Coleta seletiva chega a apenas 30% da população.
Crise leva catadores a não recolher material nas ruas.
Crise leva catadores a não recolher material nas ruas.
Daniella Clark
A maioria dos cariocas ainda não conjuga o verbo reciclar. Seja por falta de informação ou acesso – hoje a coleta seletiva municipal chega a apenas 1,8 milhão de pessoas, o que corresponde a 30% da população – a realidade é que só 3% de todo o lixo domiciliar, de quase 146 mil toneladas por mês, é encaminhado para reciclagem.
Esse índice, segundo o assessor da diretoria técnico-industrial da Comlurb, José Henrique Penido, inclui o material recolhido pela companhia de limpeza e por catadores e sucateiros nas ruas.
“O problema é que essa coleta seletiva acaba saindo cara, porque o caminhão anda muito e recolhe pouco”, explica Penido. “A população ainda não aderiu à coleta seletiva. Sem a participação da população não há como ter um bom programa”.
Hoje, a Comlurb conta com quatro caminhões para coleta seletiva, que percorrem 42 bairros da cidade, quase a metade deles na Zona Sul. A coleta porta a porta foi iniciada em 2002 e vem aumentando aos poucos. Em 2004, segundo dados da empresa, 232 toneladas por mês eram recolhidas. Esse número passou para 449 toneladas em 2006 e 540 toneladas por mês em 2008.
Crise reduziu preço de material reciclável
Com a crise financeira mundial, o preço pago pelo material recolhido aos catadores caiu pela metade, o que levou a um desinteresse por parte desses trabalhadores informais.
Como resultado, a Comlurb passou a recolher mais material na coleta seletiva, que hoje chega a 665 toneladas por mês, o que corresponde ainda a apenas 0,5% do total da coleta de lixo domiciliar. “Diminuiu muito o número de catadores nas ruas”, diz Penido.
“No caso do papelão, o valor caiu 80%. Passou a pagar pouco e não valia a pena para os catadores. O aumento de material reciclável na rua foi muito grande. Até isso a coleta seletiva enfrenta, porque é um sistema muito frágil”, conta o consultor ambiental Eduardo Bernhardt, da ONG Recicloteca.
Projeto-piloto no Leme
Segundo Bernhardt, o baixo índice de lixo reciclável no Rio se deve à pequena iniciativa do poder público e à falta de iniciativa da população.
“A gente tem coleta seletiva no Rio, ela atende alguns bairros, mas ela tem pouca estrutura. Então acaba não atendendo tão bem e a população que, quando quer fazer, às vezes não tem tanta informação, não separa direito. A pequena falha de um com a pequena falha de outro prejudica todo o programa”, diz.
Para mudar esse cenário, uma parceria da Secretaria estadual do Meio Ambiente, da Subprefeitura da Zona Sul e da Comlurb levará ao bairro do Leme um projeto-piloto de reciclagem e coleta seletiva.
Síndicos, comerciantes e moradores de comunidades carentes da região terão aulas sobre o tema, com apoio da Recicloteca. “A ideia é integrar tanto o catador de rua, como o caminhão da Comlurb, como os caminhões (de sucata) que ficam estacionados no Leme. E regularizar eles, que virariam microempresas. Você tem o particular e o público juntos. Um dando apoio para o outro”, explica Bernhardt.
A ONG Reviverde implanta coleta seletiva em condomínios e oferece oficinas de reciclagem a moradores e funcionários
(Foto: Divulgação/ONG Reviverde)
(Foto: Divulgação/ONG Reviverde)
Condomínio promove competição saudável
Iniciativas desvinculadas do poder público também dão fruto. Na Barra da Tijuca, Zona Oeste do Rio, o condomínio Alfa Plaza aderiu à onda da coleta seletiva há cerca de um ano.
Com a ajuda da ONG Reviverde, a síndica Bernadette de Lourdes Pereira reformou as lixeiras dos 22 andares, instalando uma cesta exclusiva para a coleta, e agendou palestras e oficinas com moradores e funcionários. Para incentivar ainda mais os condôminos, placas nos corredores indicam os andares que estão misturando ou separando corretamente o lixo.
“Existe até uma boa competição, de andar para andar, que um quer sempre melhor do que o outro”, conta Bernadette. “Isso estimula o funcionário, o morador e as domésticas a fazerem esse trabalho de separação da coleta seletiva”.
O dinheiro arrecadado com a venda dos recicláveis é distribuído entre os funcionários e usado para a compra de cestas básicas, sorteadas entre as domésticas que trabalham no edifício. A cada 15 dias, duas toneladas são encaminhadas para sucateiros.
“Nos últimos dez anos, já implantamos esse sistema em mais de 30 condomínios no Rio. No total, são cem toneladas por mês que deixam de ir para os lixões e são encaminhadas para reciclagem”, explica Regina Laginestra, presidente da ONG Reviverde.
Setor movimenta R$ 10 bilhões no país por ano Dados do Compromisso Empresarial para a Reciclagem (Cempre) mostram que a geração de lixo urbano no Brasil está em torno de 150 mil toneladas por dia e a reciclagem de lixo urbano gira em torno de 12%. O setor como um todo movimenta no país cerca de R$ 10 bilhões por ano.
A campanha do Instituto Akatu tem o objetivo de reduzir o desperdício de alimentos
(Foto: Divulgação/ Instituto Akatu)
(Foto: Divulgação/ Instituto Akatu)
Ainda segundo dados da entidade, a coleta seletiva, ponto de partida para a reciclagem, tem crescido nos últimos nove anos. Em 1994, 81 municípios faziam a coleta seletiva em escala significativa. Em 2004, este número avançou para 237 e, em 2008, alcançou 405, o que ainda corresponde a somente 7% do total de municípios no país.
Combate ao desperdício
Antes da coleta e da reciclagem, no entanto, o consultor ambiental Eduardo Bernhardt lembra, há etapas importantes para a redução de lixo no planeta: a redução e a reutilização de produtos.
O primeiro “R” prega o fim ao desperdício, mesmo mote da campanha do Instututo Akatu sobre o desperdício de alimentos: dados da entidade apontam que no Brasil aproximadamente um terço de todos os alimentos comprados em uma casa é desperdiçado.
“O segundo passo é o da reutilização. Embalagens de vidro são mais fáceis de serem reutilizadas, por exemplo. Fazendo esse segundo “R”, com o reduzir, pouca coisa sobra para a coleta coletiva”, explica.
Veja abaixo dicas para aderir à coleta seletiva
Como separar
Para a separação do material em casa, não é necessário separar cada tipo de resíduo. Basta ter em casa dois recipientes: um para o lixo úmido e rejeitos a serem recolhidos pela companhia de limpeza e outro recipiente para o reciclável a ser levado na coleta seletiva, como plástico, metal, vidro e papel. O importante é que o material esteja limpo e seco.
No caso de condomínios, escolas ou empresas, pode-se aumentar o número de recipientes destinados à coleta seletiva, identificando-os por cores e tipos de material.
Quem recebe
O material recolhido pela Comlurb é doado para cooperativas de catadores. A lista dos bairros atendidos pela coleta seletiva municipal está disponível no site da Comlurb, no link "coleta seletiva".
Condomínios e áreas não atendidas pela coleta seletiva devem procurar grupos de catadores, sucateiros, ferros-velhos, ou iniciativas comunitárias e de ONGs que coletem materiais recicláveis.
Para onde vai o lixo
Ao ser entregue aos catadores, o material separado é levado para um depósito, onde é feita uma triagem. Após serem separados por tipo de material, esses volumes são vendidos para os grandes sucateiros, que por sua vez vendem para as indústrias recicladoras.
Confira tudo clicando aqui.
Carlos Roberto de Oliveira é advogado estabelecido em Nova Iguaçu - RJ. A criação do Dando Pitacos foi a forma encontrada para entreter e discutir assuntos de interesse geral. |
Isso é o que diz a teoria, agora vamos à prática. Moro num edifício antigo, do tipo 4 andares, sem garagem etc. Meu edifício não tem lixeira e, sendo assim, uma pessoa recolhe o lixo 3 vezes na semana e o deixa na calçada do prédio para que o lixeiro o pegue. Recebemos um comunicado da COMLURB que a partir de uma determinada data iriam iniciar a coleta seletiva no meu bairro (Andaraí). Chegaram a distribuir sacos de lixo especiais para o Condomínio e estabeleceram que essa coleta seria em dias alternados ao da coleta normal.
ResponderExcluirEu que já defendia a idéia adorei. Fiz 3 latas de lixo para ensinar os meus filhos, que na época ainda eram pequenos, a lidarem com o lixo reciclavel.
O caminhão especial para coleta seletiva só passou umas duas vezes e os sacos de lixo reciclado ficavam na calçada durante dias sem serem recolhidos. Os mendigos aproveitavam e abriam os sacos para pegarem o que lhes interessava, deixando a maior sujeira na frente do prédio.
Resumo da ópera - acabou a coleta seletiva no prédio.
Então, quando se posta num jornal que apenas 3% da população faz coleta seletiva, devería-se ao menos dividir um pouco a culpa.
Na verdade, essa coleta seletiva deveria o padrão, o normal, com a adaptação dos caminhões da COMLURB.
O aproveitamento do lixo ainda é uma idéia de vanguarda para o poder público - uma sofisticação. Ainda levará alguns anos para perceberem que isso é uma necessidade.
O percentual referido no texto, 3% (três por cento), também se aplica às quase 250 miltoneladas de lixo que o Brasil produz DIARIAMENTE!!!
ResponderExcluirDe acordo com o IBGE, o país produz hoje cerca de 90 (noventa) milhões de toneladas de lixo por ano, o que corresponde ao dobro do lixo produzido há 15 (quinze) anos atrás, o que se deve ao aumento do poder aquisitivo e ao perfil de consumo da nossa população. Logo, quanto mais produtos industrializados forem sendo produzidos, mais lixo será gerado.
O problema tem solução, mas passa pela vontade dos políticos, dos administradores públicos. Aí, convenhamos, fica difícil...
O assunto abordado no texto é muito importante, de interesse geral da comunidade, e no meu entender, deveria ser discutido mais vezes pelo blog.
ResponderExcluirÉ preciso falar, falar e falar sobre o assunto. A população precisa se conscientizar, precisa ser educada, para que parta dela a iniciativa de solução do problema.
A esperar pelos políticos e administradores, como diz o Carlos Roberto, "convenhamos, fica difícil..."