22 novembro 2013

Papuda quebra regras para beneficiar condenados do mensalão

Marcos Valério, Delúbio, José Dirceu e Genoino (foto: reprodução)

Um dos slogans da milionária campanha publicitária do governo federal diz que o Brasil é "um país de todos", ficção que alguns fatos nos mostram estar bem longe da realidade. Para chegar ao Complexo Penitenciário da Papuda, o maior presídio do Distrito Federal, centenas de homens, mulheres e crianças que queiram visitar quaisquer dos 10 mil detentos ali aprisionados são obrigados a enfrentar uma estrada escura no meio do cerrado, sem nenhum comércio ou residências. Na madrugada das quartas e quintas-feiras do período do inverno, por exemplo, eles enfrentam o frio na beira da pista, enrolados em cobertores e edredons, numa espécie de "fila da tristeza".

As visitas nas quatro unidades penitenciárias da Papuda acontecem sempre das 9h às 15h e cada interno tem um dia específico para receber familiares e amigos, que para entrar têm que fazer um cadastro prévio, que é analisado sob rígidos critérios pela administração da penitenciária, regras aplicadas de forma diferenciada no "país de todos" da ficção.


A fila entra pela noite (foto: reprodução)

Desde o último sábado (16/11), por exemplo, nove dos condenados pelo Supremo Tribunal Federal - STF no processo do mensalão estão presos na Papuda, entre eles o ex-todo poderoso chefe da Casa Civil, José Dirceu, o deputado licenciado José Genoino (PT-SP) e o ex-tesoureiro do PT, Delúbio Soares, apesar das rígidas regras impostas às famílias dos mortais presos comuns, vêm recebendo a visita de parentes, amigos e colegas de partido, que chegam em vans com ar condicionado, sem nenhum cadastro prévio ou respeito aos dias e horários pré-determinados, como aconteceu na última terça-feira (19/11), quando a Secretaria de Segurança Pública do DF abriu uma "exceção" e permitiu que parentes e amigos dos condenados os visitassem no cárcere, porque as famílias "já tinham se deslocado para o local".


Parentes e amigos de presos comuns se espremem na fila (foto: reprodução)

No dia seguinte (20/11), apesar do anúncio da proibição das visitas fora dos dias habituais, uma comitiva com 26 deputados federais se reuniu com os presos, o mesmo acontecendo nesta quinta-feira (21/11), quando um grupo de senadores também desobedeceu a regra e foi à Papuda visitar os petistas encarcerados.


Caravana de políticos se prepara para ir à Papuda (foto: reprodução)

Enquanto isso, repita-se, visitantes dos presos comuns – a maioria deles mulheres carregando crianças de colo – passam a noite ao relento na portaria do complexo penitenciário para conseguir entrar cedo e aproveitar o máximo possível o único dia de visitas da semana. Não são raros os casos de pessoas que chegam na manhã do dia anterior para assegurar os primeiros lugares na fila.

Na madrugada desta quinta (21/11), uma mãe desempregada e grávida de um mês, segurando pelas mãos uma filha de 3 anos e outra de 1 ano e 8 meses, protestou:


Queria que as mulheres dos mensaleiros ficassem aqui na fila com a gente para ver o que a gente passa. Aqui é só tristeza."



Uma outra mulher, que semanalmente visita o irmão na prisão, diz que o tratamento diferenciado dado aos parentes e amigos dos condenados do mensalão aumentou o sentimento de "discriminação, indignação e impunidade" entre cidadãos comuns e regulares que vão à Papuda.


A gente fica indignado porque tem de passar por isso tudo. Eles (os parentes e amigos dos reús do mensalão) não são iguais? (...) Os parlamentares e o governador Agnelo nunca vieram aqui visitar os presos comuns antes", desabafou a mulher.


Mas não é só. Sem acesso a banheiros, que não existem na área externa da Papuda, as centenas de pessoas que circulam pelo presídio nos dias de visitas, inclusive mulheres, são obrigadas a buscar alternativas para as necessidades íntimas e de higiene pessoal. Sem outras opções, alguns se valem dos arbustos comuns na vegetação de cerrado. Outros recorrem a alternativas improvisadas, como embalagens de sorvete que, diante da necessidade, se transformam em penicos.

Este é o Brasil, que continua, sim, a ser "o país de todos"... os políticos, principalmente quando eles pertencem a determinadas siglas partidárias, cujos integrantes, sem o menor pudor, insistem em reverenciar e a defender os bandidos responsáveis pelo maior escândalo político da história da República. Afinal, que diferença pode existir entre bandidos condenados?






Sobre o Autor:
Carlos Roberto Carlos Roberto de Oliveira é advogado estabelecido em Nova Iguaçu - RJ. A criação do Dando Pitacos foi a forma encontrada para entreter e discutir assuntos de interesse geral.

Cadastre seu e-mail e receba nossas postagens

Blog Widget by LinkWithin