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Todo ano, geralmente em três datas distintas, a Ordem dos Advogados do Brasil - OAB realiza seu Exame de Ordem, certame obrigatório e única porta de acesso dos bacharelandos em Direito ao mercado de trabalho.
Hoje (28/04), por exemplo, mais de 124 mil candidatos estão sendo submetidos à 1ª fase do 10º Exame de Ordem Unificado da instituição. A prova tem 80 questões de múltipla escolha, sendo que, pela primeira vez, duas devem abordar conceitos da disciplina de filosofia do Direito. Para chegar à segunda fase, que vai acontecer no dia 16 de junho próximo, o candidato precisa acertar 40 questões.
Correta ou incorreta, constitucional ou não, discussão que não vem ao caso neste momento, a verdade é que a filtragem feita no exame deixa evidente a má qualidade do ensino superior no Brasil. Os resultados realmente têm sido alarmantes, já que a maioria dos inscritos não consegue passar nas provas, ficando impedidos de exercer a profissão. No último exame, por exemplo, apenas 16,6% dos candidatos passaram para a segunda fase e só 10,3% conseguiram ser aprovados no final. Foi o índice mais baixo desde 2010, quando o exame foi unificado.
Mas isso não é privilégio das faculdades de Direito. No final do ano passado, mais precisamente no mês de dezembro, o Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo - CREMESP divulgou o resultado do exame de proficiência, obrigatório a partir de 2012, cujos números mostraram que mais da metade dos estudantes que concluíram o curso de medicina nas universidades paulistas não dominam áreas básicas ao exercício da profissão: 54,5% dos 2.411 participantes não acertaram 60% das questões e foram reprovados. A prova teve 120 questões objetivas de múltipla escolha consideradas de fácil e média complexidade. Ainda assim, a média de acertos foi baixa, até mesmo em áreas cruciais como clínica média (média de 53,1% acertos), saúde pública (46,1%) e saúde mental (41%).
O problema é que, por falta de uma legislação específica, como no caso da Ordem dos Advogados do Brasil - OAB, que submete seus acadêmicos ao chamado Exame de Ordem, o mau desempenho não impede que o candidato obtenha o registro junto ao Conselho Regional de Medicina - CRM e comece a trabalhar. Mesmo que sujeito tire zero na prova ou boicote o exame, seu registro estará garantido.
Presidente do CREMESP na ocasião, Renato Azevedo Junior, chegou a dizer que iria propor discussões nas escolas e encaminhar os resultados para o Ministério da Educação.
- Nossa proposta é chamar atenção da sociedade brasileira. O resultado é preocupante e confirma nossa suspeita de que há um grave problema na formação dos médicos. O problema precisa ser enfrentado - afirmou o dirigente.
E Renato Azevedo foi mais longe. Para ele, "o que as escolas têm feito é uma espécie de estelionato, em que altos valores têm sido cobrados e o serviço não tem sido oferecido. Nesse sentido, o governo precisa intervir”.
E Renato Azevedo foi mais longe. Para ele, "o que as escolas têm feito é uma espécie de estelionato, em que altos valores têm sido cobrados e o serviço não tem sido oferecido. Nesse sentido, o governo precisa intervir”.
Até hoje, porém, nenhuma autoridade da área de ensino manifestou-se sobre o tema, o que não se consegue compreender, já que o tratamento deveria ser igual para todos. Além disso, se a população mostra preocupação com o despreparo dos bacharéis em Direito, o que não dizer em relação aos acadêmicos de Medicina que estão chegando aos hospitais e clínicas de todo o país para cuidar da vida das pessoas?
Profissionais médicos a quem consultei, obviamente com o compromisso de não divulgar seus nomes, afirmam que grande parte dos médicos de hoje são formados em faculdades medíocres, com aulas apenas nos finais de semana e provas de múltipla escolha, o que segundo eles é absurdo e justifica os resultados apontados no exame de proficiência do CREMESP.
Sem medo de errar, pode-se afirmar que se os exames eliminatórios, como faz a OAB, fossem obrigatórios para o exercício de todas profissões no país, o nível das universidades, até por uma questão de sobrevivência, tenderia a melhorar, e a sociedade não estaria sujeita ao risco da atuação de tantos profissionais incompetentes.
Qual a sua opinião? Você acha que todo profissional que sai de uma universidade deveria ser testado, como faz a OAB? Ou nada disso resolve e a seleção dos mais capacitados deve ficar a cargo do mercado? Deixe o seu comentário.
Carlos Roberto de Oliveira é advogado estabelecido em Nova Iguaçu - RJ. A criação do Dando Pitacos foi a forma encontrada para entreter e discutir assuntos de interesse geral. |