10 maio 2010

Povo sem história é povo sem cultura



A Vila de Iguassu surgiu às margens do Rio Iguaçu lá pelos idos de 1800, bem próximo do local onde hoje estão as ruínas da Fazenda São Bernardino, na região de Tinguá. A vila se desenvolveu e virou município. Pouco tempo depois, em terras da região de Iguassu, surgiu um arraial, que recebeu o nome de Maxambomba e cresceu muito com a chegada da Estrada de Ferro D. Pedro II, em 1858. A vila de Iguassu, porém, era pujante, por causa da sua localização privilegiada, às margens de uma das variantes do Caminho Novo para Minas Gerais e do Rio Iguaçu, navegável àquele tempo. Por ele, chegava-se à Baía de Guanabara e à capital do Império.

O que hoje chamamos de Baixada Fluminense (Duque de Caxias, São João de Meriti, Nilópolis) era o município de Iguassu, que tinha sede em Tinguá. No final do século XIX, Iguassu sofreu um surto de cólera e muita gente morreu. Por isso, as autoridades da época decidiram mudar a sede do município para Maxambomba, que acabou virando Nova Iguassu, isso lá pelos idos de 1910. A antiga cidade foi abandonada aos poucos e a floresta tomou conta de tudo. Ainda hoje há escombros da velha Iguassu nas matas de Tinguá.

A Fazenda São Bernardino, inaugurada em 1875, pertenceu a Bernardino José de Souza e Mello, e estava localizada nos arredores da antiga Vila de Iguassu. Como se pode ver pela foto que ilustra esta postagem, encontra-se em deplorável estado de abandono, mesmo tendo sido tombada como obra de arte, acreditem, pelo Patrimônio Histórico Nacional. É um dos mais flagrantes do desrespeito, da omissão e da negligência em relação ao patrimônio histórico e cultural da Baixada Fluminense.

Segundo reportagem do O GLOBO (10/05), "a falta de infraestrutura é o principal entrave para o crescimento do turismo no Estado do Rio. Faltando quatro anos para a Copa do Mundo e seis anos para os Jogos Olímpicos, dos 92 municípios do estado, 66 sequer têm rodoviárias intermunicipais, apenas 18 têm aeroportos, e falta sinalização até mesmo para localizar os principais pontos turísticos ou históricos. Além disso, são poucas as cidades com condições de oferecer serviços como restaurantes de qualidade e lazer. Em seis municípios nem mesmo há oferta de dormitórios.

Os dados fazem parte da pesquisa feita pelo Departamento de Geografia da Uerj e pela Fecomércio e publicada no "Caderno de turismo do Estado do Rio - Passaporte para o desenvolvimento do Estado". A iniciativa é do Fórum Permanente de Desenvolvimento Estratégico do Estado Jornalista Roberto Marinho, que reúne mais de 20 instituições, entre eles Alerj, universidades, órgãos de turismo e entidades do setor. O objetivo é reunir informações detalhadas para a criação de políticas públicas que possam acelerar o desenvolvimento do interior.

Para resgatar a história, recuperar o patrimônio cultural do estado e criar infraestrutura para que essas riquezas, junto com o patrimônio natural, possam alavancar o turismo, até julho a secretária de Turismo, Esporte e Lazer, Márcia Lins, assina com o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) contrato de US$ 187 milhões, cerca de R$ 325 milhões. E 40% desse valor, ou R$ 130 milhões, serão investidos na recuperação de estradas e em sinalização, construção de centros de informações turísticas, obras de saneamento e drenagem, entre outras.

- É um desafio. O estado inteiro tem potencial para o turismo, mas falta a estrutura. Por isso, dos US$ 187 milhões do Prodetur, 60% serão destinados ao produto turístico, ou seja, revitalizações de centros históricos, sinalização e capacitação profissional. Os outros 40% serão investidos em melhorias de estradas, saneamento, recuperação de encostas e construção de estradas, a exemplo da pavimentação da RJ-163, a primeira estrada-parque construída no estado, ligando Vila da Capelinha a Visconde de Mauá (Resende) - explicou Márcia Lins".

Na nossa opinião, o descaso com a Baixada Fluminense é imperdoável. Já afirmamos aqui que ela só é lembrada em época de eleições, quando "nossos municípios são invadidos por políticos de todos os Partidos, vindos de todos os cantos do Estado, candidatos que são a um cargo eletivo na Assembléia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro – RJ, na Câmara dos Deputados e até no Senado Federal! É verdade, ajudamos a eleger até Senadores da República", mas, também afirmamos na mesma ocasião, "o que fazem referidos candidatos, agora detentores de um mandato? Simplesmente desaparecem"!!!

Por isso, nós, da Baixada Fluminense, não acreditamos no que diz a secretária de Turismo, Esporte e Lazer. Com certeza, dos US$ 187 milhões do Prodetur, o que não for perdido na corrupção irá financiar a melhoria de bairros e cidades não tão carentes como a Baixada Fluminense, apesar de todos os tesouros que ela abriga, o que é muito triste.

O povo fluminense não conhece sua história, e o restante do Brasil jamais terá acesso a ela, porque como ocorre com a Fazenda São Bernardino, centenas de outras "obras de arte" estão se perdendo, deteriorando-se pela ação do tempo e omissão dos governantes. Pobre gente sem memória! Pobre povo sem cultura! Pobre Baixada Fluminense, sem líderes políticos capazes de defender seus interesses!

Sobre o Autor:
Carlos Roberto Carlos Roberto de Oliveira é advogado estabelecido em Nova Iguaçu - RJ. A criação do Dando Pitacos foi a forma encontrada para entreter e discutir assuntos de interesse geral.

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4 comentários:

  1. ah de se valorizar a cultura, para não perder a história.O povo deve revindicar, a paz

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  2. Eu vi a matéria sobre este fato no sábado, no Jornal Hoje. Depois, o jornal O Globo pautou e foi publicado hoje. Foi, digamos, um belo resgate de parte da história, o que deveria ser feito mais vezes. Por exemplo, por pouco não falamos francês em vez de português e muitos cariocas não sabem disso.

    Caso permita, gostaria de sugerir a leitura do artigo "Vejo o Rio de Janeiro, minha alma canta", que está sob o link:

    http://recantodaspalavras.com.br/2008/02/29/vejo-o-rio-de-janeiro-minha-alma-canta

    Abraços e obrigado.

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  3. Muito boa abordagem sobre esse tema. Penso que Nova Iguaçu tem passado momentos de crise , mas em breve voltará a sorrir com certeza.

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  4. Muito boa informação Roberto .
    Quase não se fala da história da Baixada Fluminense ,
    e voce nos fez lembrar que a baixada também é um centro histórico e cultural do Rio de Janeiro e também pode ser um centro de lazer e entretenimento .

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