Que o brasileiro comum ainda não tenha entendido a diferença entre liberdade de expressão e desrespeito é algo compreensível, o que já não ocorre quando o erro de interpretação é cometido por uma revista como a Placar, do grupo Abril, que na edição de outubro vai estampar na capa a imagem do jogador Neymar, craque do Santos e da seleção brasileira, crucificado, e o mais grave de tudo, utilizando o corpo do próprio Jesus Cristo, numa fotomontagem de péssimo gosto e flagrante desrespeito à religiosidade brasileira.
Por isso mesmo, a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil - CNBB publicou na tarde de ontem (28/09) uma nota, assinada pelo cardeal Dom Raymundo Damasceno, presidente da entidade e arcebispo da Arquidiocese de Aparecida, no Vale do Paraíba, onde ele manifesta sua profunda indignação.
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O cardeal, em um trecho da nota, afirma que reconhece a liberdade de expressão como princípio democrático, mas questiona a falta de limites de alguns profissionais, como no caso específico dos editores da Placar. "A ridicularização da fé e o desdém pelo sentimento religioso do povo por meio do uso desrespeitoso da imagem da pessoa de Jesus Cristo sugerem a manipulação e instrumentalização de um recurso editorial com mera finalidade comercial", afirma a nota.
Nas legendas de capa percebe-se que a intenção da revista é chamar a atenção para a polêmica criada em torno das acusações de que o atleta vem tentando se valer do recurso de simular faltas para induzir em erro os árbitros que atuam nas partidas em que ele se apresenta, o que a matéria chama de "A crucificação de Neymar".
A ideia, que pode ter parecido genial num primeiro momento, acabou se transformando numa grande burrada, tanto que em uma nota divulgada no site da publicação, a revista pediu desculpas e tentou fugir das críticas, explicando que não teve a intenção de ferir a religiosidade de ninguém.
Num dos trechos da nota pode-se ler que "a analogia da fotomontagem é com a crucificação como método de execução pública praticado antigamente. Quando a reportagem estava sendo produzida, surgiu a palavra “crucificação”, usada corriqueiramente hoje em dia, e daí veio a imagem da condenação e da crucificação", o que até pode explicar a intenção da revista, mas não justifica a forma como ela ridiculariza e desdenha do sentimento religioso de quase toda a Nação.
Como bem acentuou a nota da CNBB, a publicação mostrou-se "no mínimo, insensível ao recente quadro mundial de deplorável violência causado por uso inadequado de figuras religiosas, prestando, assim, um grave desserviço à consolidação da convivência respeitosa entre grupos de diferentes crenças".
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Carlos Roberto de Oliveira é advogado estabelecido em Nova Iguaçu - RJ. A criação do Dando Pitacos foi a forma encontrada para entreter e discutir assuntos de interesse geral. |