02 agosto 2012

O racismo que se esconde nas redes sociais

É muito triste quando se percebe que a infâmia do racismo ainda está presente em todos os cantos do mundo, como aqui mostramos no caso da atleta Voula Papachristou, expulsa da delegação olímpica grega em razão de comentários racistas por ela postados no Twitter. Mas muito mais triste que isso é perceber que no Brasil, um país de intensa miscigenação, ainda existem pessoas dispostas a ferir um semelhante em razão de sua origem e tonalidade da pele, como se fossemos uma raça pura.

Foi o que aconteceu com a atleta Rafaela Silva, eliminada da competição de judô dos Jogos Olímpicos de Londres por ter aplicado um golpe considerado irregular pelos árbitros (uma catada de perna) na húngara Hedvig Karakas, a quem ela enfrentava pelas oitavas de final, depois de vencer seu primeiro combate. Chorando muito, Rafaela saiu do tatame e mais tarde reconheceu o erro.


A partir daí, muitos internautas começaram a ofende-la nas redes sociais, o que Rafaela respondeu com xingamentos pesados, chegando mesmo a bloquear sua conta no Twitter. O caso tomou uma proporção inesperada, o que a levou a pedir desculpas pelas mensagens agressivas, abrindo mão de qualquer discussão, até porque já estava bastante machucada pelo drama da desclassificação.

Mas o golpe mais duro viria a seguir. Recados racistas do tipo "lugar de macaca é na jaula" (tuitado por um usuário apelidado Urubu Palheta) e "vc não é melhor do que ninguém porque você é NEGRA" foram postados no Twitter, atitudes que Rafaela não conseguiu compreender e que a levaram às lágrimas na manhã de terça-feira (31/07), no Excel Centre, onde ela assistia às lutas de Leandro Guilheiro e Mariana Silva.




Autoridades, como o ministro do Esporte, Aldo Rebelo, chegaram a pensar em acionar a Polícia Federal para que o caso fosse investigado.

- Racismo é uma questão de Justiça. É uma indignidade onde não foi apenas a atleta que foi desrespeitada. É um desrespeito ao povo brasileiro. A Polícia Federal vai entrar no caso pois estamos falando de um ser humano que além de representar seu país recebe bolsa-atleta - disse o ministro, que relatou ter estado com a atleta na segunda-feira (30/07) logo depois da eliminação, estimulando-a a esquecer o incidente e se preparar para a disputa de medalhas nos Jogos Olímpicos de 2016, que vão se realizar na Cidade do Rio de Janeiro.

O Comitê Olímpico Brasileiro - COB, porém, divulgou comunicado repudiando o acontecimento e informando que Rafaela não pretende levar o caso adiante. Eis a nota:


"O Comitê Olímpico Brasileiro (COB), a Confederação Brasileira de Judô e a Missão Brasileira nos Jogos Olímpicos Londres 2012 repudiam qualquer manifestação de racismo, seja contra atletas, membros de delegações ou qualquer outra pessoa.

O Brasil é um país multirracial e não se deve admitir e tolerar, sob nenhuma hipótese, atitudes que estimulem qualquer tipo de segregação.

A Missão Brasileira em Londres, prestando auxilio jurídico a atleta, consultou o departamento jurídico do COB sobre as medidas legais que possam ser tomadas.

No entanto, a própria Rafaela Silva não pretende dar prosseguimento ao caso.

Atenciosamente,

COB - Relações com a Imprensa".


A judoca já tinha revelado à imprensa que não queria que o caso fosse investigado.

- Não gostaria que ficasse assim. Racismo nunca aconteceu comigo. Não sabia nem o que falar. Na hora, só desliguei o computador. Falaram essas coisas e também que minha família não teria orgulho de mim. Foi isso o que mais me ofendeu - disse ela.

Rosicleia Campos, técnica da seleção brasileira feminina de judô, defendeu a atleta:

- Não estou justificando a atitude da Rafaela, mas explicando o que aconteceu. Você vem de uma derrota dolorosa daquelas, em que até os árbitros tinham dado o wazari a favor dela, abre o computador para encontrar algum conforto de amigos e familiares e se depara com uma ofensa desse nível? Que país é esse em que a cor de pele justifica um ato dessa natureza? Animal é quem fez isso. Este sim é que deve ir para uma jaula - afirmou.

Você acha justo o tom das cobranças feitas a Rafaela? Por que a mesma atitude nunca foi tomada, por exemplo, em relação aos atletas das seleções de futebol, basquete e vôlei, isso para lembrar apenas algumas das modalidades esportivas mais importantes já derrotadas em inúmeras competições? Por que tanta revolta com uma jovem de apenas 20 anos que na primeira e mais importante competição de sua vida, talvez até por instinto ou reflexo, transgrediu uma regra esportiva? Será que as respostas estão em sua origem humilde e cor da pele? Deixe a sua opinião.





Sobre o Autor:
Carlos Roberto Carlos Roberto de Oliveira é advogado estabelecido em Nova Iguaçu - RJ. A criação do Dando Pitacos foi a forma encontrada para entreter e discutir assuntos de interesse geral.

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