram além das promessas demagógicas de sempre? Também nada, absolutamente nada!
Enquanto milhares de cidadãos trabalhadores se espremiam no Rio pelos trens, metrô e ônibus sempre abarrotados ou morriam à espera de socorro nas filas dos hospitais públicos, o governador Sérgio Cabral e seus amigos viajavam pelo mundo, hospedando-se nos mais famosos e caros hotéis da Europa, sem se importar com as imagens reveladoras do comportamento desavergonhado adotado pelos homens públicos no Brasil.
O mais grave nessa história são os "parceiros" de bandalha. Nas fotos abaixo, tiradas no Hotel Ritz, em Paris, e que circularam pela Internet durante a semana, Sérgio Côrtes e Wilson Carlos, secretários de Estado de Saúde e de Governo, respectivamente, e Fernando Cavendish, o dono da Construtora Delta, entre outras pessoas não identificadas, certamente de porre (o que a cara deles não nega), dançam na "boquinha da garrafa" dando gargalhadas e com guardanapos amarrados à cabeça, transmitindo aos frequentadores daquele ambiente refinado uma péssima impressão sobre a gente brasileira.
Sérgio Côrtes, Fernando Cavendish e Wilson Carlos dançando na "boquinha da garrafa" |
Na outra imagem, bem na porta do Ritz, Sérgio Cabral e Cavendish, agachados, também aparecem dançando na "boquinha da garrafa", como se fossem os "reis" de Paris. Enquanto isso, aqui no mundo real, pessoas como Paulo Roberto são submetidas à rotina torturante dos trens, metrô e barcas ou morrem nas filhas dos hospitais, e os sobreviventes das tragédias da Região Serrana e do Morro do Bumba aguardam a construção das casas que lhes foram prometidas.
Sérgio Cabral e Fernando Cavendish na porta do Ritz |
Mas isso não é tudo. Quando estourou o escândalo Carlinhos Cachoeira, e o nome da Delta Construções surgiu como uma lavanderia de dinheiro público, Sérgio Cabral, "preocupado" com a grana do Estado, claro, apressou-se em designar um de seus homens de confiança para investigar os contratos mantidos com a construtora. Esse homem é Régis Fichtner, que aparece na foto logo abaixo, abraçado a Fernando Cavendish, em Paris. Junto aos dois, também agarrado ao homem da Delta, Julio Lopes, secretário de Estado de Transportes.
Julio Lopes, Fernando Cavendish e Régis Fichtner |
Certamente por pura coincidência, o Rio de Janeiro é o Estado da Federação que mais tem negócios com a Delta. A ligação começou nos dois últimos anos do governo Rosinha Garotinho (2005/2006), quando os contratos passaram de R$ 100 milhões. Em 2007, no primeiro mandato de Sérgio Cabral, os contratos tiveram um pequeno freio (certamente por causa dos "ajustes"), mas depois dispararam, e hoje somam mais de R$ 2 bilhões (R$ 2.033.713.112,81). A maior parte destes contratos, cerca de R$ 1,4 bilhão, foram fechados no governo Sérgio Cabral.
Ao final do vídeo que aparece no G1, a reportagem do RJTV informa que perguntou ao governo do Estado qual foi o meio de transporte utilizado na viagem e quem pagou as despesas, o que não foi respondido até o momento. Tire suas próprias conclusões e não esqueça de deixar aquele comentário esperto.
Fonte: G1
Carlos Roberto de Oliveira é advogado estabelecido em Nova Iguaçu - RJ. A criação do Dando Pitacos foi a forma encontrada para entreter e discutir assuntos de interesse geral. |