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De nada vai adiantar transformar a corrupção ou qualquer outro delito praticado por político ou pelo servidor público em crime hediondo, se o Judiciário não funcionar, como nunca funcionou. De nada vai servir uma legislação mais dura se a justiça frouxa, preguiçosa, viciada, e em alguns casos também corrupta, não cumprir o seu papel. A majoração da pena nos casos de corrupção será inútil se não for aplicada a tempo e a hora, se a impunidade continuar, como há anos vem acontecendo, a ser a marca registrada do país. Querem um exemplo?
Uma comissão de pesquisadores do Tribunal de Justiça de São Paulo - SP conseguiu recuperar o inquérito policial instaurado para "apurar" as quatro mortes consideradas o marco inicial do Movimento Constitucionalista de 1932. Suas páginas estão disponíveis no museu da instituição, inclusive para download.
De acordo com o TJSP, o inquérito policial de 78 páginas que deveria apurar as razões e circunstâncias da morte dos jovens Mário Martins de Almeida, Euclydes Bueno Miragaia, Dráusio Marcondes de Souza e Antônio Camargo de Andrade, que ficaram conhecidos pela sigla MMDC, "narra os acontecimentos ocorridos na sede do Partido Populista, na Rua Barão de Itapetininga, esquina com a Praça da República, na noite de 23 de maio de 1932", quando cerca de de 300 pessoas protestavam contra o então presidente Getúlio Vargas e ameaçavam invadir a sede da Liga Revolucionária, que havia dado suporte ao golpe de 1930, ação que foi reprimida a tiros e granadas, culminando com a morte dos estudantes.
Ferimentos sofridos por Antônio Camargo de Andrade e Mário Martins de Almeida (foto: reprodução) |
Ninguém foi punido pela morte dos jovens, pois, segundo o tribunal paulista, uma sentença manuscrita pelo juiz Waldemar César Silveira declarou a extinção da punibilidade em razão da prescrição, acatando parecer do promotor Alberto Quartim Morais Júnior, e isto porque o inquérito só chegou ao Judiciário mais de vinte anos depois das mortes. Como se pode ver, não é de hoje que a polícia e a justiça brasileiras trilham de mãos dadas o caminho da impunidade...
Carlos Roberto de Oliveira é advogado estabelecido em Nova Iguaçu - RJ. A criação do Dando Pitacos foi a forma encontrada para entreter e discutir assuntos de interesse geral. |