07 fevereiro 2010

Crack: a epidemia da vez


"O crack, droga derivada da cocaína, está se tornando um flagelo nacional, espalhada pelo país em diferentes classes sociais e tomando até salas de aula, contam Catarina Alencastro e Odilon Rios em reportagem publicada pelo GLOBO neste domingo.


Em Maceió, a imagem dos santos despedaçados, num altar da escola estadual Benício Dantas, virou o símbolo da derrota dos professores na luta contra o tráfico de drogas. Invadida várias vezes, a escola já teve salas, pavilhões, corredores e banheiros destruídos e reconstruídos várias vezes. Há dois registros de tiroteio na escola, o ginásio de esportes virou uma cracolândia, e os alunos fumam maconha nas salas de aula. No turno da tarde, 25% dos estudantes desistiram de estudar na escola ano passado. Casos como esse são rotina em Maceió. Dados do Ministério Público Estadual indicam que 30% dos alunos das 120 escolas da rede pública estadual na capital alagoana, entre 10 e 20 anos, estão envolvidos com o tráfico ou viraram viciados.

Os dados oficiais mais recentes mostram que essa tragédia se repete em outras capitais e cidades brasileiras. O Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime (UNODC), em sua última publicação, revelou um aumento na circulação do crack no Brasil. Em 2002, 200 quilos da droga foram apreendidos. Em 2007 - último dado disponível - foram 578 quilos apreendidos. O montante equivale a 81,7% do crack apreendido na América do Sul.

Em todo o país, os serviços de atendimento a dependentes químicos relatam que mais e mais pessoas, independentemente da classe social, vêm nos últimos anos procurando ajuda para se livrar do vício do crack. A droga já é a segunda maior causa de procura por atendimento nos centros do SUS especializados em abuso de álcool e drogas, o CAPS-AD. Nesses locais, o crack só perde para a bebida.

- A rede de tratamento em algumas regiões foi surpreendida pelo aumento da procura pelo tratamento (do crack), principalmente nas grandes cidades - constata Pedro Gabriel Delgado, coordenador do Programa de Saúde Mental do Ministério da Saúde.

No Rio, o Programa de Estudos e Assistência ao Uso Indevido de Drogas (Projad), ligado ao Instituto de Psiquiatria da UFRJ, tem dados preliminares de um estudo ainda não publicado. Nele, constata-se que, em março de 2007, só 15% dos entrevistados haviam experimentado o crack. Em junho de 2008, esse percentual subiu para 25%. O número de pessoas que tinha usado a droga nos últimos 30 dias em março de 2007 não chegava a 1%; em junho de 2008, eram 10%. A prefeitura do Rio estima que pelo menos 800 pessoas em situação de risco (moradores de rua, principalmente) são viciadas em crack.

Em Salvador, de 2006 a 2009, 5.618 novos usuários passaram a ser atendidos pelo Programa de Redução de Danos da Universidade Federal da Bahia, um dos principais centros de estudos sobre o assunto. O alvo da pesquisa foi a população de rua e se refere só aos que aceitaram começar um processo para abandonar o vício. Para se ter uma ideia do problema, em 2006, só 26% dos novos usuários de drogas atendidos eram consumidores de crack. Em 2009, a proporção pulou para 34%; em 2008, chegou a 37,8%. Já uma pesquisa de amostra realizada com pacientes internados por dependência química, em 2006, em Porto Alegre, revelou que 43% estavam ali por conta do crack.

Um dos motivos do aumento do consumo da droga é que muitos usuários de cocaína injetável migraram para o crack, após o boom da epidemia de HIV que surpreendeu esse grupo, diz o professor Félix Henrique Kessler, vice-diretor do Centro de Pesquisa em álcool e drogas da Universidade Federal do Rio Grande do Sul.

- Quase todos os usuários de cocaina injetável migraram para o crack - diz.

Os dados oficiais mais recentes sobre o tema são de 2005 e dão conta de que pelo menos 380 mil brasileiros fumavam, regularmente, a pedra feita com o subproduto da cocaína. Para combater o problema, o Ministério da Saúde aposta em diversificar o tratamento. A abordagem de usuários nas ruas é uma das estratégias. A exemplo do que ocorre em Salvador, Rio e outras 12 capitais montarão consultórios de rua para atrair pacientes que resistem a procurar ajuda.

- Depois que se fica dependente de crack, é difícil sair. O melhor é não entrar nessa - alerta o professor Kessler".

Como se pode ver, o crack já uma epidemia, e o mais grave, uma epidemia que mata!!!

Não queria voltar ao assunto da menina Julia Lira, cujo desfile à frente da bateria da escola de samba Unidos do Viradouro está comprometido pela intervenção do Conselho Estadual de Defesa da Criança e do Adolescente que entende que a função é "sensual demais para uma criança", mas a comparação é inevitável.

Enquanto órgãos governamentais e autoridades se preocupam com questões dessa natureza, milhares de jovens que sequer conhecem o potencial lesivo do crack estão morrendo nos becos sujos e calçadas das cidades brasileiras, o que está retratado nas fotos chocantes disponibilizadas pelo portal do O Globo.

O que estão esperando as autoridades brasileiras para atacar o problema com a urgência e ações objetivas necessárias? O que espera o governo federal, que está gastando milhões de reais em propaganda política, para esclarecer a população sobre os riscos da doença? Onde estão os órgãos de saúde do governo do Estado e da prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro?


Fonte: O Globo



Sobre o Autor:
Carlos Roberto Carlos Roberto de Oliveira é advogado estabelecido em Nova Iguaçu - RJ. A criação do Dando Pitacos foi a forma encontrada para entreter e discutir assuntos de interesse geral.

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3 comentários:

  1. Esse assunto é muito mais sério do que possa parecer, principalmente para as autoridades, que se acostumaram a pôr tranca de ferro na porta arrombada.

    O título da postagem foi muito bem colocado, Carlos Roberto. O crack, com certeza, é "a epidemia da vez" e precisava ser encarado dessa forma pelas autoridades, mas isso só vai acontecer quando a tragédia atingir níveis insustentáveis. Por enquanto, o mais importante é a campanha eleitoral, o carnaval, o flamengo camepeão, e por aí vamos!

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  2. Concordo com a Lia. É preciso urgência e muita seriedade na luta contra o crack.

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  3. E aí, Carlos. Os dados por você evidenciados nesta matéria mostram que a situação é, de fato, mais do que grave, quase que fugindo ao controle. A omissão de nossas autoridades, que não deram, aparentemente, a importância que o assunto exigia e exige, certamente contribui, e muito, par auqe a situação chegasse a esse ponto. Não fizeram um trabalho de prevenção, agora vão ter que remediar. Se é que ainda é possível fazê-lo, espero que seja.

    O blog é excelente, heim. Meus sinceros parabéns.
    Grande abraço.

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