29 abril 2013

Graduada em letras, garota de programas diz: "faço porque gosto"

Lola Benevenutti (foto: Felipe Turioni/G1)

O Dando Pitacos é um blog de variedades, que traz fatos e acontecimentos do cotidiano. Alguns são alegres, outros tristes, e há também aqueles que não são nem uma coisa nem outra, apenas acontecem e acabam integrando o nosso dia-a-dia.

É o caso de Gabriela Natália da Silva, também conhecida como Lola Benevenutti, pseudônimo inspirado em uma personagem do escritor russo Vladimir Nabokov, uma jovem de 21 anos, recém-formada em letras pela Universidade Federal de São Carlos - UFSCar, que sem qualquer problema assume a condição de garota de programa. Bonita, com o corpo marcado por tatuagens que exibem frases de Guimarães Rosa e Manuel Bandeira, ela criou e mantém um blog, o Lola Benevenutti, onde relata suas experiências sexuais com os clientes e escreve contos.

- Sempre gostei de sexo, então tinha um desejo secreto de trabalhar com isso e não há nada mais justo, faço porque gosto - afirma a jovem.

Nascida em Pirassununga - SP, Gabriela mudou-se para São Carlos com o intuito de ali cursar a faculdade. Temendo algum tipo de represália, ela preferiu manter em sigilo a condição de prostituta, pelo menos até o término de seus estudos.

- Fiquei com um pouco de medo de isso reverberar de alguma forma na faculdade, então achei melhor terminar a graduação para colocar o blog no ar - contou.

O Lola Benevenutti recebe aproximadamente duas mil visitas por dia e é nele, como acima já registrei, que a garota conta toda a sua rotina como prostituta. Mas ela não vê semelhanças entre a sua história e a de Bruna Surfistinha, pseudônimo de Raquel Pacheco, uma ex-prostituta que fez fama na internet e foi parar nas páginas de um livro e telas do cinema.

- Ela teve uma vida diferente da minha, com outras oportunidades - explica Gabriela.

Além de guardar seus contos e servir como ponto de encontro entre ela e os clientes, que chegam a cinco por dia, o blog serve, segundo Gabriela, para levantar discussões sobre o prazer no sexo. Paralelamente a ele, ela mantém um arquivo de fotos no Spartanas, um portal que cadastra acompanhantes.

- As pessoas são hipócritas, vivem de sexo, veem vídeo pornográfico, mas não falam porque têm vergonha. Um monte de mulher entra no blog e fala que adoraria fazer o que eu faço, mas não tem coragem; e dos homens escuto as confissões mais loucas e cada vez mais esse tabu do sexo é uma coisa besta - revela.

Gabriela pretende, ainda este ano, mudar-se para a capital paulista, onde vai continuar a trabalhar como garota de programa e cursar mestrado na Universidade de São Paulo - USP. Para isso, ela já vem conversando com alguns professores, e se tudo der certo, vai se empenhar em pesquisas sobre prostituição e fetiches, assunto que a atrai desde a adolescência.

- Desde os 14 anos estudo o sadomasoquismo, que hoje está ficando mais popularizado com ajuda do livro Cinquenta Tons de Cinza, que é marginalizado para quem curte, mas abriu um leque para as pessoas que não conheciam - explicou.

Gabriela conta que ao contrário do que as pessoas imaginam, sua vida não foi marcada por qualquer episódio que pudesse despertar o interesse incomum que ela tem sobre o sexo.

- Todo mundo fica me perguntando qual foi o fato que desencadeou isso, eu respondo que nada, meus pais foram ótimos, tive uma ótima educação, entrei na faculdade direto, fiz uma boa universidade e só - garantiu a jovem, que do mesmo modo que Tieta, a famosa personagem de Jorge Amado, provoca enorme alvoroço quando vai à sua cidade natal.

- Eu não vou muito pra lá, sinto que toda vez que vou, levanto uma poeira de discórdia e os vizinhos ficam comentando. Minha mãe já desconfiava porque nunca pedia dinheiro para ela e a relação foi muito mais difícil porque ela se importa muito com o que os outros dizem, mas a gente se fala - confidencia Gabriela.

Já com o pai, militar da reserva, a relação é de respeito, principalmente depois que ele aprendeu a separar Gabriela de Lola.

- Meu pai ficou seis meses sem falar comigo, eu achei que fosse pra vida toda, mas aí teve a minha formatura e ele veio. Na ocasião, disse que a filha dele era a Gabriela, não a outra, deixando bem claro que não compactua com isso. Mas ele ficou do meu lado e acho ele um herói porque não me abandonou - finalizou.

O mundo avançou, e o leque de liberdades cresceu, mesmo que a sociedade a elas ainda não tenha se adaptado completamente. É questão de tempo. Assim como muitos hoje defendem o direito dos homossexuais, a prostituição talvez seja a mais antiga "profissão" que a humanidade já conheceu. Por que, então, recriminar quem, como Gabriela, dela se utiliza para sobreviver ou simples opção de vida? Acho que ela é mais honesta e digna que muitas jovens que posam de "menininhas do papai" e vão para os bailes funk sem calcinhas. Você concorda? Discorda? Deixe um comentário, educado, de preferência.






Sobre o Autor:
Carlos Roberto Carlos Roberto de Oliveira é advogado estabelecido em Nova Iguaçu - RJ. A criação do Dando Pitacos foi a forma encontrada para entreter e discutir assuntos de interesse geral.

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