22 junho 2013

Dilma Rousseff perde a chance de embarcar no bonde da história

Montagem: Raphael Bruno

Depois de uma série de manifestações em mais de 140 cidades do país, a presidente Dilma Rousseff anunciou ontem (21/06) que vai elaborar um Plano Nacional de Mobilidade Urbana que privilegie o transporte público; que pretende receber os "líderes das manifestações pacíficas" e que "conversará" com os governadores e prefeitos de nossas principais cidades visando a elaboração de um pacto para a melhoria dos serviços públicos.

- Vou convidar os governadores e os prefeitos das principais cidades do país para um grande pacto em torno da melhoria dos serviços públicos. O foco será: primeiro, a elaboração do Plano Nacional de Mobilidade Urbana, que privilegie o transporte coletivo; segundo, a destinação de 100% dos recursos do petróleo para a educação; terceiro, trazer de imediato milhares de médicos do exterior para ampliar o atendimento do SUS - disse a presidente.

Disse também, certamente alertada por seus assessores, que se reunirá com as lideranças das manifestações e com representantes de movimentos sociais.

- Anuncio que vou receber os líderes das manifestações pacíficas, os representantes das organizações de jovens, das entidades sindicais, dos movimentos de trabalhadores, das associações populares. Precisamos de suas contribuições, reflexões e experiências. De sua energia e criatividade, de sua aposta no futuro e de sua capacidade de questionar erros do passado e do presente.

Esse modelo de discurso já não engana o cidadão mais esclarecido. Chega a ser patético que ela, depois de 10 anos de governo do PT, só agora venha a falar na elaboração de "um Plano Nacional de Mobilidade Urbana" e num "pacto para a melhoria dos serviços públicos".

Além disso, fixar-se na discussão do vandalismo é esquecer que eles, os vândalos, são os mesmos marginais que atormentam o país há alguns anos, simplesmente porque não temem a lei, que em detrimento do cidadão vive a beneficiá-los, permitindo, por exemplo, que criminosos acusados de crimes hediondos respondam aos processos em liberdade mediante o pagamento de fiança, como é o caso da Lei nº 12.403, de 04 de maio de 2011, sancionada pela própria Dilma para esvaziar as cadeias superlotadas, que a incapacidade do Estado não consegue administrar, o que não é novo, é verdade, mas também não teve qualquer melhoria nos últimos 10 anos de governo petista.

Aliás, o que o vídeo abaixo mostra também é vandalismo, só que praticado pela "otoridade", o que acaba gerando reações nem sempre pacíficas, nem sempre de vândalos. 


 


Por outro lado, trazer para o país "milhares de médicos do exterior" ou admitir os outros milhares de médicos brasileiros que as universidades despejam no mercado de trabalho anualmente, sem uma saúde pública estruturada, como vem acontecendo no Brasil, não é a solução para as pessoas que morrem sem atendimento nos corredores dos nossos hospitais.

Ao invés disso e no uso das atribuições de uma verdadeira chefe de Estado, ela deveria, apenas para lembrar algumas questões relevantes, dizer que vai reduzir os ministérios, acabando com o cabide de um bando de incompetentes; que vai buscar a Reforma Tributária que Lula vociferava dos palanques em tempos de campanha eleitoral e até hoje não saiu do papel; que vai destinar um percentual fixo dos cofres da União para a saúde; que vai, efetivamente, combater a corrupção, determinando, de início, uma auditoria independente (por uma consultoria internacional, de preferência) nos gastos feitos com as Copas das Confederações e do Mundo, onde o superfaturamento corre solto, lançando no ralo da corrupção bilhões de reais sangrados dos cofres públicos; que vai, pelos meios e formalidades legais que o seu cargo permite, pedir a Joaquim Barbosa, presidente do Supremo Tribunal Federal - STF, que o processo do mensalão seja acelerado, mostrando a todos que aqui os "malfeitos" são punidos, independentemente da cor da bandeira do partido político de seu autor, o que jamais aconteceu na "história desse país".

Infelizmente, nenhuma destas questões foi lembrada por Dilma, que preferiu o discurso do óbvio e perdeu uma enorme oportunidade de embarcar no bonde da história. Sua fala, com absoluta certeza, nenhuma consequência benéfica trará ao momento político que atravessamos. O povo brasileiro acordou, quer atitudes e não análises superficiais do comportamento dos manifestantes, que ninguém desconhece, carrega em si uma lamentável dose de vandalismo, talvez alimentada por aqueles que têm interesse em desqualificar o esforço que milhares de brasileiros vêm fazendo para demonstrar sua legítima e justa insatisfação. No duro, no duro, você teria feito melhor se ficasse calada, "presidenta"!




Sobre o Autor:
Carlos Roberto Carlos Roberto de Oliveira é advogado estabelecido em Nova Iguaçu - RJ. A criação do Dando Pitacos foi a forma encontrada para entreter e discutir assuntos de interesse geral.

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