A beleza e o encanto do Jardim Botânico do Rio de Janeiro, acredito, estão fora de qualquer discussão, mas este ano, bem antes da época prevista, ele ficou ainda mais bonito, e isto porque as Vitórias-régias que enfeitam os lagos do parque ganharam flores antes do fim do outono, que seria o normal.
A explicação para o fenômeno está na variação climática, segundo o engenheiro agrônomo Luiz Antonio da Silva.
- Nos primeiros meses do ano, passamos por um período sem chuvas e com baixa umidade do ar, características que se assemelham às do inverno. Quando começou o outono, e as chuvas voltaram, as flores interpretaram que já era o momento de nascer. O ritmo biológico delas é regulado pelas mudanças climáticas - explica Luiz Antonio.
Ainda segundo ele, mesmo sendo uma planta aquática, a Vitória-régia sofre a interferência da chuva em seu ritmo biológico, o mesmo acontecendo em relação às camélias e azaleias, que também tiveram seu florescimento antecipado.
Vitória-régia (foto: Carlos Roberto)
A vitória-régia ou Victória-régia (Victoria Amazonica), planta aquática da família das Nymphaeaceae, típica da região Amazônica, tem como característica principal uma grande folha em forma de círculo, que fica sobre a superfície da água, pode chegar a ter até 2,5 metros de diâmetro e suportar cerca de 40 quilos, se eles forem bem distribuídos em sua superfície, é claro.
Lago do Jardim Botânico (foto: Carlos Roberto)
Sua flor, chamada pelos europeus de "rosa lacustre", que pode ser branca, lilas, roxa, rosa e até amarela, expele uma fragrância noturna adocicada como o abricó e se mantém aberta até aproximadamente as nove horas da manhã do dia seguinte. No segundo dia, o da polinização, a flor é cor de rosa, e assim que se abre seu forte odor atrai os besouros polinizadores (cyclocefalo casteneaea). Novas tecnologias (adubação e hormônios) hoje permitem um maior controle do tamanho dos pratos, o que faz com que a vitória-régia seja muito usada no paisagismo urbano, tanto em grandes lagos como em pequenos espelhos d'água.
Entre os indígenas, a vitória-régia tem muitos nomes: irupé (guarani), uapé, aguapé (tupi), aguapé-assú, jaçanã, nampé, forno-de-jaçanã, rainha-dos-lagos, milho-d'água e cará-d'água. O nome Vitória foi dado pelos ingleses em homenagem à rainha, quando o explorador alemão Robert Hermann Schomburgk, a serviço da Coroa Britânica, levou suas sementes para os jardins do palácio inglês.
O suco extraído da raiz da vitória-régia serve de tintura negra para os cabelos dos indígenas. Ela é utilizada, ainda, em alguns rituais da cultura afro-brasileira, onde sua folha é tida como sagrada.
Carlos Roberto de Oliveira é advogado estabelecido em Nova Iguaçu - RJ. A criação do Dando Pitacos foi a forma encontrada para entreter e discutir assuntos de interesse geral. |