21 março 2012

Um esquema que existe desde os tempos de vovó menina

Bastou dar uma puxadinha no fio da meada revelado pela reportagem do Fantástico no último domingo (18/03) e já se descobre, entre outras coisas, que a Locanty Comércio e Serviços Ltda., uma das arapucas denunciadas por oferecer propinas para ganhar licitações na área da saúde, doou mais de R$ 1,4 milhão para quatro campanhas eleitorais de 2010. O PMDB recebeu R$ 1,3 milhão e os deputados estaduais Alcebíades Sabino (PSC) e Bebeto (PDT) embolsaram, cada um, R$ 50 mil. Até o candidato à presidência José Serra (PSDB) também recebeu sua merendinha de R$ 50 mil. Apesar do portal Transparência Brasil informar que a doação feita ao PMDB teve como destino a campanha de reeleição de Sérgio Cabral, o governador apressou-se em dizer que os recursos foram doados ao partido, que é quem deve explicar o destino da grana. Ele nunca sabe de nada!

Só este ano, a Locanty já recebeu mais de R$ 7 milhões das secretarias de Segurança, Casa Civil, Ciência e Tecnologia, Meio Ambiente, Transportes, Defensoria Pública e Tribunal de Justiça.

Aliás, a empresa presta serviços para a própria Superintendência da Polícia Federal do Rio, que é o órgão responsável por investigar a denúncia. Os contratos ultrapassaram o valor de R$ 1,2 milhão em dois anos. Desse total, R$ 629.200 em 2010 e R$ 590 mil em 2009. Os valores se referem à contratação de mão de obra para serviços de copa e cozinha e à limpeza interna e externa. Só este ano, a empresa já recebeu quase R$ 150 mil.

Em 2011, a Locanty recebeu dos cofres federais R$ 39,4 milhões, sendo R$ 33,1 milhões apenas para a contratação de mão de obra. Foi fornecedora, por exemplo, dos V Jogos Mundiais Militares, que reuniu no Rio de Janeiro atletas de 120 países. Entre as repartições federais, seu maior cliente foi o Instituto Nacional de Propriedade Industrial - INPI, de quem ela recebeu R$ 9 milhões. Segundo um de seus representantes, a empresa tem mais de 2.000 contratos, o que deixa antever a grana que se esvai pelo ralo da corrupção.

O esquema é o mesmo de sempre e existe desde os tempo de vovó menina. O pior é que todo mundo sabe disso, menos as autoridades. Aí, quando acontece uma denúncia, que normalmente é feita pela mídia, é um Deus nos acuda. O corre-corre é geral e beira o ridículo: vamos investigar, prender, demitir servidores, bloquear bens, cancelar contratos, suspender serviços e por aí a fora. Daqui a 20 dias ninguém mais fala no assunto e a roubalheira vai continuar solta, porque essa é a "ética do mercado", como disse a volumosa e cínica Renata Cavas, representante da Rufolo Serviços Técnicos e Industriais. No duro, no duro, é bandido corrompendo bandido. São todos são farinha do mesmo saco!


Fonte: O Globo



Sobre o Autor:
Carlos Roberto Carlos Roberto de Oliveira é advogado estabelecido em Nova Iguaçu - RJ. A criação do Dando Pitacos foi a forma encontrada para entreter e discutir assuntos de interesse geral.

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