12 setembro 2010

A MINISTRA E A PROPINA

A edição da revista Veja desta semana revela um caso surpreendente de aparelhamento do estado, que tem como figura central a ministra-chefe da Casa Civil, Erenice Guerra, sucessora de Dilma Rousseff no cargo, a mesma senhora que teria mandado fazer o dossiê com a relação dos gastos sigilosos do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e de sua falecida esposa, Ruth Cardoso, lembram? A reportagem mostra que, com a anuência e o apoio de Erenice, seu filho, Israel Guerra, que tem uma empresa chamada Capital Assessoria e Consultoria, transformou-se em lobista em Brasília, intermediando contratos milionários entre empresários e órgãos do governo mediante o pagamento de uma "taxa de sucesso", coisa que no meu tempo a gente chamava de propina. Não bastasse fazer uso da influência da ministra em seus negócios, a "consultoria" ainda tem como sócios dois servidores públicos lotados na Casa Civil.


- Fui informado de que, para conseguir os negócios que eu queria, era preciso conversar com Israel Guerra e seus sócios - disse à revista Fábio Baracat, empresário do setor de transportes, que no segundo semestre do ano passado, buscava ampliar a participação de suas empresas nos serviços dos CorreiosBaracat seguiu o conselho para aproximar-se de Israel, que, depois de alguns encontros preliminares, levou-o para um primeiro encontro com sua mãe. Nessa época, Dilma Rousseff ainda era a titular da Casa Civil e Erenice Guerra, seu braço direito.

- Depois que eles me apresentaram a Erenice, senti que não estavam blefando - conta Baracat - que antes da reunião teve de deixar para trás caneta, relógio, celular ou qualquer aparelho que pudesse embutir um gravador.

O empresário contratou os préstimos da Capital Assessoria e Consultoria, e passou a pagar R$ 25 mil mensais, sempre em dinheiro vivo, para que Israel fizesse avançar seus interesses em órgãos do estado. Se os negócios das empresas de Baracat se ampliassem, uma "taxa de sucesso" de 6% seria paga.

Houve mais encontros com Erenice. No último deles, em abril deste ano, quando ela já havia assumido o ministério - o mais poderoso na estrutura governamental, sempre é bom lembrar - registrou-se um diálogo, no mínimo, curioso. Incomodada com o atraso de um dos pagamentos, Erenice teria dito a Baracat:

- Entenda, Fábio, que nós temos compromissos políticos a cumprir - frase que sugere que parte do dinheiro destinado a Israel Guerra era usada para alimentar o projeto de poder do grupo que hoje ocupa o governo.

O lobby de Israel Guerra, com patrocínio materno, trouxe dividendos para as empresas de Fábio Baracat. Nos dois meses que se seguiram ao último encontro com Erenice, ele obteve contratos no valor de 84 milhões de reais com os Correios. Estima-se, portanto, que a Capital Assessoria e Consultoria tenha embolsado algo em torno de R$ 5 milhões em todo o processo.

O esquema no alto escalão do governo também inclui Vinicius Castro, funcionário da Casa Civil, e Stevan Knezevic, servidor da Agência Nacional de Aviação Civil - ANAC, hoje lotado na Presidência. Eles são parceiros de Israel Guerra. Como a Capital tem sede na casa do proprio Israel, o trio recorre a um escritório de advocacia em Brasília para despachar com os clientes. Ali trabalha gente importante. Um dos advogados é Marcio Silva, coordenador em Brasília da banca que cuida dos assuntos jurídicos da campanha presidencial de Dilma Rousseff. Outro é Antônio Alves Carvalho, irmão de Erenice Guerra.

Em resposta à reportagem, a ministra-chefe da Casa Civil negou a acusação, como aliás  fazem todos os envolvidos em escândalos ligados ao Planalto, e mandou um assessor informar que “o seu sigilo bancário está disponível para verificação”, afirmando, ainda, que pretende processar a revista.



Em visita a uma associação de moradores da favela de Paraisópolis, na zona sul de São Paulo, Dilma Rousseff foi questionada, mas afirmou que comentar o assunto seria se ater à "pauta" do adversário José Serra (PSDB).


- Eu não vou ficar me atendo à pauta do meu candidato adversário. A minha pauta é propositiva. Quero discutir propostas - declarou a candidata oficial do Planalto.


Na ocasião, ela estava acompanhada do senador Aloizio Mercadante (PT), candidato ao governo de São Paulo; dos candidatos ao Senado por São Paulo Marta Suplicy (PT) e Netinho (PC do B); e do presidente nacional do PT, José Eduardo Dutra.




Já a candidata Marina Silva, do PV, pediu uma rápida investigação sobre o assunto, ressalvando não vai "condenar ninguém sem provas", mas que "a denúncia é muito grave, e o que está sendo dito exige satisfação para a sociedade e investigação imediata".

- É preciso investigação e punição. São denúncias graves e deve-se fazer uma investigação com rigor - afirmou a candidata durante visita neste domingo ao Museu do Futebol, no estádio do Pacaembu, em São Paulo. Marina Silva também voltou a falar sobre a quebra de sigilo fiscal de pessoas ligadas ao PSDB.

- Hoje, no Brasil vivemos uma situação dramática. Denúncias de todos os lados, atuais e passadas. Precisamos ter um olhar para a gestão pública, para que não surjam denúncias apenas em período eleitoral - afirmou.



Fonte: Veja e G1

Sobre o Autor:
Carlos Roberto Carlos Roberto de Oliveira é advogado estabelecido em Nova Iguaçu - RJ. A criação do Dando Pitacos foi a forma encontrada para entreter e discutir assuntos de interesse geral.

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2 comentários:

  1. Que Post Fantástico:
    Amigo Roberto:
    A notícia em tela que você sabiamente veicula se chega a quase conclusão ser um cabo de guerra com forças explicitas sobre qual grupo de gatunos tem o maior domínio no bolo da corrupção instalado no gabinete governamental. O mais intrigante e vexatório do quadro vergonhoso, é que, em vez de o mandatário maior vir a público pedir desculpas a nação, sai em defesa dos agentes do grupelho acusado de surripiar as verbas públicas como se fossem a coisa mais natural do mundo tais práticas. Tudo na tentativa de justificar mais um escândalo voltado a negociatas atribuído a um membro de seu governo, quando o correto e decente seria o imediato afastamento e a devida apuração dos fatos.
    Das saudosas memórias que muito bem deveriam ser preservadas o que se vê é uma arrogância e pedantismo tripudiando em cima da inteligência e vampirizando o suor de um povo que sempre foi honrado e trabalhador, o povo brasileiro.
    Parabéns por mais um excelente Post!
    Abraços,
    LISON.

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  2. Isso é o pior de tudo, Lison!

    Apesar de toda a patifaria que vem ocorrendo "neççe paiz" há exatos oito anos, o nosso presidente, o homem em quem a Nação depositou sua confiança, continua a defender os criminosos; continua a tentar justificar a lama em que todos estão mergulhados; insiste em fazer de conta que nada aconteceu, ou, pior que isso, que tudo é "intriga da oposição", uma oposição que nem existe, porque ele "comprou" a todos.

    O Brasil passa, sem nenhuma controvérsia, por um dos momentos mais negros de sua história política, que tudo está a indicar, vai continuar a ser escrita com muita lama, ao menos até o momento em que o povo conseguir exercitar um de seus mais importantes sentidos: a visão!

    Um grande abraço...

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